𝙲𝙰𝙿Í𝚃𝚄𝙻𝙾:03

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Eu estava deitada no tapete da sala, olhando para o teto, sentindo como se tivesse perdido totalmente o controle dos meus pensamentos. Ainda tinha uma tarefa pendente do trabalho, mas parecia impossível me levantar, quanto mais me concentrar.

— Quando esse homem vai sumir da minha mente? — murmurei para mim mesma.

Bastou reencontrá-lo e ouvir aquelas palavras — "ainda te amo" — para que todos os meses de esforço para superá-lo fossem por água abaixo. Eu sei que um casamento não é algo que se esquece do dia para a noite, mas eu realmente acreditava que estava no caminho certo. 365 dias acreditando que estava bem... mas agora parecia que todo esse progresso tinha evaporado.

Finalmente decidi me levantar e tomar um banho rápido. Me vesti com um pijama confortável, já que não tinha planos de sair de casa. Preparei uma tigela de pipoca e me joguei no sofá, na esperança de distrair a mente. Escolhi um filme de terror, algo para me manter ocupada, e dei o play, torcendo para que a tensão do filme me fizesse esquecer, ao menos por um tempo, o que se passava dentro de mim.

Enquanto assistia ao filme de terror, eu me perdi na trama, mas não conseguia me desligar dos meus próprios pensamentos. A tela brilhava com cenas de escuridão e gritos, mas minha mente insistia em voltar para Jonathan.

“Ó céus, o que ele fez comigo?” eu me perguntei. A cada susto na tela, sentia meu coração acelerar, mas não era pelo filme. Era a lembrança dele, a forma como ele me olhou no avião, como se quisesse dizer tudo, mas não conseguiu. “Como eu pensei que poderia esquecê-lo em um ano? Mal consegui respirar depois de ouvir ‘eu ainda te amo’.”

Eu peguei um punhado de pipoca e mastiguei mecanicamente. “Nada disso faz sentido”, pensei enquanto uma cena de tensão se desenrolava diante de mim. O personagem estava prestes a ser atacado, mas a única coisa que realmente me atacava era a saudade.

“Por que eu voltei a vê-lo?”, me perguntei. “A cada segundo me lembro dele. O jeito como sorria, a forma como falava meu nome...” A tela piscava com luzes e sombras, mas eu não estava realmente vendo. “Esse filme não me assusta. O que me assusta é o que eu sinto.”

O protagonista finalmente gritou, e eu quase pulei, mas não pela cena. A pipoca esfarelou em minhas mãos, e eu me lembrei de que precisava parar de pensar nele. Mas era como se, a cada grito no filme, ele estivesse ali, me chamando.

No fundo, eu sabia que o filme acabaria, mas as lembranças dele não. “Acho que vou ter que enfrentar isso mais cedo ou mais tarde”, pensei enquanto desligava a TV, incapaz de continuar assistindo. O terror que estava na tela não se comparava ao terror que eu sentia dentro de mim.

Algumas horas depois

A noite havia caído completamente quando, impulsivamente, disquei o número da casa de Jonathan no telefone fixo. Cada toque fazia meu coração disparar, um misto de nervosismo e medo se apoderando de mim.

Quando, finalmente, alguém atendeu, reconheci a voz do pai de Jonathan. Perguntei se ele estava por perto, e a resposta veio rápida: “Está no banho.” Pedi desculpas pelo incômodo e desliguei sem esperar mais nada, sentindo uma onda de arrependimento me consumir.

— Que merda, não deveria ter feito isso — murmuro para mim mesma.

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, e fui até o meu quarto. Estendi a coberta na cama e me enrolei nela, sentindo o calor acolhedor contrastar com o frio e o vento tenebrosos lá fora.

Fechei os olhos, esperando descansar, mas as cenas do filme que eu nem havia prestado atenção começaram a surgir na minha mente, me deixando ainda mais assustada. Era como se eu fosse uma criança enfrentando os medos.

“O que eu faço agora? Vou para a casa dos meus pais?”, pensei, perdendo a confiança em minha própria decisão. O medo da ficção parecia me consumir aos poucos.

De repente, o telefone de casa tocou, e eu arregalei os olhos, paralisada de medo. Levantei-me cautelosamente e fui até o aparelho. Atendi com a voz trêmula e respirei aliviada ao reconhecer a voz de Jonathan do outro lado da linha.

— O que houve? Sua voz está estranha — ele comentou, preocupado.

— Estou um pouco assustada — confessei.

— Por que? — ele perguntou, a preocupação evidente na sua voz.

— É que assisti um filme de terror hoje e as cenas não saem da minha cabeça. Não sei por que fui inventar isso — respondi, um pouco envergonhada.

Ouvi ele rir levemente do outro lado.

— Continua medrosa pra filmes? — ele zombou.

— Para com isso — ri, sentindo a tensão diminuir um pouco.

— Meu pai me disse que você ligou — disse ele.

— Eu também não sei por que fiz isso, me desculpa — confessei, rindo nervosamente.

— Tem certeza? Não era para conversarmos? — ele perguntou, com um tom suave.

— Não sei, Joni, não sei — bufei, senti o coração apertando de um jeito que eu não conseguia explicar.

De repente, a energia caiu, e eu dei um pulo de susto.

— Jonathan, Jonathan! — chamei pelo telefone, mas a irritação começou a crescer dentro de mim.

— Maldito gerador — murmurei, colocando o telefone de volta no lugar.

Levantei-me e fui até a cozinha, onde peguei duas velas na gaveta. Acendi-as e voltei para a sala, posicionando as velas em um suporte na mesa de centro. Então, me encolhi no sofá, percebendo que meu celular estava sem bateria.

— Já vai voltar, já vai voltar — sussurrei para mim mesma, tentando me acalmar.

Uma chuva forte começou a cair, rapidamente se transformando em uma tempestade. Os ventos uivavam, parecendo que iriam arrancar as árvores do chão. Tapei os ouvidos com as mãos e segurei a respiração. Eu realmente odeio chuva, especialmente quando é tão intensa.

Então, ouvi batidas na porta. Com cautela, fui até lá e olhei pelo olho mágico, mas não consegui ver quem era, pois a pessoa estava com um guarda-chuva. Decidi abrir um pouco a porta e, para minha surpresa, era Jonathan.

— Que bom que você está aqui! — exclamei, abrindo a porta completamente e o abraçando.

Ele estava encharcado, mas eu sinceramente não me importava; só queria me sentir segura.

— O que você está fazendo aqui, maluco? — perguntei, ainda surpresa.

— Queria ter certeza de que você estava bem. Sei que você não gosta de chuvas, e o bairro está sem energia também — ele explicou, olhando nos meus olhos.

— Entra, por favor! — convidei, abrindo espaço para ele passar.

Fomos até a sala e nos sentamos, cercados pela luz suave das velas.

— Que casa linda! — ele comentou.

— Obrigada. Me apaixonei por este lugar assim que o vi — respondi, sorrindo.

— É bem perto de casa. Meus pais me deram o endereço, e eu vim caminhando mesmo — ele disse, com um sorriso.

Um trovão estrondoso ecoou, e eu tapei os ouvidos, fechando os olhos em um reflexo de medo.

— Calma, estou aqui com você — Jonathan se aproximou e me abraçou, sua presença era reconfortante.

— Não me deixe sozinha, por favor — pedi, com a voz embargada.

— Nunca — ele respondeu, dando um beijo suave na minha cabeça.

𝚁𝚄𝙿𝚃𝚄𝚁𝙰 | 𝗝𝗼𝗻𝗮𝘁𝗵𝗮𝗻 𝗖𝗮𝗹𝗹𝗲𝗿𝗶Onde histórias criam vida. Descubra agora