𝙲𝙰𝙿Í𝚃𝚄𝙻𝙾:09

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+1 ano depois —

A rotina do escritório havia se tornado uma espécie de refúgio. O tempo passou rápido, e eu me ocupava tanto com as tarefas diárias que não sobrava espaço para pensar em qualquer outra coisa que um dia me puxou para trás.

Jason, meu chefe, era rigoroso e direto, mas também tinha uma leveza que fazia qualquer ambiente parecer mais fácil. Enquanto terminava de revisar alguns relatórios, ouvi passos se aproximando e, logo em seguida, a voz dele:

— Luana, bom dia! — Jason sorriu ao parar ao lado da minha mesa. — Só queria dizer que gostei muito do nosso encontro ontem. Espero que possamos fazer isso mais vezes, foi ótimo sair um pouco do ritmo de trabalho.

Demorei um segundo para registrar a frase. Jason não era só meu chefe; ele era uma pessoa que eu tinha aprendido a admirar com o tempo, alguém que demonstrava um equilíbrio raro entre autoridade e empatia. E, recentemente, nossa convivência extrapolou o ambiente profissional de forma discreta.

— Ah, que bom que gostou! — respondi, surpresa e meio sem jeito, tentando manter a compostura. — Acho que foi uma noite bem leve, uma pausa necessária, sabe?

— Exatamente — ele concordou. — É fácil perder isso de vista quando estamos todos concentrados no trabalho o tempo inteiro. Mas você e eu… bem, acho que a gente se entende — ele sorriu de forma sutil, o suficiente para me deixar mais desconcertada ainda.

Jason tinha um jeito intrigante, um charme discreto que mantinha as pessoas ao redor querendo estar próximas, sem que ele precisasse pedir. E talvez o que me desconcertava mais era o quanto eu estava confortável nessa proximidade que ele, mesmo sendo meu chefe.

— Então, que tal repetirmos? — ele disse, recuando um pouco para me deixar pensar. — Sem formalidades. Se você quiser, claro.

Senti meu coração acelerar, e percebi que, finalmente, uma ideia de futuro me pareceu bem possível.

— Sem problemas, é só marcar — Sorrio de leve.

— Tudo bem então — Ele pisca e se afasta.

Assim que ele sai, mando uma mensagem no grupo das meninas contando que percebi o interesse do meu chefe e pedindo dicas de como lidar com a situação. Elas respondem na hora, dizendo que eu deveria aproveitar a oportunidade e sair com ele.

[...]

Terminei meu trabalho e me preparei para ir embora. Já estava bem tarde, e todos os funcionários tinham saído. Entrei no elevador, e, quando a porta estava prestes a fechar, ouvi a voz de Jason pedindo para segurar. Ele entrou ao meu lado, e a porta se fechou.

— Noite fria, né? — ele comentou, olhando para frente.

— Um pouco — respondi, rindo levemente.

Nosso primeiro encontro foi um tanto inesperado. Jason simplesmente chegou na minha mesa um dia, mencionou um restaurante novo e me convidou para ir com ele. Fiquei receosa, já que ele é meu chefe, mas acabei aceitando.

Jason é um homem charmoso. Alto, sempre vestindo roupas sociais, barba bem feita, e aquele relógio elegante que ele nunca tira, dando a ele o ar típico de um empresário seguro de si.

— Acho que podemos escolher um lugar mais animado dessa vez, o que acha? — ele sugeriu com um sorriso.

— Ah, por mim, ótimo — retribuí o sorriso.

— Que tipo de música você gosta? — perguntou ele.

— Gosto de tudo um pouco, mas sou bem fã de rock — respondi.

Ele sorriu, surpreso.

— Que coincidência! Vai ter um show do Metallica aqui na cidade.

— Não acredito! — meus olhos brilharam de empolgação.

— Se você quiser, podemos ir juntos — ele sugeriu.

— Com certeza! Não perderia essa chance — respondi, animada com a ideia.

— Ótima ideia para um encontro, não é? — ele comentou com um sorriso.

— Com certeza, você acertou em cheio — respondi, retribuindo o sorriso.

Quando a porta do elevador abriu completamente, saí e Jason me acompanhou. Ao deixarmos o prédio, senti o vento frio batendo contra meu corpo.

— Você tem como ir embora? — ele perguntou.

— Eu ia pegar um ônibus — respondi.

— Nem pensar, eu te levo pra casa — ele diz.

— Não quero incomodar — falei, hesitante.

— Nada disso, me deixa ser um cavalheiro — ele riu, e eu acabei concordando.

Seguimos para o luxuoso carro dele, e indiquei o caminho para minha casa. Durante o trajeto, conversamos sobre praticamente tudo. Fazia tempo que eu não me sentia tão à vontade para falar abertamente, sabendo que alguém estava ali, ouvindo com atenção.

[...]

— Chegamos, senhorita — ele disse ao estacionar.

— Muito obrigada pela carona, mesmo — agradeci.

— Imagina, foi um prazer — ele respondeu.

— E olha, não se sinta pressionada, tá? Só estamos saindo para nos divertir, não vou pedir sua mão em casamento de repente — ele brincou, mas parecia preocupado.

— Pode ficar tranquilo, chefe. Já te conheço — respondi com um riso leve.

— Você me conhece como chefe, mas adoraria que começasse a conhecer o Jason, fora daquela empresa — ele disse, me olhando nos olhos.

— Estamos no caminho certo para isso — sorri de volta.

— É muito bom conversar com você, Martínez — ele comentou.

— Digo o mesmo, você é uma ótima companhia — respondi, e ele riu.

— Já tenho seu telefone. Assim que estiver tudo certo para o show, te aviso — ele disse, e eu assenti.

— Bom descanso, “patrão” — brinquei.

— Jason, por favor. E bom descanso também, Luana — ele respondeu, e sorri em agradecimento.

Saí do carro e entrei em casa. Encostei na porta, sentindo o silêncio tomar conta. Meu coração batia rápido, como há muito tempo não acontecia. Quando foi que comecei a me sentir assim, como uma adolescente de novo?

Aquela sensação boa, quase esquecida, me trouxe um alívio e uma alegria inesperados. Era como redescobrir o bem-estar que vem de saber que alguém realmente se importa com o que você diz e compartilha suas histórias. Talvez isso seja um sinal do rumo que minha vida está começando a tomar — e eu mal posso esperar para ver onde vai dar.

𝚁𝚄𝙿𝚃𝚄𝚁𝙰 | 𝗝𝗼𝗻𝗮𝘁𝗵𝗮𝗻 𝗖𝗮𝗹𝗹𝗲𝗿𝗶Onde histórias criam vida. Descubra agora