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Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei".

Romanos 12:19

O eco baixo e concentrado do frequencímetro mantinha Anippe com a atenção fixa na tela, analisando cada uma das oscilações midiáticas que acompanhava os batimentos cardíacos de seu irmão, que jazia em coma há mais tempo do que o previsto pelos méd...

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O eco baixo e concentrado do frequencímetro mantinha Anippe com a atenção fixa na tela, analisando cada uma das oscilações midiáticas que acompanhava os batimentos cardíacos de seu irmão, que jazia em coma há mais tempo do que o previsto pelos médicos que acompanharam o caso.

Cada bip era um lembrete cruel das imagens de seu irmão mutilado, inconsciente e jogado como lixo na costa mexicana, em uma das praias ao oeste de Culiacan.

A memória turbulenta incendiava uma chama de raiva dentro dela e se intensificava cada vez que ela se lembrava de que estava tendo que lidar com um inimigo invisível ao qual ela sequer conseguia saber se, de fato, existe.

Ela fechou os olhos e deixou um suspiro escapar da boca enquanto passava ambas as mãos no rosto, parando-as na parte de cima do cabelo negro como ébano, que jazia solto e caído como uma cascada em seus ombros. Seus pensamentos eram um redemoinho de desespero e vingança, ao mesmo tempo em que ela sentia o peso de cada fio de cabelo, como se carregasse o mundo nas costas.

Havia negado todas as sugestões de Pablo e Constance em deixar o posto de guarda de Alejandro para descansar. Afinal, se eles estavam sendo atacados por um inimigo oculto, a única pessoa em quem ela poderia confiar cegamente era em si mesma e nem o cansaço extremo a faria desistir de proteger seu irmão.

De longe, pôde escutar passos vindo em sua direção e, assim que voltou a abrir os olhos, se deparou com um moreno parado à sua frente, direcionando-lhe um coffee bucks. Não pensou duas vezes em pegar e, quando sentiu o aroma do café, um pequeno conforto emergiu no meio do caos.

— Como estás? — questionou Pablo, sentando-se ao lado dela.

— Já estive melhor — em seguida tratou de dar um gole na bebida quente, sentindo os efeitos imediatos da cafeína.

— Imaginei.

Anippe voltou os olhos para Alejandro, sua ansiedade e medo eram visíveis.

— Nenhum sinal ainda? — indagou Pablo.

Anippe suspirou novamente, deixando o campo de visão onde jazia seu irmão para cair sobre o homem ao seu lado.

— Não.

Pablo olhava para a morena com preocupação. Não duvidava da força que ela tinha, eram amigos há mais tempo do que ele poderia lembrar e sabia que ela era determinada mais do que qualquer outra pessoa que ele já conheceu, mas estava visível no semblante cansado o quanto ela precisava soltar o peso que levava nas costas. A luta dela em ficar acordada por mais de uma semana já estava começando a deixá-la à beira do colapso.

— Você sabe que concordo com sua mãe. — Foi afirmativo enquanto via ela receber o comentário com sarcasmo e incômodo. — Não é como se eu quisesse impor algo a você. É só que é visível o quanto você está sobrecarregada por um fardo que sabe não precisar carregar so...

— Eu sei, ok? — disse, se levantando abruptamente. O sangue fervia em suas veias. — Tudo o que eu não preciso agora é de sermão com relação a uma situação que Constance e você parecem levar como se fosse mais um dia normal.

— Não tratamos a situação dessa forma, Anippe. — reiterou, se levantando também. — Apenas concordamos que, cansada da forma que está, você não conseguirá o que deseja.

Anippe massageava a testa com uma das mãos enquanto a outra estava na cintura. Estava nervosa. Ela detestava ser contrariada ou que as pessoas dissessem algo que ela já sabia, mas não aceitava.

Pablo se aproximou mais, a tensão entre os dois era quase palpável. Ele depositou a mão livre no ombro dela para virá-la para si e, quando o fez, pegou o copo da mão dela e depositou junto do seu na mesa ao lado dos assentos onde estavam. Quando voltou para ela, elevou uma das mãos em direção ao rosto de Anippe, forçando levemente ela a olhá-lo nos olhos ao mesmo tempo em que seu polegar massageava a pele oliva e macia perigosamente ao canto dos lábios que ele conhecia tão bem.

— Me escuta, corazón. — respondeu com calma.

Anippe olhou para a janela do quarto, tentando disfarçar as lágrimas que queriam ser soltas. Seus punhos estavam fechados e tremiam ligeiramente, tamanha era a raiva que ela guardava dentro de si com relação ao que fizeram com seu irmão mais novo. Ela respirou fundo, sentindo o ar fresco entrar em seus pulmões, mas isso não diminuiu a aflição que a consumia.

— Anippe, você não está sozinha nisso. — informou ele, com a voz baixa, mas firme. — Vamos encontrar quem fez isso. Juntos.

Ela sabia que Pablo estava certo, mas o peso da responsabilidade ainda parecia insuportável.

— Eu sei, eu sei. — sussurrou, a voz quebrando sob a pressão de tantas emoções. — Mas a cada momento que se passa sem respostas... é como se eu estivesse perdendo tempo e... um pedaço de mim mesma. — dizia enquanto voltava seus olhos castanhos em direção de Alejandro.

Pablo retirou sua mão do rosto dela e desceu em direção às suas mãos, apertando levemente, como se oferecesse um suporte silencioso, mas poderoso. Tão logo, o moreno a envolveu em um abraço aconchegante, fazendo-a sentir a segurança momentânea que ele lhe proporciona. Quando se afastou, notou uma pasta preta sobre a mesa onde Pablo havia deixado os copos de café.

— O que é isso? — perguntou, franzindo a testa.

Pablo hesitou por um momento, olhando nos olhos de Anippe antes de responder.

— Constance resolveu agir. — disse, com uma seriedade que fez Anippe prender a respiração. — Nós descobrimos que um membro da máfia italiana estava realizando um transporte ilegal nas frotas pertencentes à sua família. Interceptamos o cara como suspeito.

Anippe sentiu o coração acelerar. Aquilo poderia ser a pista de que precisava. Ela se inclinou para pegar a pasta, abrindo-a. Dentro, havia documentos e fotos. Imagens de um homem que parecia ser mais novo que seu irmão, mas ela não poderia ter certeza, pois metade do rosto estava coberto por sombras. Os documentos continham detalhes de transações e rotas de transporte para algo que parecia grande.

— Como conseguiram isso?

— Contatos. — Pablo respondeu, sentando-se novamente. — Estamos de olho nele há semanas, mas quando Alejandro foi atacado, isso se tornou prioridade.

Anippe analisou cada foto e documento. As mãos trêmulas refletiam a mistura de medo e determinação. Entre os papéis, reconheceu o selo de confidencialidade do governo europeu. Aquilo não era só qualquer arquivo. Era um dossiê secreto, contendo informações sobre um arsenal de bombas escondidas, uma chave para uma possível catástrofe.

Ela respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade aumentar. Se esses documentos caíssem nas mãos erradas, o perigo seria inimaginável.

— Temos que agir rápido — disse ela, com uma voz fria e controlada que contrastava com a tempestade dentro dela.

— Já estamos na mira deles. — Pablo confirmou. — Mas não vamos fazer nada sem você.

Anippe assentiu. Ela havia compreendido o porquê de ele cobrar tanto o descanso dela, mas acima de tudo, ela finalmente tinha uma direção clara para seguir. Sabia que o caminho seria perigoso. O inimigo era astuto e implacável, e já estavam prontos para atacar sua casa. Mas, pela primeira vez há semanas, ela sentiu que tinha uma chance.

— Vamos acabar com isso, de uma vez por todas. — afirmou, a voz carregada de certeza.

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⏰ Última atualização: Oct 11 ⏰

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Poder e Ambição [LIVRO 01]Onde histórias criam vida. Descubra agora