III - Interrogatório

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No dia seguinte, o som do sinal anunciava o fim das aulas, trazendo um alívio palpável ao ambiente escolar. Olivia e Fernanda caminhavam pelo corredor movimentado em direção aos seus armários, cercadas pelo zumbido constante de conversas e risos. O cheiro de papel, livros e desinfetante misturava-se no ar, criando aquela atmosfera típica de fim de expediente escolar.

- Ainda bem que já acabou... Não aguentava mais ouvir a voz daqueles professores. E, aliás, vamos naquela sorveteria que a gente amava? - sugeriu Fernanda com um sorriso, tentando aliviar a tensão do dia.

Olivia suspirou profundamente enquanto pegava seus materiais. - Bem que eu queria, mas lembra que eu tenho que ficar na detenção?

Fernanda revirou os olhos, insatisfeita. - Ah, verdade. Acho isso desnecessário, nunca que você mataria sua irmã. Afinal, vocês eram tão próximas... bem, antes dela fazer aquilo - disse Fernanda, com um tom cuidadoso que trazia à tona memórias dolorosas para Olivia.

Olivia sentiu o peito apertar ao lembrar da traição de Chloe. - Pois é, aquilo sempre vem à minha mente, me proibindo de deixá-la ir - murmurou, a voz carregada de angústia.

- Você ainda não a perdoou, não é? - Fernanda perguntou, tentando entender os sentimentos da amiga.

- Não é que eu não perdoei - Olivia respondeu, olhando para o chão. - Afinal, não tem como odiar alguém que já morreu. Mas ainda fico mal em pensar que mais da metade da culpa do que ela fez não foi dela, e sim do babaca do Jonathan.

Fernanda assentiu com um semblante pensativo. - Sim... Bom, nos vemos depois então. Tenho que ir - disse Fernanda, dando um abraço de despedida em Olivia antes de se afastar.

Olivia observou a amiga partir, sentindo o peso de mais uma tarde na detenção. Caminhou lentamente em direção à sala de detenção, sentindo o silêncio crescer ao seu redor enquanto se distanciava do corredor agitado. Quando entrou, a sala estava silenciosa, exceto pelo som suave da respiração de Vicente, que dormia profundamente com o rosto escondido nos braços sobre a mesa.

Aproveitando o raro momento de tranquilidade, Olivia puxou a touca de seu casaco do uniforme e se sentou em uma das cadeiras, debruçando-se sobre a mesa, na tentativa de descansar um pouco.

Sua paz, no entanto, foi rapidamente interrompida pela voz rouca de Vicente.

- E aí? - disse ele, sem sequer levantar a cabeça.

Olivia ergueu os olhos, surpresa. - Achei que estivesse dormindo.

- Eu estava, mas você me acordou com o barulho da porta - respondeu Vicente, se ajeitando na cadeira.

- Eu até pediria desculpas se você não fosse tão insuportável assim - retrucou Olivia, tentando manter o tom leve. Vicente soltou uma risada curta.

- Tá rindo de quê? - ela perguntou, curiosa.

- Ah, é que vocês são engraçados.

- Vocês quem? - Olivia franziu a testa.

- A escola toda. Me julgam, me chamando de insuportável, como se vocês também não fossem medíocres e hipócritas - respondeu Vicente com um sorriso desafiador.

Olivia suspirou. - Parece até que tá drogado.

- E quem disse que eu não tô? - rebateu ele, com um brilho malicioso no olhar.

- Tá, eu finjo que acredito e você me deixa em paz, ok? - Olivia fechou os olhos, tentando relaxar, mas, antes que conseguisse, a porta se abriu novamente.

Sofia entrou na sala, lançando um olhar ao redor. - Só tem vocês aqui?

Olivia resistiu ao impulso de responder de forma sarcástica. Em vez disso, disse calmamente: - É, parece que sim.

𝐄𝐮 𝐬𝐞𝐢 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐜𝐞̂ 𝐭𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐦𝐨𝐭𝐢𝐯𝐨𝐬 - 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 1Onde histórias criam vida. Descubra agora