TWO

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O horizonte vasto e imponente do Oeste não era feio como Porto Real. O ar em Rochedo Casterly era mais puro, o vento não carregava o cheiro de podridão e sujeira que impregnava a cidade onde habitava o rei.

Nos dois primeiros anos de seu casamento, a sensação de estar à deriva nunca se dissipara. Longe de casa, do calor de sua terra natal, das areias douradas e do conforto da família. A saudade de Elia a atormentava incessantemente, e à noite, em seus sonhos, ela ainda ouvia os gritos da irmã.

Rochedo Casterly era um castelo magnífico, porém, ela vivia como uma prisioneira. Passava os dias em seus aposentos, olhando para o horizonte sem fim, onde o sol não brilhava como em Dorne, mas ainda oferecia uma espécie de consolo. Contudo, mesmo aquele consolo era superficial, porque não havia paz verdadeira ali.

Ela não confiava nos leões. Lorde Kevan era sempre cortês, a tratava com respeito e, de certa forma, parecia genuíno em suas tentativas de fazer com que ela se sentisse à vontade. Lady Genna Lannister, por sua vez, era uma presença forte, com seu jeito ríspido, mas eficiente. Myriah não a temia, mas também não se iludia com a simpatia da mulher. Quanto a Tyrion, ele era, talvez, o único com quem conseguia trocar algumas palavras sem sentir a pressão de uma desconfiança absoluta. Mas, mesmo com ele, havia uma barreira.

Myriah vivia em alerta. Quando estava na companhia dos Lannisters, era como se estivesse cercada por leões que podiam atacar a qualquer momento. Não importava a hospitalidade, não importava a maneira como a tratavam. Ela sempre sentia a sombra de Gregor Clegane pairando sobre ela. O monstro que havia massacrado sua irmã e seus sobrinhos. Mesmo que ele estivesse longe, Myriah sentia como se ele pudesse aparecer a qualquer instante, arrancando dela tudo o que ainda restava. O nome dele trazia ondas de fúria e medo, mas o medo sempre prevalecia.

E então havia Jaime. Seu marido, em nome apenas. Sua presença era menor do que a de um fantasma, como se ele preferisse evitar qualquer contato. Ela sabia que ele a evitava, mas também sabia por quê. Houve um tempo em que Jaime Lannister fora a pessoa preferida na Fortaleza Vermelha para Myriah. O achava o mais bonito dos cavaleiros e gostava de fazê-lo sorrir para ela. Sabia que tinha o afeto dele, mas então, fora obrigada a ver sua irmã mais velha e seus sobrinhos sendo mortos em sua frente, por obra de Lorde Tywin Lannister e então tudo que conseguia sentir era desprezo pelo homem que ela um dia desejara poder se casar e viera a se casar.

Sua simples presença a lembrava de tudo que perdera naquele dia. Não importava que a tivesse salvado, ele era um Lannister e manter-se afastada era o ideal e deveria agradecer quando ele colaborava tanto para que isso acontecesse. Mas não agradecia.

Não tinham consumado o casamento, porém, dormiam juntos para despistar qualquer rumor de que não cumpriam com o dever patrimonial. As noites que Jaime passava ao lado dela, com seu rosto adormecido e sereno, eram as noites que Myriah mais se sentia protegida e sequer conseguia entender o porquê.

Talvez porque a fizesse se sentir menos sozinha. As cartas para o irmão, Oberyn, permaneciam sem resposta, o que alimentava seu desespero. Toda vez que escrevia, despejava em suas palavras a angústia de uma irmã sozinha, suplicando por qualquer sinal de que seu irmão ainda estivesse lá, ao seu lado, de longe. Mas as respostas não vinham. Apenas Doran, o irmão mais velho deles, respondia e quando Myriah ousava questioná-lo sobre isso, ele sempre desviava, com frases diplomáticas e evasivas, como se tentasse poupá-la da verdade que no fundo ela sabia.

Sozinha em Rochedo Casterly, Myriah não tinha mais ninguém. As cartas eram suas únicas conexões com Dorne, e sem elas, era como se estivesse sendo lentamente consumida pelas paredes daquele lugar. Ela sabia que os Lannisters eram astutos, perigosos, e sabia que eles não a queriam ali, não de verdade. Não passava de uma moeda de troca, um símbolo da aliança que mantinha Dorne sob controle.

E, assim, enquanto o tempo passava, Myriah se fechava cada vez mais. Era mais seguro assim. 

BANE OF EXISTENCE - ASOIAFOnde histórias criam vida. Descubra agora