Eu lembro bem de como era quando eu era pequena. Minha mãe sempre foi muito controladora, parecia que ela queria moldar cada parte da minha vida. Ela escolhia tudo: meus horários, as roupas que eu usava, com quem eu podia sair e, claro, as amizades. Não tinha brecha. No começo, eu até tentava seguir as regras mas, conforme fui crescendo, comecei a sentir que aquilo tudo era uma prisão.
Foi então que vieram as mentiras. Começaram pequenas, sabe? Tipo, dizer que ia na casa de uma amiga para fazer trabalho de escola, mas na verdade era só pra ficar longe dela e daquele lugar tão sufocante. As escapadas começaram a virar rotina, eu fugia para as festas, escondia que tinha namorado, e até o dia que perdi a virgindade... ela nunca soube, nem desconfia até hoje. Não dava pra confiar nela, entende? Não tinha espaço para diálogo, para confiar meus sentimentos a alguém assim.
Eu sempre achava que se eu contasse qualquer coisa, viria julgamento, sermão ou pior, uma nova regra para me sufocar ainda mais. Ela sempre me passou a imagem de que o mundo era perigoso e que só ela sabia o que era certo. Mas ao invés de me proteger, tudo isso só fez com que eu quisesse me esconder mais.
E assim, fui me tornando uma ótima mentirosa. Cada vez que eu conseguia enganar, era como se eu estivesse ganhando um pedaço da minha liberdade de volta. E essa vida entre fingir e ser eu de verdade virou rotina. Na frente dela eu sou uma pessoa, por dentro eu sou outra completamente diferente. Ela me vê como a filha perfeita, comportada, que segue as regras. Mas no fundo, eu sei que não sou nada daquilo.
Tudo o que passei foi me afastando dela. Eu nunca tive confiança meus segredos, meus medos. E talvez de alguma forma, esse controle todo tenha feito de mim uma pessoa que sabe esconder quem realmente é.
Então, quando me perguntam por que eu sou assim tão diferente quando estou com ela, a resposta é simples, eu fui forçada a ser assim. Cada mentira, cada segredo, foi uma maneira de sobreviver àquela pressão.
— Isso é bom desabafar, Maya. Você tem ido bem em nossas sessões — diz a psicóloga, com um tom suave enquanto anota algo em seu bloquinho, mantendo o olhar atento em mim.
Eu respiro fundo, tentando digerir tuudo o que acabei de dizer. Falar isso em voz alta era diferente de só pensar, parecia mais real.
— É que... sei lá... Às vezes sinto que eu sou duas pessoas completamente diferentes — admito, mexendo nos dedos meio inquieta. — Quando estou com a minha mãe, é como se eu colocasse uma máscara. Mas quando estou longe, quando estou com meus amigos ou sozinha, sinto que sou eu de verdade.
Ela me observa com paciência, deixando um espaço para que eu continue. O silêncio dela, ao contrário do que eu costumo sentir com minha mãe, é confortante.
— E isso cansa... Muito! — continuo, soltando o ar com força. — Fico tentando ser a filha perfeita, escondendo quem eu realmente sou. O problema é que às vezes eu mesma não sei mais quem sou de verdade. Estou sempre mentindo, sempre inventando, e é como se eu tivesse me perdido nessas versões de mim.
A psicóloga faz uma pequena anotação e me olha nos olhos.
— E você sente que essa versão que você "esconde", quando está longe da sua mãe, é quem você realmente é? — pergunta ela, com a voz calma, mas firme, me incentivando a pensar mais a fundo.
Fico em silêncio por um momento, pensando.
— Eu... eu acho que sim. Mas ao mesmo tempo... não sei. É como se eu tivesse me tornado boa demais em criar essas "versões". Eu minto tanto que às vezes, até para mim mesma. E aí fico sem saber o que é verdade. — sinto meu peito apertar com essa afirmação, começo a mexer em meus dedos novamente.
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Meu Mafioso Favorito
FanfictionMaya é uma jovem adulta que vive um intenso conflito com sua mãe. Em sua busca para superar essa situação, ela acaba conhecendo alguém extremamente poderoso. Mas será que essa pessoa será mais um problema em sua vida, ou a solução que ela tanto proc...