Cap. 09 | Mau presságio

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“Meça o que você me diz
Cuidado com quem você está falando
Estou em chamas, querido…”
— Sad girl, Lana Del Rey

EDÉN KRAUMASS

A neve caía lá fora, clima melancólico e cheio de friagem que só essa cidade sabia passar. Com suas pequenas estrelas brancas sobre o chão, formando uma enorme bola de neve para os pacientes com uma síndrome infantil. Eu sentia vontade de me afogar na nuvem macia que se formava pelo chão e transformar meus demônios em anjos de neve. Parecia reconfortante, um pouco aliviador até. Em meu ouvido tudo o que eu ouvia parecia um doce coral infantil, cantando doces melodias em clima natalino.

Nada mais doce que o natal e nada mais melancólico que a nevasca embranquecida.

Enquanto meus passos silenciosos, mantive-me com a cabeça erguida, caminhando em direção ao jardim, onde havia uma pequena capela e um padre à minha espera. As flores ao redor pareciam sempre mortas quando eu passava, menos os pequenos lírios brancos que pareciam atentos aos meus passos e observavam meu caminhar. Balancei a cabeça, enviando meus pensamentos para longe e abrindo a porta da pequena capela. Assim que empurrei a madeira velha, a porta rangeu-se em um som esquisito, parecido com uma risada de bruxa, igualavasse aos desenhos animados que passavavam-se em telas.

Um leve sorriso se formou no meu rosto, vi padre William se benzendo e molhando um dos pacientes com um pouco de água benta. Me aproximei de forma silenciosa enquanto me benzia ao caminhar em direção ao altar.

— Bença, padre — meus joelhos se dobram e sinto a mão do padre sobre minha cabeça.

— Deus abençoe, minha filha.

Me ergui, enxugando minhas mãos suadas no vestido preto. Observo o padre se despedir da paciente, que parecia levemente mais calma, como se as palavras de um padre sobre Jesus tivessem a cura de suas loucuras.

— Vamos? — o homem vestido de batina apontou para a porta, direcionando a mim seu escritório. O segui, mantendo minha cabeça erguida com firmeza e uma confiança que eu evidentemente era inexistente.

O Padre William acendeu a vela ao meu lado, suas mãos firmes e serenas projetando uma luz suave que dançava na penumbra. O brilho da chama iluminou seu rosto, revelando sua expressão de calma e seriedade. À medida que o calor da vela se espalhava pelo ambiente, essa luz e a queimação de migalhas de esperança, onde eu nutria o desejo de apaziguar a curiosidade fervente que ardia em meu peito. Essa curiosidade tão dilacerante que me deixava aos nervos, temendo que pudesse ser algo mais profundo do que uma ansiedade, algo que eu ainda não estava pronta para enfrentar. A chama tremeluzente refletia não apenas a luz do momento, mas também as sombras das minhas incertezas, criando um espaço onde a esperança e o receio coexistiam em um delicado equilíbrio.

E isso me deixava de saco cheio.

— Sabe padre, eu realmente me senti magoada com as suas insinuações sobre minha saúde mental — tiro meus olhos da vela, cruzando os braços sobre a mesa e olhando diretamente para o homem de betina — Porém, dessa vez, irei relevar o que aconteceu porque você é um antigo amigo da família.

Investi na minha arrogância, o padre balançou a cabeça, soltando um suspiro.

— Sua mãe realmente não mentiu quando disse que você era igual ao seu pai.

Apenas dei de ombros, como se as palavras de minha amada mãe não doesse e perfurasse minha pele como mil agulhas.

— Não vejo novidade alguma.

O Pecado de AbelOnde histórias criam vida. Descubra agora