Captura

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Seu coração batia forte, suas pernas doíam pelo esforço e suas mãos tremiam desesperadamente. Quem o visse agora nunca imaginaria que aquele homem de rosto vermelho e ensopado de suor é o mesmo conhecido por ser um assassino cruel e temível. O Transmutante de Corpos – um de seus vários títulos - se encontrava correndo pelo castelo do reino, o mais rápido que suas pernas cansadas conseguiriam. O homem só pensava em encontrar um lugar seguro, urgentemente, para que pudesse se esconder e aguardar, até que algum trouxa qualquer aparecesse e tomasse seu corpo.

Ao avistar dois guardas, com escopetas apontadas para si no final do corredor, olhou para trás e viu mais quatro, com dois deles segurando cachorros ferozes que latiam em sua direção, suas bocas espumando e suas garras à mostra. Seu plano foi à merda, não teria como escapar, sabia disso. Com esse pensamento, parou, se ajoelhando em seguida, as mãos na cabeça e o corpo curvado. Sabia que, se não fizesse a vontade dos guardas, levaria um tiro ou seria abocanhado pelos cães. O homem tinha plena consciência de que eles não podem matá-lo, mas nada os impedia de brincarem consigo e infringir-lhe dor para seu próprio divertimento.

Os homens armados se aproximaram, as armas ainda apontadas para seu corpo em locais que o deixariam imobilizado se ousasse fazer algo. Mas Chan não é burro, ficaria como está, pelo menos por enquanto. Os outros quatro fizeram o mesmo, e um dos que estava sem os cachorros o amarrou, levantando-o e puxando seus braços grosseiramente para que pudessem andar.

Após minutos de caminhada, com piadas dos guardas sobre a atual situação do homem e vários lances de escada, chegaram a um grande salão, possibilitando-os ver Rei Eldrian sentado no trono, um sorriso presunçoso e vitorioso brincando em seus lábios. Os olhos enrugados voltados para sua presa, fitando-a de cima, em uma clara demonstração de poder e superioridade. Os guardas o reverenciaram e o que estava arrastando Chan o jogou no chão de joelhos em frente ao rei.

         - Reverencie ao vosso rei – O homem alto e robusto segurou seus cabelos e forçou para baixo, mas Chan se recusou, nunca daria esse gosto para o velho desprezível, sentado em um altar, sentindo-se o próprio Deus. Ao ver que o transmutante não faria o que foi pedido, bateu com a escopeta em sua cabeça. - Sua merdinha insolente.

        - Deixe-o – O rei abana com a mão, o sorriso ainda em seu rosto. - Vejo que mesmo nessa situação, você ainda demonstra insolência. Tenho certeza de que não irá durar muito tempo. Não perca seu tempo e não me faça perder o meu, curve-se a mim, seu rei, e trabalharemos juntos.

       - Meu rei está morto. - Christopher cuspiu nos pés do rei, depois que ele se levantou e parou à sua frente. - Você o matou! - O homem gargalha, puxando os cabelos de Chan ajoelhado, levantando seu rosto. Irritou-se pela ousadia, mas a situação atual o divertia ainda mais. O dia que esperou por anos havia finalmente chegado. Sua presa e futura ferramenta está em sua frente, machucado e amarrado, e o mais importante, em suas mãos.

       - Você será bem adestrado pelos meus homens. Pode não ser hoje, mas ainda se curvará a mim e beijará meus pés. A partir de hoje, será meu prisioneiro, minha propriedade. E um dia, será usado como meu instrumento na expansão do território. - Com a mão livre, agarrou rudemente o queixo de Christopher. - Saiba que você é meu, a partir de agora.

       - Eu nunca serei sua ferramenta, prefiro a morte a me sujeitar a servir alguém tão desprezível como você. - A fala, dificultada pelo aperto no queixo, sai entredentes. Seu tom é carregado de raiva e notas altas de nojo. Pode ter sido capturado, mas se recusa a se entregar facilmente. Toda a sua vontade, no momento, é ter forças o suficiente para pegar uma das escopetas e matar o homem na sua frente com um tiro bem na testa, nem que morresse após isso. Seu estômago se revira somente em ouvir sua voz. Mas seu corpo está fraco e machucado devido aos combates que teve minutos antes.

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