capítulo 1

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"Nós somos apenas simples pessoas movidas pela vingança em nome da justiça. Mas se a vingança é chamada de justiça, então dessa justiça irá nascer ainda mais vingança... e então se toma uma corrente de ódio."

Fazenda Albuquerque - 16 anos atrás

Na fazenda, os ventos sopravam com força, e os fazendeiros eram a lei naquele tempo.

- Pedro! Quem mandou você fazer os peões tirarem o gado do pasto a essa hora? - gritou .

- Senhor, está com cara de que vai chover. Se o gado ficar lá na chuva, pode ser pior - respondeu  a Pedro, tentando manter a calma.

- Eu não quero saber! - retrucou Campos, sem paciência. - Você não manda em nada aqui. Nunca mais me desobedeça na frente dos peões, entendeu?

Pedro, por dentro, já estava cansado da arrogância de Campos, aquele capataz metido. Ele sabia que estava chegando a hora de se livrar dele de uma vez por todas.

Eu entrei no escritório do meu pai, acompanhado de Marcelo, e observei enquanto ele mexia nos documentos, sua figura imponente sentada em uma grande poltrona de couro, atrás da mesa de mogno. O ar estava pesado, carregado de tensão e desconfiança. Sabia que, um dia, aquela mesa seria minha, mas a responsabilidade que ela trazia também pesava em meus ombros. Algo dentro de mim clamava por justiça.

- Pai, eu tenho certeza de que aquele peão, o Campos, é o culpado pelo roubo do nosso gado! - Eu disse com firmeza, tentando não transparecer a raiva que borbulhava dentro de mim.

Meu pai, Marcos Albuquerque, levantou os olhos dos papéis, tirou os óculos e suspirou profundamente. Ele parecia mais cansado do que nunca, como se cada dia naquela fazenda lhe cobrasse um preço maior.

- Não sei, meu filho... - respondeu ele, sua voz firme, mas com um traço de cansaço. - Não gosto de ser injusto com ninguém. Encontramos um dos ladrões morto, e o outro fugiu. Já procuramos em todas as partes, e ainda assim, nada das vacas. Não posso acusar alguém sem provas concretas. Você entende?

Ele jogou os documentos sobre a mesa e massageou as têmporas. O peso da dúvida estava evidente em cada gesto. Eu, no entanto, estava certo de que Campos era o responsável.

- Papai, eu tenho certeza. O Marcelo está aqui de prova. - Apontei para Marcelo, que parecia nervoso, mas confirmou com um aceno. - Conta para o meu pai o que você me disse!

Marcelo meu amigo deu um passo à frente, passando a mão na testa suada, hesitante.

- naquela noite, eu estava no bar da cidade. Vi o ladrão morto conversando e bebendo com o Campos. Não gosto de fazer intriga, mas logo depois disso o gado sumiu. Não é coincidência.

O semblante do meu pai ficou sério. Ele suspirou novamente, balançando a cabeça. Não era do tipo que tomava decisões precipitadas, mas sabia que precisava agir com firmeza naquela situação.

- Se é verdade o que dizem, não posso permitir que ele fique nas minhas terras. - Ele se levantou lentamente, caminhando até a janela do escritório, olhando para o horizonte. - Tire-o daqui, Pedro. Ele e a família dele. Quero todos fora da minha fazenda. Imediatamente.

Senti um peso sair das minhas costas. Finalmente, meu pai tomaria uma atitude.

- Pode deixar, papai. Eu e Marcelo vamos cuidar disso agora.

Saí do escritório com Marcelo e fomos direto para o estábulo. O cheiro de feno fresco e os sons dos cavalos no estábulo sempre me acalmavam, mas não naquele dia. Eu estava decidido.

- Carlos, venha cá! - chamei um dos peões.

- Sim, patrão! - respondeu Carlos, correndo até mim.

- Prepare dois cavalos para mim e para o Marcelo. Vamos resolver um assunto importante. - ordenei, com firmeza.

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