Capítulo Um

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Taylor puxou o vestido pela terceira vez naquela noite, sentindo-se sufocada pelos intermináveis pedaços de pano que Abigail insistiu em lhe emprestar. Cada um deles parecia pesar mais do que seu desconforto, como se o tamanho exagerado quisesse engoli-la, sufocá-la. Ela mal conseguia se concentrar em outra coisa enquanto seus olhos se voltavam para o salão principal do palácio, já lotado. Os sorrisos radiantes, as risadas altas, os flashes intermináveis das câmeras – tudo contribuía para o espetáculo forçado que ela desprezava com todo o seu ser. Ela não entendia como tantas pessoas podiam fingir tanta felicidade em um lugar tão frio, tão distante do que realmente importava.

As taças de champanhe se erguiam em um brinde à primeira neta da coroa, a filha do príncipe herdeiro Jason e da princesa Kylie. Era o orgulho de todo o reino, uma promessa de continuidade, de herança, de poder... Mas para Taylor, observando tudo à distância, escondida ao lado de uma pilastra, aquilo não passava de uma encenação elaborada. Um teatro cuidadosamente ensaiado.

— Pelo amor de Deus, Abby, me lembra por que eu deixei você me arrastar até aqui mesmo? — ela sussurrou, inclinando-se para perto da amiga, sua voz carregada de tédio e irritação.

— Porque eu sou sua melhor amiga e você me ama? — Abigail respondeu com um sorriso travesso, seus olhos brilhando ao varrer o salão em busca de alguém interessante, como se o baile fosse um catálogo de príncipes e lordes esperando por ela.

A mulher loira revirou os olhos. O brilho excessivo das jóias, o ambiente opressor e a exaltação exagerada da monarquia faziam com que ela quisesse desaparecer. Cada gesto que ela via, cada palavra que ouvia soava como uma mentira disfarçada de cortesia. Tudo era ensaiado, artificial. A realeza, com suas regras impecáveis, suas posturas perfeitas e suas expressões calculadas, era o oposto de tudo o que Taylor valorizava. Ela odiava o controle, a aparência, a superficialidade. E estar ali, no meio de uma comemoração por uma criança que nunca precisaria se preocupar com nada na vida, só fazia sua revolta ferver ainda mais.

Não havia nada de verdadeiro naquele lugar, e a falsidade parecia queimar dentro dela.

— Sério, a única razão pra eu não sair correndo daqui agora é porque... — ela desviou o olhar para a mesa de comida e ergueu uma sobrancelha. — A comida de graça é boa demais pra deixar passar.

— Ah, não seja tão amarga! — Abby respondeu, ignorando o desconforto da amiga com a leveza de quem não estava preocupada com nada além de suas próprias fantasias. — Você pode muito bem encontrar alguém interessante. Quem sabe até um duque charmoso e cheio da grana?

A outra mulher soltou um suspiro exasperado, sentindo a raiva borbulhar por baixo de sua pele. A visão da ruiva, com os olhos cheios de esperança, fazia com que algo dentro dela doesse. Como sua amiga não via o que estava diante delas? A vida de realeza não era um conto de fadas. Era um labirinto sufocante de expectativas e mentiras. E ela jamais queria fazer parte disso.

— Eu não quero dinheiro e nem um título, Abigail — Taylor disse com uma pontada de irritação na voz, pegando uma taça de champanhe que um garçom oferecia. — Só quero alguém que queira a minha companhia. Alguém que não me veja como um acessório ou uma peça num tabuleiro de poder.

Ela deu um gole, sentindo a bebida amarga deslizar pela garganta, o gosto tão distante do alívio que ela realmente queria.

Abby sorriu, mas Taylor sentia que a mulher não compreendia a profundidade de suas palavras. Para sua amiga, o baile era uma fantasia, uma chance de se sentir parte de algo grandioso. Ela odiava tudo aquilo e, acima de tudo, odiava como aquele lugar fazia com que ela se sentisse tão deslocada.

Ela respirou fundo, como se o simples ato de encher os pulmões pudesse aliviar a pressão crescente em sua cabeça. A música, inicialmente apenas um som de fundo, agora parecia uma cacofonia insuportável que martelava sua mente, transformando cada acorde em uma dor pulsante.

American Stories (Tayvis)Onde histórias criam vida. Descubra agora