A Execução

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Obs..: Esse capítulo contém descrições de violência um pouco mais detalhada, com sangue, cortes e tiros. 

...


O grande dia chegou.

Mesmo que de longe, Chan foi capaz de ouvir a bagunça do festival, a música e os fogos. Estava ansioso, passou o dia andando de um lado para o outro, fez alguns exercícios e só dormiu depois que a dose diária foi aplicada. Acordou ao cair da noite, sua mente trabalhando rápido o suficiente para permanecer em estado inerte por muito tempo.

Como dito, Jisung voltou com mais informações uma semana depois da conversa, entregando-lhe por escrito seu plano. Após ler três vezes e decorar cada detalhe, jogou na privada e deu descarga, não queria correr o risco de alguém achar e estragar tudo. Pelo que foi relatado na folha, seriam vinte e dois guardas, um por andar, dois na porta do lado de dentro e o restante fazendo ronda ao redor da torre. Tudo aconteceria à meia-noite, quando a orquestra terminaria o espetáculo e os fogos brilhariam no céu noturno. Todos os presentes na festividade estariam com os olhos vidrados aproveitando a exibição, inclusive o Rei Eldrian. Os guardas, em sua grande maioria, estariam por lá, garantindo a segurança do rei e seus convidados de honra, dando a chance que o aprisionado esperou por muito tempo.

O homem de cabelos pretos como petróleo observa a escuridão da noite pela janela. Pode notar, a alguns quilômetros de distância, as luzes da festividade. Depois de seus nove anos de idade, não pôde aproveitar um festival, preso entre treinos e missões, não tinha tempo para algo assim. Lembra-se com carinho quando ia junto aos seus pais a um, se divertiam indo de barraca em barraca, comprando comidas deliciosas e brincando, jogando a água da fonte uns nos outros, apreciando a brisa noturna e o brilho da lua e assistiam à queima de fogos. Momentos cravados em sua mente, de uma forma que o traz conforto e dor.

Na noite anterior, Jisung trouxe um espelho de bolso, tesoura e lâminas de barbear, para que pudesse cortar os cabelos e fazer a barba. Em suas palavras: "Amigo, você está acabado. Parece mais um mendigo do que um assassino cruel e sanguinário". O Bang se sentiu levemente ofendido, não negava, mas ficou agradecido, imaginava que sua aparência não estava das melhores mesmo.

Devido ao pequeno presente, o homem, no momento, está molhando seu rosto e ensaboando com sabonete de lavanda. Em seguida, ruma novamente à janela, mas não para observar, e sim para depositar o pequeno espelho na grade de ferro em cima do peitoril estreito. Com a lâmina em mãos, começa a se barbear; primeiro nas bochechas, depois bigode e por fim o pescoço; ao ter a pele lisa, passou a mão pelo rosto, sentindo a maciez que há muito não sentia. Depois, pega a tesoura, cortando os cabelos e finaliza as laterais com a lâmina. Não é um cabeleireiro ou barbeiro exímio, mas já tinha cortado o cabelo de seus irmãos quando era mais jovem, havia feito um bom trabalho no seu; e comparado à sua situação anterior, estava bem melhor. Se olha no espelho, analisando cada parte do novo corte e do rosto liso, e sente falta de algo, da sua marca. Por fim, modela a sobrancelha como pôde, fazendo um risco vertical em cada. Agora sim, perfeito! Sorri contente para seu reflexo, finalmente sentia ser ele mesmo.

Caminha de volta à pia para lavar-se, joga água nos cabelos, penteando-os com os dedos; e em seu rosto e corpo inteiro, ensaboando-se e depois enxaguando. Todo o banho dura vinte minutos pela dificuldade, somente suas mãos em formato de concha servindo para banhar-se. Seca-se com o lençol - não o usaria mais, se desse tudo certo – e escova os dentes.

Já vestido - calça jeans preta e camiseta preta de manga longa -, retorna para perto da pia, levando a mão ao esconderijo na parede, pegando a madeira e o papel. De volta à cama, sentado, abre a folha amassada com alguns escritos em cimmeriano antigo. Sua sorte é que já tinha estudado a língua com Kaleo. O idioma foi extinto quando a vila passou a ser marginalizada, sendo utilizado somente por moradores e aqueles que praticam magia obscura, que aparentemente é o caso de Minho. Leva a lâmina ao dedão esquerdo, fazendo o corte para que o sangue jorre. Em seguida, passa pelos entalhos de runas e símbolos.

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