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Passaram-se uma lua até que o meistre afirmasse que Myriah Martell estava esperando o primeiro filho.

Ela não se surpreendeu com a notícia, afinal, desde o dia do riacho, ela e o marido aproveitavam qualquer oportunidade do dia para se perderem um no outro, alguns dias, muito mais do que apenas uma vez, o que tornava inevitável que logo esperassem um filho.

Sentia-se completamente inebriada quando estava em seus braços e queria essa sensação o tempo todo.

Acontece que não imaginou que logo conheceria uma sensação ainda melhor do que ser possuída por Jaime Lannister e que essa sensação seria ser cuidada por Jaime Lannister. E ao passo que sua gestação evoluía mais conhecia esse seu lado.

A cada dia, ele se mostrava mais presente. Quando não estava ao lado dela, fazia questão de supervisionar os preparativos para a chegada da criança ou garantir que os melhores mantimentos chegassem a Rochedo Casterly. Mas o que mais a tocava era o jeito que ele cuidava dela, com toques delicados, preocupações sussurradas no fim da noite e a forma como seu olhar se demorava em sua barriga, repleto de admiração.

Foi justamente nesse período que as noites de Myriah se tornaram mais tranquilas. Antes, sempre acordava assustada, suando frio com o mesmo pesadelo recorrente: Elia, sua irmã mais velha, sendo brutalizada por Gregor Clegane enquanto Myriah, imobilizada por um homem desconhecido, era obrigada a assistir. A voz ameaçadora dele ecoava em seus ouvidos, dizendo para ela manter os olhos abertos, para assistir o que ele faria com ela depois.

Parou de enviar cartas a Oberyn e, gradualmente, até sua correspondência com Doran se tornara menos frequente. Sentia-se estranhamente em paz ali no Rochedo, mais conectada àquele lugar e às pessoas ao seu redor do que havia sentido nos últimos anos.

Certo dia, já com a barriga enorme e prestes a dar à luz, ela estava tomando o desjejum com Jaime e Tyrion. Os dois irmãos implicavam um com o outro, lançando farpas bem-humoradas, e Myriah, rindo das provocações, se deu conta de algo profundo: ela se sentia em família com eles. Aquela sensação de pertencimento que ela jamais imaginou encontrar tão longe de Dorne agora estava ali, ao seu alcance. O Rochedo Casterly era mais do que o lar de seu marido, tornara-se também o dela.

Quando a noite da chegada do bebê finalmente chegou, chovia forte. O som da tempestade parecia refletir a intensidade das emoções de Myriah. Ela segurava com força a mão de Jaime, sentindo cada contração com a alma, enquanto ele permanecia ao seu lado, incansável. Secava o suor de sua testa e murmurava palavras gentis e encorajadoras em seu ouvido.

Então, o som tão aguardado preencheu o quarto: o choro forte de uma criança. Myriah viu Jaime suspirar, o alívio estampado em seu rosto. Quando o meistre anunciou que era um menino, Jaime, mesmo sem sorrir abertamente, tinha os olhos marejados de emoção. O meistre entregou o bebê nos braços de Myriah, que, ao olhar para os olhos castanhos do filho, sentiu o peito inchar de amor e alegria.

Ela então olhou para Jaime, que continuava a observá-la com uma mistura de orgulho e vulnerabilidade.

- Escolha um nome para nosso menino – pediu ela, com a voz suave, mas firme.

Jaime a olhou, surpreso.

- Eu? – ele balançou a cabeça, desconcertado – Você deveria escolher.

Myriah deu de ombros, ainda sorrindo, enquanto os olhos brilhavam.

- Sempre soube o nome que daria à minha primeira filha, mas nunca pensei em um nome para um menino. Portanto, insisto, marido. Escolha você.

Com um olhar intenso, Jaime estendeu os braços para segurar o filho. Ele o observou por alguns minutos, em silêncio, como se tentasse ler algo em seu pequeno rosto. Então, finalmente, sorriu, um sorriso genuíno que fez o coração de Myriah bater mais forte.

- Arthur – disse ele, com suavidade – Arthur Lannister.

Myriah reconheceu o nome imediatamente. Sabia que era em homenagem a Arthur Dayne, o lendário Espada da Manhã, que havia sido uma figura de imenso respeito para Jaime. Ela assentiu várias vezes, emocionada, compartilhando o mesmo respeito pelo homem que tanto havia influenciado o marido.

- Arthur – repetiu ela, acariciando o rostinho do filho. O nome soava perfeito, como uma promessa de força e honra. E ali, em meio à chuva que ainda caía, Myriah percebeu que aquele era o início de algo novo, algo forte e inquebrável, como a família que estavam formando juntos.

Porém, tudo desmoronou quando ela menos esperava.

Achou que uma viagem até Porto Real para apresentar seu filho para o rei e a rainha seria algo inofensivo. Deveria saber que aquele lugar, nada tinha de bom para dar para ela.

As primeiras noites passaram tranquilas. Jaime ficava a maior parte do tempo ao seu lado, assim como fora desde o nascimento de Arthur. Dormia a segurando em seus braços enquanto o bebê dormia no berço ao lado da cama. No entanto, na terceira noite, algo a faz despertar e isso fez com que notasse que os braços do esposo já não a rondavam e que ele não estava lá. Inicialmente, pensou que ele tivesse saído por algo trivial, algum chamado ou urgência. Portanto, apenas verificou se o filho continuava a dormir e voltou a adormecer.

Na quarta noite, aconteceu o mesmo. Myriah acordou e encontrou o espaço ao seu lado vazio novamente. Mas devido ao cansaço, apenas retornou a dormir.

Porém, no quinto dia na Fortaleza Vermelha, precisou retornar apressadamente até os aposentos que haviam sido disponibilizados para ela, Jaime e o filho. Um pequeno acidente fez com que Arthur sujasse o seu vestido e retornava ao quarto para trocá-lo. A luz do dia iluminava os corredores, mas enquanto andava apressadamente, ouviu vozes, sussurros abafados que pareciam vir de um canto escondido. Algo na suavidade e no timbre daqueles sussurros fez seus sentidos alertarem. Ela parou, tentando discernir as palavras. E então, seguiu o som.

O que viu a seguir, paralisou-a.

Escondida nas sombras de um corredor mal iluminado, seus olhos avistaram uma cabeleira loira. Familiar demais. O coração de Myriah bateu mais rápido, e seus pés se recusaram a se mover. Os sussurros se transformaram em murmúrios mais claros, seguidos pelos sons inconfundíveis de beijos. Pensou em virar-se, deixar o local e fingir que não reconhecia aqueles cabelos loiros.

Mas então, deu mais um passo e viu Cersei Lannister, olhando-a, sorrindo maliciosamente. Seu corpo era coberto por Jaime, que beijava o colo desnudo da irmã.

Sentiu vontade de vomitar, de gritar, de correr, atirar-se em cima deles. Mas permaneceu estática, seu corpo não se mexia. Estava presa àquela cena, incapaz de fazer qualquer coisa, apenas assistindo enquanto seu coração se despedaçava. Jaime, o homem que ela havia aprendido a amar, estava ali, traindo-a com a própria irmã.

Cersei, por sua vez, mantinha os olhos fixos em Myriah, um sorriso triunfante no rosto, como se quisesse provar sua superioridade, como se soubesse que tinha poder sobre Jaime de uma maneira que Myriah nunca poderia ter. Foi nesse instante, naquele olhar cheio de malícia e satisfação, que Myriah soube que sua vida jamais seria a mesma.

E pela primeira vez, desde o dia que em sua irmã foi violentada e morta em sua frente, sentiu todo o corpo ferver em ódio.

Sentiu muitas coisas desde aquele dia, a principal delas era tristeza e desilusão. Cresceu como uma criança encantadora, chamada e conhecida por Sol de Dorne, mas quando o seu brilho foi apagado pelos vassalos de Lorde Tywin Lannister, sequer foi capaz de sentir ódio. A tristeza foi tanta em seu peito, que tudo que sentia era a intensa vontade de também ter morrido naquele dia.

Foram homens de Lorde Tywin Lannister que haviam tirado sua vontade de viver. E ironicamente, o seu filho foi o responsável por trazê-la de volta a vida. Não permitiria que ele e mais ninguém fosse capaz de tirar aquilo dela novamente. E se não fosse capaz de fazer isso por si, faria por seu filho.

Naquele instante, Myriah decidiu que não se deixaria quebrar. Não deixaria que o peso da traição a consumisse ou definisse o futuro de seu filho.

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⏰ Última atualização: Oct 11 ⏰

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