Cap. 13 | Esqueça a realidade

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“E não há remédio para a memória
Seu rosto é como uma melodia
Não vai sair da minha cabeça
Sua alma está me assombrando
E me dizendo que está tudo bem
Mas eu queria estar morta…”
— Dark paradise, Lana Del Rey.

ÉDEN KRAUMASS

Quando eu fui pedida em casamento, lembro de três questionamentos que vagaram na minha cabeça naquele momento: eu amo ele o suficiente para isso? E se o erro da minha mãe se repetir comigo? E se eu não fosse feliz o suficiente? Eu estava perdida, completamente perdida. Porém, mesmo estando completamente perdida e com medo, eu disse sim. Porque naquele momento o não pareceu muito mais assustador que o sim.

Eu tive tanto medo e questionamentos, mas ao menos, ele era uma boa pessoa. Ao menos no começo, Anthon era um homem amável e compreensível. Ele sabia todos os meus segredos, não tínhamos segredos porque eu confiava minha vida a ele, mas olhando agora, ele era o único que não contava nada para mim.

Sim, ele me perguntava minha vida toda e conversamos horas sobre meus problemas, mas nunca sobre os seus problemas. Eu não sabia se ele tinha família, quer dizer, não havia ninguém no seu funeral além da minha família e eu.

Olhando agora, eu me questionava: quem era Anthony Vischor?

— Não tem medicamentos para mim?

Meus olhos se fecham, respirei profundamente, sentindo o cheiro doce familiar de Abel. Ele se sentava em frente a mim, nas suas mãos haviam um papel, provavelmente a lista de receituário dos pacientes.

— Não, nenhum medicamento para você.

Fechei minha a tampa do meu café, olhando diretamente no rosto de Abel. Seu rosto se erguia na minha direção com um olhar distante e diferente.

— Eu preciso de remédio para dormir.

— Precisa? Tem certeza? — minha voz se prolonga na última parte, quase como se eu tivesse preguiça ao falar com ele.

— Sim, eu tenho certeza.

Considerando o tempo em que nós encontramos de madrugada, ou conversamos na calada da noite, ele realmente necessitava desse tipo de medicamento. Mas sinceramente, é o Abel, ele não quer remédio só por querer.

— Vai ter que ser sincero comigo se quiser os remédios — olhei ao redor do refeitório, estava praticamente vazio. As cozinheiras ao canto, conversavam baixo e usam seus cigarros que preenchia o cheiro do local. Tinha duas ou três enfermeiras com pacientes em algumas mesas distantes, porém nenhuma prestava atenção ao redor ou fingia que não prestava. A iluminação estava fraca, a luz no centro piscava e dava ao lugar uma luz deprimente, quase azulada, como cenas de terror.

Ouço Abel bufando, ele aperta os punhos em cima da mesa, olha ao redor, abaixa a cabeça com as mãos entre os cabelos. Ele parecia transtornado, não tinha espelhos no refeitório, os pacientes poderiam usar eles para ferir alguém ou a si próprio, então o motivo do seu transtorno não era seu medo peculiar por espelhos. Franzi a sobrancelha, observando como seu nariz fungava e ele parecia cheirar ao redor.

Talvez fosse o cheiro do cigarro que o incomodava? Não, eu já fumei enfrente a ele, com certeza não era o cheiro do tabaco.

— Eu preciso dormir essa noite, um sono longo e profundo — sua voz estava abafada, Carlisle mantinha sua cabeça baixa na mesa, entre seus braços. Logo, seus olhos sobem para mim, eles estavam um pouco avermelhados e seu rosto suava frio.

— Abel.

— Não, eu preciso disso para hoje. Para Agora.

— São nem sete! — exclamei, um tanto indignada e no fundo, preocupada. Era seis e três da noite, não fazia sentindo ele querer dormir esse horário. Normalmente, as enfermeiras começam a dopar os pacientes oito da noite, colocando alguma coisa na água para eles dormirem.

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O Pecado de AbelOnde histórias criam vida. Descubra agora