Noite da Tequila

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Há pouco mais de três meses, o caso de Hannah Donfort foi fechado. Depois de muito trabalho (e riscos), nós a encontramos. Ela está em segurança, com sua família e faz terapia regularmente, para superar o trauma. Ela foi encontrada em um estado deplorável de desidratação e anemia, dadas as condições em que foi mantida em cativeiro.
Richy era o verdadeiro culpado. E agora está preso em um presídio fora da cidade. Seu pai pediu á Jessy que continuasse trabalhando na oficina com ele, pelo menos até que encontrasse alguém disponível para trabalhar, caso ela quisesse sair de lá.
Nos vemos quase todos os dias, o pessoal e eu. Sempre vamos ao Aurora, beber um pouco e conversar.
Essa noite é a noite da tequila. Fiz uma aposta com o Dan. Quem perder, paga a noitada. Depois de tudo, as noites com o pessoal no Aurora parecem preencher a falta que ele me faz. Jake.
Ele sumiu depois que tudo foi encerrado. Não sei se está vivo, preso ou morto. Depois da explosão da mina, os policiais encontraram apenas o Richy, perambulando pelas florestas de Duskwood, cheio de ferimentos devido a explosão. Isso me faz ter uma ponta de esperança. Se Richy conseguiu sobreviver, talvez ele também tenha conseguido. Espero que sim. Sinto tanta saudade. Dele e das nossas conversas.
Nós já tinhamos nos visto antes, uma vez, eu acho. Depois que o caso foi encerrado, acho que o vi ao longe, nos observando. Vi sua silhueta, ao menos acho que vi, e senti aquele sentimento de quando conversávamos, senti que era ele, mesmo não tendo certeza. Sei que precisou ir, por segurança.
E agora, cá estou eu, sentada no meu sofá cor de grafite, esperando dar a hora de ir até o Aurora.

Ao chegar no bar, todos já estão sentados á uma mesa perto de uma das janelas. Ao me verem, acenam, animados.
"NOITE DA TEQUILAAAA!"
Gritam, todos juntos, em coro, erguendo seus copinhos em uma espécie de brinde, assim que eu chego.

_ Pronta para perder? _Dan pergunta, com cara de confiante.

_ Pronto para pagar a noite da tequila sozinho? _retruco, me sentado ao lado de Jessy.

_ Como você está? _ela me pergunta.

_ Vou indo bem. Onde está Hannah?

_ Ela não pôde vir. Queria repor algumas matérias da faculdade que perdeu... _disse ela, desanimada com esse fato. Sabíamos bem o motivo pelo qual ela havia perdido suas matérias. Mas hoje não é dia de relembrar de coisas ruins do passado. Está tudo bem agora. Acabou.

_ Então, pessoal. Vamos começar as rodadas? _pergunto e todos concordam muito animados.
Phil se aproxima de nossa mesa, com uma bandeija cheia de copinhos, sal e alguns limões e, uma bela garrafa de tequila.

_ Eai, como vai ser? _ Lilly pergunta.

_ Eu trouxe a roletinha com nossos nomes. Um contra um, mas dois de cada vez. Quem perder, está fora. E quem ganhar, espera pelo próximo oponente! _diz Thomas, colocando a pequena roleta em cima da mesa.
Phil se senta ao meu lado, me cumprimentando com um leve beijo no rosto.

_ Vamos começar! _ Cleo gira a roleta que, segundos depois, seleciona o primeiro nome. Dan.
Ele gira a roleta novamente, para escolher seu oponente. E Thomas é selecionado.

_ Preparem seus copinhos! Um, dois, três, bebam! _grito, dando início as rodadas. A idéia é tomar, sem fazer careta, sem devolver bebida para o copo ou cuspir e claro, sem vomitar.
Na primeira dose, os dois empatam. Tomam tranquilamente. Mas percebemos que Thomas se esforça mais do que o Dan para segurar a expressão imparcial.
Mas na segunda dose, ele não tem tanto sucesso assim e acaba perdendo. Dan gira a roleta novamente e a próxima dupla é Jessy e Phil.

_ Irmão contra irmã! Pronta, ruivinha? _Dan pergunta e ela dá uma piscadela, afirmando que sim.

Os dois começam a beber. Diferente de Thomas, ela aguenta 4 rodadas de doses de tequila contra o Phil. Mas perde na quinta, cuspindo bebida fora. Phil ergue as mãos para cima, comemorando a vitória. E assim foi indo, girando a pequena roleta, um contra um. Até que no final, restava apenas Dan e eu, um contra o outro.

Eu já havia perdido as contas de quanto já tinha bebido, mas minha visão já estava começando a ficar embaçada e uma leve vertigem na cabeça. Eu ria sozinha e achava as caras e bocas do pessoal assistindo, engraçadas. Dan devia estar muito pior do que eu, havia bebido muito mais em rodadas anteriores.
Mas eu não vou deixá-lo vencer desta vez. Vou segurar o enjôo e a cara, e ganhar. E acho que será fácil, pois Dan aparenta já não estar mais se aguentando.

_ Prontos? Mais uma rodada! _ Phil anuncia.

Nos preparamos e bebemos, virando o copinho com o líquido com tudo. Dan fica imóvel por alguns segundos e em seguida, boom, o barulho de sua testa batendo na madeira da mesa, indica que eu sou a vencedora da noite.

_ É, ele desmaiou _Jessy diz, depois de verificar. Todos riem. Finalmente, Dan pagará a noite da tequila sozinho.

_ Acho que a próxima a desmaiar serei eu. Preciso ir ao banheiro. Jessy, pode me levar? _digo, com a fala mole.

Me levanto, cambaleando e Jessy me segura pelo braço. Me apoio nela, caminhando por entre as pessoas até o banheiro. Hoje, o bar parece estar mais cheio do que nunca havia estado. Pessoas na pista de dança, curtindo o showzinho ao vivo de uma banda de rock local, pessoas sentadas ao balcão, bebendo e conversando com o barman e pessoas espalhadas em volta das mesas que preenchem o lugar.
Sinto meu coração disparar quando olho em direção ao fundo do bar, onde ficam as últimas mesinhas redondas de madeira, mais afastadas de tudo. Uma silhueta familiar sentada ao longe que parecia me observar. Paro de andar, minha visão está turva, aperto os olhos, tentando enxergar melhor. Ouço a voz de Jessy perguntar "Por que parou?", mas não respondo. Será que...
A silhueta permanece imóvel. Seu capuz parece esconder seu rosto. Estou tão bêbada assim?
Sinto um frio no estômago e gotas de suor em minha testa. A visão cada vez mais turva, até não enxergar mais nada além de uma tela escura.

Duskwood - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora