Capítulo Dois

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Travis ainda segurava a mão da desconhecida quando finalmente chegaram ao seu refúgio particular no palácio — um lugar que ele costumava usar para escapar dos olhos vigilantes de seus pais e da constante pressão que a coroa lhe impunha. O espaço era simples, longe dos salões ornamentados e frios do castelo, um lugar onde ele podia, por alguns instantes, ser apenas ele e não o Príncipe de um reino que ele nunca quis liderar.

Os dois pararam de correr, ambos ofegantes, os corpos ainda molhados pela água gelada do lago e o coração batendo rápido pela adrenalina. O homem olhou por sobre o ombro, checando a porta, como se esperasse que Kelly Everdeen e seu fotógrafo insistente surgissem a qualquer momento, mas o silêncio no corredor sugeria que eles estavam finalmente seguros, pelo menos por enquanto.

Quando ele finalmente virou o olhar para a mulher, o ar entre eles parecia denso, uma mistura de cansaço e uma estranha tensão não resolvida. A luz suave do quarto caía sobre ela, iluminando seus traços de uma forma que ele ainda não tinha notado no jardim escuro. Apesar da maquiagem borrada e do cabelo desgrenhado pelo mergulho no lago, ela era... bonita. Não do jeito que ele estava acostumado a ver em revistas ou bailes, mas de uma forma genuína, crua, quase real demais para o mundo em que ele vivia.

Os cabelos loiros dela, agora caindo em cachos desordenados, escorriam pelas costas molhadas, e seus olhos, de um azul elétrico, brilhavam intensamente, mesmo cansados e um pouco irritados. Algo na expressão dela o intrigava — talvez fosse a mistura de frustração e humor, como se ela estivesse apenas começando a absorver o absurdo da situação. Ele se pegou notando esses pequenos detalhes, o jeito como ela mordia o lábio de leve, provavelmente sem perceber, como se tentasse segurar alguma provocação ou ironia que estivesse prestes a sair.

Ele percebeu que ainda estava com a mão dela na sua e, num gesto quase automático, a soltou.

Travis tentou afastar a sensação estranha que o tomou, aquela que lhe dava a impressão de estar sendo puxado para algo desconhecido. Mas seu olhar voltou para ela, inevitavelmente, e ele notou o quão desconfortável ela estava, cruzando os braços como se quisesse se esconder.

Ele sabia que já estava encrencado. As fotos que Kelly e o fotógrafo tinham tirado dele e da mulher no lago não eram algo que se resolveria facilmente. Ele tinha plena consciência de que, em poucas horas, seu nome estaria estampado nas manchetes mais sensacionalistas do reino, e qualquer desculpa que tentasse dar não impediria o estrago. Mas, se fossem flagrados ali, sozinhos e molhados, em um dos cômodos mais privados do palácio, a situação só pioraria.

O pensamento fez com que seu peito apertasse por um momento. Ele tentou afastar a preocupação, mas a verdade era que, não importava o quanto tentasse se esconder, os olhos da mídia sempre acabavam encontrando uma maneira de expor sua vida. E agora, por um acidente estúpido, ele estava prestes a se tornar o centro das atenções novamente.

Ele respirou fundo, sabendo que precisava resolver tudo antes que ficasse ainda pior.

— Pelo menos nos livramos dos paparazzi por enquanto — ele soltou um riso curto, sem muito humor.

Aquela situação estava muito longe do que o príncipe esperava para a noite. Agora, com uma mulher encharcada e desconhecida bem na frente dele, dentro de seu refúgio, ele mal sabia como reagir. O silêncio pesado entre eles foi interrompido apenas pelo som de suas respirações ofegantes, enquanto ambos tentavam recuperar o fôlego da correria e do choque. Ela o olhou de volta, os olhos ligeiramente estreitos, o corpo tenso como se estivesse avaliando cada mínimo detalhe.

E então veio a pergunta:

— Quem é você? — A voz dela cortou o ar. Havia uma desconfiança ali, uma frustração crescente. — Aquelas pessoas... eles não estavam atrás de mim.

American Stories (Tayvis)Onde histórias criam vida. Descubra agora