VERÔNICA
Olhei para o Gárgula, incerta. Não podia simplesmente ir embora sem a Cristina. Mesmo que ela não facilitasse em nada, eu não conseguiria me perdoar se algo acontecesse com ela.
— Eu não posso ir sem a Cristina — falei, tentando manter minha voz firme, mas com o nervosismo evidente.
Ele me encarou com uma expressão calma, como se já soubesse que eu diria isso. Passou a mão pelos cabelos curtos e me lançou um meio sorriso.
— Tubarão vai cuidar bem dela. Não precisa se preocupar.
Havia uma certeza na voz dele que me fez questionar se eu estava exagerando, mas, ao mesmo tempo, o que sabia eu sobre aquele tal de Tubarão?
Olhei para o meu celular morto na minha mão. Estava sem opções. Suspirei, vencida.
— Tá bom — respondi, quase como um sussurro.
Gárgula assentiu e, sem dizer mais nada, começou a caminhar em direção a uma moto estacionada um pouco mais afastada da confusão da festa. Meus olhos se arregalaram ao ver a moto, uma máquina grande e preta, brilhando sob as luzes difusas da rua.
— Vem — ele falou, gesticulando para mim com a cabeça.
Eu fiquei ali parada por um segundo, tentando absorver a ideia. Nunca tinha andado de moto antes. O simples pensamento de subir naquela coisa fazia meu coração acelerar de medo. Mas Gárgula parecia tranquilo, e talvez, só talvez, isso me desse um pouco de confiança. Caminhei até ele, e ele subiu na moto com uma agilidade impressionante, deixando-a pronta para mim.
— Você tá com medo? — ele perguntou, com um olhar divertido enquanto observava minha hesitação.
Eu assenti levemente, sentindo meu corpo inteiro ficar rígido. A ideia de subir naquela moto, algo tão fora da minha zona de conforto, me paralisava. Não era só o medo da moto em si, mas também da situação como um todo. Eu estava entrando em um território desconhecido, tanto literal quanto figurativamente.
Gárgula me olhou por mais um segundo, antes de abrir um sorriso torto, que parecia brincar com o meu nervosismo.
— Relaxa, vai dar tudo certo, sou um ótimo piloto… Até hoje nunca matei ninguém no trânsito, só de tiro e facada.
Meu coração deu um salto no peito. Eu arregalei os olhos, o estômago se apertando ainda mais. Como assim, “só de tiro e facada”?
— Isso era para me deixar mais calma? — perguntei, a voz saindo um pouco mais aguda do que eu pretendia, claramente não achando graça na tentativa dele de brincar com um assunto tão sério.
Ele soltou uma gargalhada, genuinamente se divertindo com minha reação.
— Só tô tirando uma com a tua cara — respondeu, ainda rindo.
Eu não consegui relaxar, mas ver que ele estava brincando, de certa forma, quebrou o gelo. Ele esticou a mão para mim, e, por um segundo, hesitei antes de pegá-la. Seu toque era firme e seguro, e isso me fez confiar um pouco mais. Com a ajuda dele, subi na moto, tentando encontrar uma posição confortável, mesmo que cada célula do meu corpo gritasse para não fazer isso.
Assim que me sentei, minhas mãos automaticamente buscaram os ombros dele, agarrando com mais força do que o necessário. Senti os músculos dele se contraírem sob meu toque, mas ele não reclamou. Era como se minha insegurança e medo fossem óbvios para ele, mas ao invés de fazer piada, ele ficou quieto, apenas esperando que eu me acomodasse.
Eu respirava fundo, o vento já começava a soprar em meu rosto antes mesmo de partirmos, e meu coração batia em um ritmo descompassado. Estava completamente fora do meu conforto, e tudo que eu conseguia pensar era na possibilidade de cairmos, de algo dar errado, de eu me machucar... Mas, ao mesmo tempo, havia algo sobre estar ali com ele que me dava um fio de segurança.