Capítulo 2: sinal

11 1 2
                                    

"Meu dia consiste em rastejar pelo chão e outro dia já se passa, voando pelo céu azul. Por quê? Por quê? Me liberte, sim, sabendo que não sairá do jeito que quero (sabendo), hm, me liberte (liberte-me), sim", Agust D, Interlude: Set me free.

🎃


Eu não aguentava mais o frio.

Eu não aguentava mais o meu cheiro.

Eu estava delirando e sabia ser de febre. A semana já deveria ter passado. Aqui simplesmente não entra luz nenhuma. Eles me davam comida e água uma vez por dia.

Eu não aguentava mais. Nem mesmo Jack parecia suportar, ele estava calado e eu estava me sentindo totalmente solitário.

Eu ouço novamente o barulho de uma pedrinha na minha parede, meu colega de cela fazia isso todos os dias. Depois da noite em que eu colapsei chorando e gritando, no outro dia ele jogou pedrinhas na parede, talvez para eu não me sentir tão solitário, talvez para ele não se sentir tão solitário. Mas hoje eu não tava no clima, hoje eu estou morrendo. Por isso ignorei a sétima pedrinha que ele jogou e encostei minha cabeça entre minhas pernas.

- Você está vivo? - eu ouço sua voz pela primeira vez em dias. Ah, então é por isso que ele joga as pedrinhas.

Tento responder, mas minhas cordas vocais estão sem uso, e a dor que sinto em minha garganta pela gripe que me acometeu não me deixou falar.

- Puta merda! Espero que não tenha morrido aí dentro. Sabe, já morreram aqui e eles só acharam o corpo depois de uma semana. Eles realmente não se importam.

Eu concordo com ele.

Mas não queria morrer aqui dentro, imagina que situação você ter seu corpo encontrado num lugar como esse? Ao redor de merda, vômito e mijo? Deus, não me deixe morrer aqui.

- Eu só tô te falando isso porque eu acho que seria um puta incentivo para você  permanecer vivo.

Não entendo onde ele quer chegar.

- Dizem que espíritos podem ficar presos nos lugares em que morrem se não estavam prontos para morrer ou se morrerem injustamente. E aposto que você consideraria morrer desse jeito injusto para caralho.

Ele fala muito palavrão, mas ele é legal e eu concordo com sua linha de pensamento.

- Eu consideraria - ele continua -, tudo isso aqui é injusto para caralho - eu suspiro -, por favor me dê um sinal que você tá vivo, por favor. Não esteja morto, por favor.

Eu não entendo porque sua súplica faz meu coração doer.

É porque já faz muito tempo que ninguém se importa se você está vivo ou morto.

Jack se pronuncia, e eu concordo com ele.

Me esforço tremendo pela febre e arrasto minha mão pelo chão com cuidado, para não encostar em qualquer excrementos que pudessem ter por aqui e quando acho uma pedra bem pequena eu a jogo na parede atrás de mim, onde escuto meu colega dar socos. Jesus, ele era insistente.

Se eu estivesse morto, ele me faria voltar dos mortos, só pela insistência e teimosia, isso ficou bem claro na minha mente confusa.

Haegeum Onde histórias criam vida. Descubra agora