Cap. 12 | Olho por olho.

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“Minha língua perversa
Onde vai estar?
Eu sei que se estou de olho em você
Estou de olho em você
De olho em você, estou de olho em você…” — Haunted, Beyoncé.

ABEL JOHN CARLISLE

PRIMEIRA SESSÃO
TERAPÊUTICA.

— Como está se sentindo? — levei minha atenção a ela, observando a psiquiatra por cima dos olhos — Ainda ouve as vozes? Não?

Suspirei, com apenas alguns minutos de quietude, senti uma onda de tranquilidade. Deixei minhas expressões vazias e os ombros caídos falarem do que eu sentia agora. Balancei minha cabeça depois de alguns minutos parado. Sinalizei um não lento.

— Bom, isso é ótimo, eu acho... — observo quando ela engoliu em seco, escrevendo algo em sua caderneta e virando para a próxima folha — Qual foi a última vez que viu seu avô, ou conversou pessoalmente com ele?

— Faz alguns meses, para falar a verdade.

Mexo minha cabeça para o lado, pegando pela minha visão periférica os guardas na porta da sala. Volto minha atenção para a médica com tédio. Suspirei, colocando minhas mãos algemadas em cima da mesa, a psiquiatra encarou meu pulso algemado por alguns segundos, antes de desviar o olhar.

Uma onda de irritação me atingiu.

— Acho que ele não voltará tão cedo — suspirei — Você é nova aqui?

A loira me olhou por alguns segundos demoradamente, avaliando meu comportamento e mudança de humor. Nada novo.

Observei a médica de cima para baixo, ela tinha as pernas cruzadas enquanto usava um vestido preto colado no corpo. Seus cabelos incrivelmente loiros – em um tom platinado, estavam presos em um coque desajeitado. Seus olhos florestais piscavam repetidamente enquanto lia algo na caderneta. Diferente dos outros médicos, psiquiatras, ela aparentava estar perfeitamente confortável na minha presença.

— Bom, sim. Mas isso não é sobre mim, senhor Carlisle.

— Abel.

— O quê?

— Apenas Abel, por favor.

Ela ergueu o olhar por cima dos óculos de grau preto, seus olhos brilhantes me interrogando silenciosamente. Ela passa a língua entre os lábios rosados e balança a cabeça, soltando um leve suspiro.

— Certo. Abel.

Não pude evitar de sorrir, admirando a forma doce que meu nome saia de sua boca.

— Agora, continuando... Você ainda o vê com frequência?

— Não — minha fala saiu tão agressiva que a médica se surpreendeu. Ela moveu seus olhos para baixo, fitando minhas algemas como se estivesse se garantindo de que eu estava mesmo algemado.

— E os cortes, como conseguiu? — questiona, depois de um tempo calada.

Fecho meus olhos com força, uma ânsia enorme de vômito sobe, de repente, me sinto incomodado com o tamanho da sala. Brinco com meus dedos enquanto continuo com minha cabeça baixa, relembrando os minutos atrás.

Meu reflexo no espelho, dava-me calafrios. O suor extremo que escorria entre meu pescoço e mãos, o tic nervoso no olho e a luz de baixa iluminação piscando diversas vezes. Minha respiração continuava descontrolada e eu sentia o peso em meu peito. Parecia um ataque de pânico quando a falta de ar se mostrou presente, mas deixou de ser quando me olhei no espelho.

Aqui era um hospício, um hospital para loucos. E eu era fodidamente louco.

— Abel.

A voz da serpente festejava em meu ouvido, eu podia ver como ele se movia com facilidade de um lado para o outro, sussurrando asneiras em meu ouvido e me corrompendo mais ainda.

O Pecado de AbelOnde histórias criam vida. Descubra agora