Capítulo 5

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VERÔNICA

Amarraram meus pulsos com força, a corda cortando a pele e deixando uma sensação de ardência insuportável. Antes que eu pudesse reagir, fui puxada com brutalidade e jogada no que parecia ser o porta-malas de um carro. Meu corpo bateu com força contra o metal frio, e o impacto fez com que o ar fugisse dos meus pulmões em um gemido de dor. O barulho do porta-malas se fechando ecoou pela minha mente como um tiro, abafando ainda mais o pouco ar que eu conseguia respirar.

A escuridão ali dentro era sufocante, quase palpável, e o espaço apertado me fazia sentir como se o mundo estivesse se fechando ao meu redor. Cada movimento que eu tentava fazer, cada contorção do meu corpo, parecia inútil. A dor nos meus braços e pernas, ainda latejando pelo jeito violento que me puxaram, fazia com que cada segundo ali se tornasse uma tortura.

O carro deu partida, e fui jogada para trás, sentindo meu corpo ser empurrado contra as laterais estreitas. O motor roncava alto, vibrando no espaço confinado, e a cada curva, eu era lançada de um lado para o outro, sem qualquer controle sobre meus movimentos. O saco na minha cabeça me deixava desorientada, limitando minha visão e tornando a escuridão ainda mais opressiva. O cheiro forte do tecido velho e úmido invadia minhas narinas, misturado ao odor metálico do porta-malas, fazendo meu estômago revirar.

Meu coração parecia querer explodir dentro do peito, batendo descompassado e doloroso. A cada sacolejo, a cada freada brusca, o pânico se espalhava por cada parte do meu corpo, deixando minhas mãos e pés dormentes, minha mente em branco. Eu tentava desesperadamente respirar devagar, mas o ar parecia fugir dos meus pulmões, como se estivesse sendo sugado para fora daquele espaço minúsculo e claustrofóbico.

“Será que vão me matar?” A pergunta ecoava na minha cabeça, repetidamente, cada vez mais alto, quase sobrepondo-se ao som do motor. As possibilidades horríveis se desenrolavam na minha mente, uma após a outra, como cenas de um filme de terror. Eu imaginava corpos jogados em matagais, abandonados sem vida, e me via ali, como mais uma vítima esquecida, perdida em um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.

Meus olhos ardiam por trás do saco, as lágrimas silenciosas escorrendo pelo meu rosto, molhando o tecido. Tudo que eu queria era sair dali, acordar desse pesadelo que parecia cada vez mais real. A dor nos meus pulsos amarrados era insuportável, e eu sabia que, se continuasse me debatendo, só pioraria. Mas a vontade de lutar era instintiva, quase irracional. Eu não queria morrer.

Depois do que pareceram horas intermináveis, o carro finalmente parou. Senti o motor ser desligado, e o silêncio que se seguiu foi ainda mais assustador. Meus ouvidos, acostumados com o ronco alto e constante, pareciam incapazes de processar o que estava acontecendo lá fora. Ouvi o som das portas se abrindo e fechando, o estalo seco dos passos se aproximando. Vozes abafadas conversavam do lado de fora, e eu só conseguia imaginar o que eles estavam planejando.

Meu coração disparou ainda mais, se é que isso era possível. A boca estava seca, a garganta apertada. Eu queria gritar, mas a voz parecia presa, esmagada pelo medo. O que eles iam fazer comigo?

Os segundos seguintes foram uma confusão de sons e movimentos rápidos. O porta-malas foi aberto com brutalidade, e a luz que entrou, mesmo fraca, fez meus olhos arderem. Antes que eu pudesse reagir, senti mãos ásperas me agarrando, os dedos se cravando na minha pele com força, e fui puxada para fora como se não fosse nada mais do que um saco de lixo.

— Levanta! — Uma voz áspera ordenou, e um chute no meu lado fez com que meu corpo obedecesse antes que eu pudesse sequer pensar.

Minhas pernas estavam trêmulas, e quase cedi ao peso do meu próprio corpo, mas as mãos que me seguravam não deixaram que eu caísse. Fui empurrada para frente, o chão irregular de terra e folhas secas sob meus pés. Eu tropeçava, tentando acompanhar o ritmo dos passos firmes que me guiavam, a cabeça latejando de dor e medo.

— Ajoelha! — a mesma voz gritou, e antes que eu pudesse processar, fui forçada a cair de joelhos, a dor lancinante subindo pelas minhas pernas.

O saco na cabeça não permitia que eu visse nada, mas pelo som dos galhos quebrando sob os pés e o cheiro de mato, estávamos em algum tipo de matagal, longe de qualquer coisa que pudesse significar ajuda. O medo me sufocava, e eu só conseguia pensar que, ali, ninguém jamais encontraria meu corpo.

— Quem é o teu contato? — uma voz grave perguntou, próxima demais do meu ouvido, o bafo quente fazendo minha pele arrepiar.

— Eu... eu não sei do que vocês estão falando... — minha voz saiu trêmula, mais fraca do que eu gostaria, o pavor evidente em cada palavra.

— Não mente, porra! — gritou outro, e antes que eu pudesse reagir, senti uma pancada na lateral da cabeça.

O mundo girou por um instante, e tudo se tornou um borrão de dor e escuridão.

Tentei falar, mas minha boca estava seca, a garganta fechada pelo pânico. Eu não sabia do que eles estavam falando, não tinha ideia de quem eram, mas tudo em mim gritava que eles não acreditariam nisso.

— Por favor... — implorei, minha voz falhando. — Eu não sei de nada... Eu juro...

Outro golpe, dessa vez no estômago. Meu corpo dobrou-se com o impacto, a dor explodindo como uma onda, me deixando sem ar. Senti um gosto amargo subir pela garganta, e tudo que eu conseguia pensar era que aquilo era o fim.

— Acha que a gente é otário? Quem tá te passando as informações? — a voz grave insistiu, agora com um tom de fúria que fazia meu coração bater mais forte, se isso ainda fosse possível.

Eu queria gritar que não sabia de nada, que não tinha feito nada, mas as palavras se misturavam em um turbilhão de medo e dor. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu sentia que ia desmaiar.

Então, do nada, uma nova voz se fez ouvir. Uma voz familiar.

— Trouxeram a vagabunda?

A presença dele, a autoridade na voz, mudou tudo. Senti o saco sendo puxado de uma vez só, a luz do sol queimando meus olhos, cegando-me temporariamente. Pisquei, tentando focar, e lá estava ele.

— Verônica? — Gárgula me olhava com uma mistura de surpresa e preocupação, os olhos escuros analisando cada detalhe do meu estado.

Eu queria dizer algo, mas as palavras estavam presas na minha garganta. A dor e o alívio se misturavam, confusos e intensos. As mãos dele, firmes e quentes, me ergueram com cuidado, como se ele tivesse medo de me machucar ainda mais. O mundo ao meu redor girava, e tudo que eu conseguia fazer era me apoiar nele, tentando entender o que estava acontecendo, enquanto a dor e o medo ainda pulsavam em cada parte do meu corpo.

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A RUÍNA DE UM TRAFICANTEOnde histórias criam vida. Descubra agora