— Eu nunca vou deixar você sozinha, mi amor — Jonathan sussurrou.
— Não me torture assim — pedi, sentindo a tensão crescer dentro de mim.
— Eu te amo, te amo muito — ele disse antes de me beijar, com uma intensidade que parecia real demais.
E então, tudo se dissolveu. Senti um choque violento de realidade. Acordei de um sono profundo, e percebi que nada daquilo era real. O desorientamento tomou conta de mim. Não sabia que dia era, nem que horas, se era manhã, tarde, ou noite.
— Até que parte desse devaneio as coisas realmente aconteceram? — me perguntei.
Olhei ao redor e percebi que o filme de terror já tinha acabado. Então tudo fez sentido: eu adormeci no meio do filme e o resto... era só um sonho. Jonathan não havia vindo até a minha casa, não me abraçou, não me protegeu, e muito menos me beijou. A realidade era bem diferente, e isso me causava um vazio amargo.
Queria que essa angústia desaparecesse. Eu estava começando a me sentir bem antes de reencontrá-lo, mas vê-lo de novo desmoronou as barreiras que construí. Não posso mentir, não o esqueci. Mas, pelo menos, estava tentando.
Eu poderia repetir o que fiz no meu sonho, ligar para ele, esperar que viesse, e então sentir o gosto dos seus lábios novamente. Mas, espera... Não! Isso não pode voltar a acontecer. Somos apenas conhecidos agora. Sim, foram quase três anos vivendo juntos, todos os dias lado a lado, fora os anos de amizade, mas hoje... somos só isso.
Eu amava a minha vida quando começamos a morar juntos, foi antes mesmo de nos casarmos. Eu realmente acreditava que, depois do casamento, tudo continuaria perfeito entre nós. Mas parece que, ao assinar aquele papel, no instante em que adotei o sobrenome dele, também selamos o fim do nosso relacionamento, só que a longo prazo.
Nesses momentos de reflexão, eu sempre me lembro de quando nos sentávamos no jardim, conversando por horas sobre nossos futuros filhos. Chegamos até a escolher alguns nomes. Ter filhos nunca foi uma prioridade para nós, mas também nunca nos preocupamos em evitar. Ainda assim, nunca fomos presenteados com um bebê.
— Flashback On —
— Eu percebi que você não está bem hoje, então fiz sua sobremesa favorita — disse, entregando uma taça de doce para ele.
— Obrigado, mi reina. O dia não foi dos melhores, mas você sempre consegue melhorar tudo — ele sorriu, levando uma colherada à boca. — Está divino, como sempre.
— Hoje fiquei responsável por alguns ajustes antes do lançamento do novo perfume da empresa, e eles me mandaram uma amostra. Queria te dar de presente — falei, caminhando até a mesa de centro e pegando uma caixa.
— Sério, amor? — Ele perguntou com curiosidade.
— Sim, acho que você vai gostar — entreguei a caixa.
Ele retirou o frasco da embalagem e espirrou o perfume no pescoço. A fragrância era maravilhosa, hipnotizante, mas de repente me senti enjoada.
— Esse cheiro está me dando enjoo — disse, segurando o estômago.
— Você já foi ao médico? — Ele perguntou, preocupado.
— Não... não pensei na possibilidade de estar doente — confessei, tirando um teste de gravidez da minha bolsa.
— Você acha que pode ser isso? — Ele perguntou, surpreso.
— Não sei, amor. Mas estamos correndo esse risco, né? — Ri, nervosa.
— Quer que eu vá com você? — Ele ofereceu, ansioso.
— Não precisa, eu volto com o resultado — falei, tentando controlar o nervosismo.
— Só me diz: positivo ou negativo. Não me mata do coração — ele riu, mas dava para ver a apreensão em seus olhos.
Fui até o banheiro e fiz o teste. Aqueles minutos pareceram horas. Quando o resultado finalmente apareceu, era negativo. Um misto de alívio e frustração me atingiu. Voltei com o teste na mão, e Jonathan me puxou para um abraço.
— Não foi dessa vez, mas continuamos tentando — disse ele, em tom de brincadeira, me fazendo rir.
— Te amo — falei, antes de nossos lábios se tocarem.
— Eu te amo mais. E, de qualquer jeito, vamos procurar um médico para ver o que está causando esse mal-estar — ele completou, e eu concordei com um sorriso.
— Flashback Off —
Será que ele realmente ainda me ama ou foi só coisa do momento, impulsionado pelo reencontro? Sinceramente, não sei mais no que acreditar. Estou em um ponto em que nem confio nas minhas próprias reações.
Ainda não era tarde, mas o cansaço emocional do dia já pesava. Decidi encerrar tudo de uma vez e ir dormir, torcendo para que, ao menos, eu só acordasse amanhã.
— Dia seguinte —
Levantei bem cedo e me aprontei para o trabalho. Tomei um café rápido e saí de casa, caminhando até o ponto onde o ônibus da empresa costuma me buscar.
Ao passar pela casa dos Calleri's, senti uma pontada de nostalgia. Passei tantos momentos bons com a família do meu ex-marido. Os pais dele sempre foram tão atenciosos comigo, e suas irmãs, com o tempo, se tornaram quase minhas próprias irmãs. É difícil não sentir falta disso.
Cheguei ao ponto e logo o ônibus da empresa apareceu. Subi e, em pouco tempo, estávamos na empresa. Assim que entrei, cumprimentei os colegas na recepção e segui para a sala do meu chefe. Bati na porta e ouvi um “entre”.
— Com licença — disse, me sentando.
— Eu te enviei todos os relatórios por e-mail durante a reunião, mas fiz algumas anotações extras. Achei que você poderia achar útil — entreguei o bloco de anotações para ele.
— Muito obrigado, Martínez. Sempre tão eficiente — ele sorriu.
— Agradeço pelo elogio e pela confiança. Estou à disposição para o que precisar — sorri de volta e me retirei.
Fui para a minha mesa na sala compartilhada com alguns colegas. Liguei o computador. O dia parecia tranquilo, então decidi revisar os últimos feedbacks dos nossos consumidores.
Uma notificação soou no meu celular, e ao verificar, vi que haviam me adicionado em um grupo chamado "viejos amigos". Abri as informações e percebi que éramos seis no grupo – nosso antigo grupinho, o mesmo que me fez conhecer Jonathan. A foto do grupo era de uma noite especial, a primeira vez que saímos todos juntos, anos atrás. Um sorriso nostálgico surgiu no meu rosto ao observar aquela imagem.
Jonathan estava no canto esquerdo da foto, com seu sorriso tímido característico, e eu estava ao lado dele, com o braço envolto em seu pescoço, mostrando a língua para a câmera. Foi um tempo em que éramos apenas amigos, passando horas falando sobre filmes e séries.
Por anos, ficamos nesse vai e vem de conversas até que, finalmente, viramos namorados. O que antes eram apenas conversas descontraídas virou planos para o futuro que sonhávamos juntos. A partir daí, a vida seguiu em um ritmo acelerado: começamos a morar juntos, mudamos de país, nos casamos – foi uma verdadeira loucura.
Me lembro com clareza do momento em que ele se declarou para mim. Tinha sido logo depois de um jantar com nossos amigos. Jonathan se ofereceu para me levar embora, mas no caminho, ele me levou para uma praça. Foi lá que ele, com um jeito doce e inseguro, confessou o que sentia por mim, e nos beijamos pela primeira vez. Depois disso, começamos a sair com mais frequência, sozinhos, e tentamos esconder nosso romance do resto do grupo por um tempo. Mas, claro, não demorou muito até que nossos amigos descobrissem e comemorassem conosco. Quantas lembranças!
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𝚁𝚄𝙿𝚃𝚄𝚁𝙰 | 𝗝𝗼𝗻𝗮𝘁𝗵𝗮𝗻 𝗖𝗮𝗹𝗹𝗲𝗿𝗶
Fanfiction"O casamento às vezes não é o conto de fadas que imaginamos, não é? Com Jonathan Calleri e Luana Martínez não foi diferente: o relacionamento esfriou aos poucos e o encanto foi desaparecendo." [+16]