cachoeira

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Nesse exato momento, estou sentado na sala da dona Maria, esperando o Diego terminar de tomar banho. Se você me falasse que um garoto ia chegar do nada e, em 4 dias, ocuparia 90% dos meus pensamentos, eu ia rir, até porque esse espaço era do Bernardo. Mas enfim, ele saiu do banheiro e veio caminhando em minha direção.

-- Nãoooo - eu levantei, já sabendo que ele queria me molhar.

-- Eu não vou fazer nada - ele levantou a mão, mas aquele sorriso não me engana.

-- Você não me engana - dei língua para ele.

-- É melhor você correr agora então - ele amarrou a toalha para não cair e já veio correndo na minha direção.

-- Não... - eu virei e fui abrir a porta da sala, mas ele foi mais rápido e me agarrou por trás.

-- Peguei -- ele me abraçava.

-- Isso não vale, Diego, você nem deixou eu pensar direito.

-- Eu não tenho culpa se você é pequeno e lento - me abraçava mais forte.

-- Eu não sou pequeno - ele me virou.

-- É mesmo - levantou meu queixo.

-- Tá um pouco, mas você também cresceu demais, não acha?

-- Acho que não, porque se não, eu não ia conseguir fazer isso - se abaixou, agarrou minhas pernas e me jogou nos ombros.

-- Você é maluco - não tinha como, eu comecei a rir porque ele é assim.

Me levou para o quarto dele e me colocou em sua cama. Ter aquela visão era incrível: um cara de 1,97 só de toalha na sua frente. Não era todo dia que você tem esse privilégio, né? Pegou o controle da TV, ligou, colocou uma música qualquer e começou a dançar, fazendo palhaçadas para eu rir. Agora tocava uma lenda.

-- Vem - chegou perto, me estendendo a mão.

Sem muita enrolação, peguei na mão dele e começamos a dançar juntos. Coloquei minha cabeça no peitoral dele e ele me envolveu nos braços. Eu me sentia tão seguro e, de repente, um medo me pegou e, sem perceber, me soltei dele.

-- Aconteceu alguma coisa? - ele me questionou, ainda com as mãos na minha cintura.

-- Não - voltei para o peitoral dele. Claro que ele sabe que tem algo que está me incomodando, mas preferiu não insistir, o que eu agradeço. Ontem ele falou que vai morar aqui. Agora eu não quero perdê-lo. Tipo, eu sei que só tem quatro dias que nos conhecemos, mas eu já estou apegado a ele. Eu sou muito emocionado, mas como não ser? Ele é perfeito! Ele ajuda a todos; se ele está em um local, não tem como não rir. É muito esperto, juro, ele é incrível, o príncipe que eu sempre sonhei. E saber que só temos 10 dias me deixa desesperado e sem rumo.

Enquanto ele colocava a roupa, eu mandei uma mensagem para a Clara pedindo para me ligar em 5 minutos, e ela atendeu rápido. Quando ela ligou, eu falei que era minha mãe pedindo para eu ir para casa. Ele queria vir junto, mas eu falei que voltaria rapidinho e era para ele escolher o filme.

Só que eu não voltei e nem fui para casa. Estava triste, queria ficar sozinho e em casa não conseguiria. Mandei uma mensagem para a Clara dizendo que não ia voltar cedo, só para ninguém ficar preocupado comigo. Olhei no meu relógio e marcava 12:30. Fui para a cachoeira; sempre que eu ia, era tranquilo e não tinha muita gente. Sentei em um lugar um pouco escondido, entre as pedras, coloquei meus fones e acabei dormindo com a música calminha que tocava. Acordei e vi a hora no meu celular: 18:20. Levei um susto e desbloqueei meu celular. Tinha uma mensagem da minha mãe perguntando onde eu estava e duas ligações perdidas. uma da minha prima perguntando o que rolou, e um monte de mensagens do meu irmão falando que eu não podia sair assim sem avisar, entre outras.

Também tinha 20 mensagens do Diego perguntando se ele fez alguma coisa e que era para eu voltar logo, que ele estava preocupado comigo. Até do Bernardo tinha. Respondi a todos, tirando o Diego; não quero ver ele, sinto que vou chorar.

Chegando perto da casa, eu já via minha mãe e irmão me esperando, e ele com aquela cara de bravo dele.

-- Onde você estava? Nós estávamos tão preocupados! - disse com um olhar preocupado.

-- É, você não pode simplesmente sair sem avisar! E se algo tivesse acontecido?

-- Desculpa, eu só fui dar uma volta na cachoeira e perdi a noção do tempo - se eu falasse que dormi lá, eles nunca mais me deixariam em paz, falando que eu sou irresponsável e afins.

-- Tudo bem, mas você precisa nos avisar. Não temos como saber se você está seguro. - Ela suspirou.

-- Vem cá - ele me puxou para perto deles. -- Só queremos que você esteja bem.

-- Eu sei, eu prometo que da próxima vez eu vou avisar. Abracei-os.

-- Isso é tudo o que pedimos. Nós nos preocupamos porque te amamos.

-- E não queremos que você se meta em encrenca. Agora, vamos jogar Uno com a galera.

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O restante do dia foi tranquilo. Eles jogaram até o horário do jantar e o Gabriel respondeu ao Diego, falando que estava tudo bem e que amanhã eles se veriam. O jeito de fazer ele não vir aqui foi tomar banho e ir dormir, mas fui interrompido pela chegada de alguém no quarto, ligando a luz.

"Eu... não sabia que você estava aqui," disse Diego, tentando quebrar o silêncio constrangedor. "Você me pegou de surpresa."

Bernardo desviou o olhar, coçando a nuca nervosamente. "É, eu só... pensei que você estaria sozinho. Desculpa por isso."

Gabriel sentiu um frio na barriga. "Não tem problema. É só que... eu estava me preparando para dormir."

Mais uma vez, o silêncio se instalou entre os dois. A atmosfera estava carregada de uma estranha mistura de sentimentos e algo não dito. Bernardo, sem saber como continuar, começou a balançar os pés nervosamente.

"Então, eu vou... é melhor eu ir," Bernardo finalmente murmurou, a voz quase inaudível. Ele ficou parado por um momento, olhando para Gabriel, como se quisesse dizer algo mais, mas as palavras não saíam.

Gabriel o observou, sentindo a intensidade do olhar. Era um momento que parecia durar uma eternidade, até que, de repente, Bernardo virou-se e saiu rapidamente do quarto, fechando a porta atrás de si.

Gabriel ficou ali, sozinho, com o coração acelerado e a cabeça cheia de perguntas. O que tinha acontecido? O que aquilo significava? A noite havia tomado um rumo inesperado, e ele não conseguia parar de pensar no olhar de Bernardo antes de sair.

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