— Posso entrar? — Paulo abriu a porta da sala de Soraya depois de algumas batidas. Ela levantou o olhar para o pai e sorriu.
— Você sempre pode.
— Passei para dizer que eu e sua mãe estamos indo embora, tudo bem? — Fechou a porta atrás de si e se direcionou até a cadeira de frente para Soraya.
— Tudo bem. — Olhou o horário na tela do notebook. — Eu vou logo também, mas antes preciso terminar isso. — Bateu os dedos sobre o caderno em cima da mesa, chamando atenção de Paulo.
— É para o desfile? — Girou o caderno para que pudesse ver o desenho.
— Sim. Esse é o primeiro.
— Está ótimo, Sô!
— Ainda não está, mas espero que fique. — Sorriu e voltou o caderno no lugar em que estava.
— Agora... posso fazer uma pergunta? — Se ajeitou na cadeira e cruzou os braços e a loira assentiu. — Se esse é o primeiro — apontou o caderno —, o que é esse vestido preto que você não desgruda? — Girou a cadeira de modo que ficou de frente para o manequim com o vestido quase finalizado.
— É... — Ela parou e olhou o vestido. Paulo girou a cadeira novamente e olhou-a com as sobrancelhas arqueadas. — Não é para a coleção, é para alguém.
— Cecí?
— Não... Simone.
— Simone? A médica?
— O que tem a médica? — Ana disse ao abrir a porta e adentrar o escritório. Se sentou sobre as pernas do marido e olhou para os dois esperando uma resposta.
— Aquele vestido é para Simone. — Paulo girou a cadeira novamente com a mulher em seu colo, logo voltando ao lugar.
— Como assim, Soraya? Explica isso. — Ana franziu o cenho e Soraya passou as mãos no rosto.
— Ela passou de médica a amiga. Mantemos contato depois de eu ter saído do hospital, nos falamos todos os dias, nos vemos às vezes. É isso.
— E qual é a do vestido? — perguntou de novo à filha.
— Tivemos uma conversa sobre isso ainda no hospital e... eu apenas quis fazer. — Encolheu os ombros.
— Ela está abreviando tudo. — Ana olhou para o marido que assentiu.
— Não vamos insistir.
Ambos levantaram da cadeira e deram a volta na mesa; Paulo beijou a testa da filha e em seguida Ana repetiu o ato.
— Se cuida. — Ana sorriu antes de fechar a porta.
Soraya encostou as costas na cadeira e olhou para o vestido. Faltava finalizar somente alguns pequenos detalhes. Estava ansiosa para poder entregá-lo, e mais ansiosa ainda para saber se Simone iria gostar.
Não tinha como não abreviar para os pais quando nem mesmo sabia classificar o que estava sentindo.
Dois dias se passaram desde o café da manhã que tomaram juntas; desde a despedida que causava frio na barriga em Soraya só por lembrar. Esse maldito frio na barriga e as memórias que insistiam em passar como um filme em sua cabeça estava a matando. Não conseguia distinguir o que era toda essa bagunça que eram os sentimentos que tinha ligados aos momentos que passara com a morena; se sentiu isso antes não estava lembrada e por isso jamais conseguiria relacionar a algo que já conhecia.
Desde a noite após dormirem juntas, seu corpo parecia dar falta de algo na hora em que se deitava na cama. O cheiro do cabelo e do perfume de Simone estavam grudados em seu lençol e em seu travesseiro, a fazendo entender do que estava sentindo falta.
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As Folhas do Outono - Simone e Soraya
Fiksi PenggemarNuma noite de outono, após sofrer um acidente, Soraya Thronicke, que carrega o nome um tanto quanto conhecido no mundo da moda em Nova York, fica sob os cuidados da médica Simone Tebet. Os cuidados tendem a se estender para fora do hospital, de uma...