𝙲𝙰𝙿Í𝚃𝚄𝙻𝙾:02

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1 ano depois

Cá estou eu, de volta ao Brasil, exatamente um ano após ter ido embora. Não planejava retornar tão cedo, mas fiz um favor ao meu chefe, que firmou uma parceria com uma empresa em São Paulo e me pediu para representá-lo.

Desde que voltei para a Argentina, deixei o home office e passei a trabalhar presencialmente. Decidi não retomar a faculdade que havia trancado quando fui embora com Jonathan, pois já não me vejo mais atuando naquela área.

Jonathan... faz tanto tempo que não o vejo, na verdade, tento evitar qualquer notícia sobre ele. Acompanho um jogo ou outro do São Paulo, mas nada com frequência.

Mesmo depois de ter morado aqui por vários meses, ainda me sinto um pouco perdida. Precisei de um mapa para me localizar. As pessoas continuam as mesmas, apressadas e sem educação, esbarram e nem sequer pedem desculpas.

Finalmente encontrei o escritório, um espaço enorme. Após receber ajuda de uma funcionária, cheguei à sala de reuniões, onde fui recebida com muita cordialidade. Apesar de não ser graduada, minha experiência e cursos na área me garantiram a oportunidade de estar aqui representando a empresa.

A reunião foi rápida e muito produtiva. Resolvemos tudo em menos de uma hora. Aproveitei o tempo livre para almoçar antes do voo de volta. Escolhi um restaurante próximo e pedi o prato do dia, relaxando enquanto aguardava.

Havia uma parte de mim que queria visitar o estádio do São Paulo, mas sabia que era melhor evitar. Não queria cruzar com Jonathan, nosso passado precisava ficar onde estava.

Após um passeio rápido, segui para o aeroporto. O tumulto típico me deixava tonta, mas logo fui chamada para o embarque. Enquanto organizava meus documentos, acabei derrubando minha passagem. Quando me abaixei para pegar, senti uma mão tocar a minha. Olhei para cima e meu coração disparou.

— Oi, Lua — Jonathan sorriu.

— Oi, Joni — respondi, sentindo um nó na garganta.

Peguei minha passagem e me levantei, ele estava logo atrás de mim na fila. Eu evitava olhá-lo.

— Não esperava te ver aqui — ele disse.

— Nem eu. Ainda mais no aeroporto — forcei um sorriso.

— Estou indo visitar minha família, os jogos foram pausados por causa das partidas das seleções — explicou.

— Que coincidência, estamos no mesmo voo — comentei, disfarçando o incômodo.

— O que veio fazer no Brasil? — perguntou.

— Resolver alguns assuntos do trabalho — respondi secamente.

Ele apenas assentiu. A fila começou a andar, e nos dirigimos ao avião. Acima da minha poltrona, tentei guardar minha mochila no compartimento, mas não alcancei. Jonathan, sempre atencioso, se aproximou e guardou para mim.

— Obrigada — agradeci.

— Não foi nada — ele sorriu.

Assim que me acomodei na poltrona do avião, olhei de relance e lá estava Jonathan, sentado ao meu lado. O silêncio entre nós parecia mais ensurdecedor do que o burburinho dos passageiros ao redor. Foi ele quem quebrou o gelo.

— Essa coincidência é meio... irônica, não acha? — disse ele, com um meio sorriso.

— Um pouco demais, talvez — respondi, virando o rosto para a janela. Meu coração disparava, mas eu fazia de tudo para disfarçar.

— Não achei que te veria de novo, Lua — a voz dele agora estava séria, carregada de algo que eu não queria decifrar.

— A vida segue, né? Cada um no seu caminho — falei, tentando soar indiferente.

Por um momento, o silêncio voltou. Eu podia sentir seu olhar sobre mim, me queimando de leve.

— Como você está? — perguntou, em um tom quase sussurrado.

— Estou bem, Joni. E você? — a resposta saiu de forma automática, como se eu quisesse encerrar a conversa ali mesmo.

— Vou levando. Mas... sinto sua falta — ele confessou.

Aquelas palavras atingiram algo profundo dentro de mim, mais do que eu esperava. Respirei fundo, ainda sem olhá-lo.

— Isso não muda nada — murmurei, com a voz baixa e firme.

— Eu sei. Mas não é fácil. Nunca deixei de pensar em você, Lua — ele disse, a voz cheia de uma verdade que eu não estava preparada para ouvir.

Eu queria dizer que já tinha superado, que ele era apenas uma lembrança distante. Mas as palavras ficaram presas, afinal, isso não é verdade.

— Foi você quem escolheu se afastar — consegui dizer, finalmente, encarando seus olhos. Vi ali um misto de arrependimento e saudade.

— E foi o pior erro que cometi — Jonathan respondeu, sem hesitar. — Se eu pudesse voltar atrás...

— Mas não pode — o cortei, tentando manter minha voz firme, mesmo que algo dentro de mim vacilasse. — Nós dois temos que seguir em frente.

Ele soltou um suspiro longo, encarando o chão do avião.

— Sei disso. Mas... não consigo evitar. Eu te amo, Lua. Talvez eu sempre vá te amar — Diz.

Essas palavras me desarmaram. Fiquei um tempo em silêncio, sentindo o peso de tudo que ele acabara de dizer. Então, desviei o olhar para a janela, tentando me recompor.

— Às vezes, amor não é suficiente, Joni — falei suavemente, mais para mim mesma do que para ele.

— Eu lembro de te dizer isso naquela noite... que amor, por si só, não sustenta um casamento. Hoje... não imagina o quanto me arrependo — ele completou, a voz estava quebrada.

E, assim, o silêncio voltou a se instalar entre nós, carregado de tudo que ficou por dizer. O resto do voo passou sem mais palavras, ambos mergulhados em nossos próprios pensamentos.

[...]

Assim que pousamos na Argentina, depois de um voo pesado de lembranças e angústias, tudo o que eu queria era sair rapidamente do avião. Me levantei apressada, mas Jonathan bloqueou a minha passagem.

— Pode me dar licença? — perguntei, tentando manter a calma.

— Não posso, desculpa — ele respondeu, sem emoção.

— E por quê? — minha paciência começava a se esgotar.

— Acho que precisamos conversar sobre esses últimos meses — disse ele, com um tom que me irritou ainda mais.

— Não precisamos, Joni — retruquei, firme. — Me deixa passar, por favor — pedi, quase choramingando.

Ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse pensando no que dizer, mas acabou cedendo.

— Vai, Lua... pode ir — murmurou, derrotado.

Passei por ele rapidamente e estiquei o corpo para alcançar minha mochila no compartimento. Queria sair dali o quanto antes. Assim que peguei a mochila, caminhei apressada em direção à saída do avião, com um nó na garganta.

No aeroporto, pedi um táxi e segui direto para casa. O encontro inesperado com Jonathan mexeu mais comigo do que eu queria admitir. Saber que a família dele mora perto de onde estou vivendo agora só aumentava minha ansiedade. A possibilidade de esbarrar com ele pelas ruas nos próximos dias me atormentava.

O que devo fazer? Me trancar em casa até ele ir embora? Evitar qualquer lugar onde ele possa estar? Eu não sabia. Cada vez que fico perto dele, perco completamente o controle dos meus pensamentos.

𝚁𝚄𝙿𝚃𝚄𝚁𝙰 | 𝗝𝗼𝗻𝗮𝘁𝗵𝗮𝗻 𝗖𝗮𝗹𝗹𝗲𝗿𝗶Onde histórias criam vida. Descubra agora