Aqui nem tem cachorro

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Julia narrando.

— Finalmente em chapel hill — sinto o sol escaldante em cima de nós e suspiro cansada sabendo que ainda teríamos que pegar uma balsa para finalmente chegar em outer banks.

Foram horas de voo e ainda sim precisaríamos da balsa.

— Tô com fome — ouço meu irmão reclamar.

— Antes fosse só você — reclamo de outro lado, foram horas de viagem, fora que meu irmão e eu parecemos dois poços sem fundo.

— Crianças, vamos logo colocar nossas malas na balsa e vemos se tem algo vendendo para vocês se alimentarem — minha mãe diz e coloca o óculos de sol e caminha em nossa frente.

Admiro muito minha mãe, ela é muito forte e resiliente, enfrentou grandes desafios ao cuidar de duas crianças sozinhas, dedicando boa parte de sua vida na minha criação e a do Nate.
Nunca conheci meu pai e nem pretendo conhecer, meu pai abandonou a minha mãe grávida de gêmeos e querendo ou não isso causou um vazio imenso na vida de duas crianças que cresceram sem figura paterna, mas hoje em dia isso não nos incomoda nem um pouco, porque a nossa mãe fez o papel de mãe e pai.

Colocamos nossas coisas na balsa e aproveitamos que ainda tínhamos poucos minutos antes dela partir e fomos comprar um lanche para pelo menos disfarçar a fome que se fazia presente em nossos estômagos.

— Porra, não sei se é a fome ou se isso aqui tá realmente bom — meu irmão diz com a boca cheia de coxinha de frango, ou melhor, uma imitação barata de coxinha de frango.

— Olha a boca, garoto — minha mãe reclama dando um tapinha no ombro do nate.

— É a fome, isso aqui não chega nem aos pés da coxinha brasileira — faço careta ao morder outro pedaço e ver que o gosto não estava dos melhores.

— Sua fresca — reviro os olhos com o apelido do meu irmão.

— Pelo menos eu tenho educação e não como de boca aberta, otário — mostro o meu dedo do meio para o mesmo e sinto o mesmo jogar uma bolinha de guardanapo em minha direção — Enfia isso no seu cu.

— Parem com isso — minha mãe puxa a minha orelha e a do meu irmão — Vamos, vocês terminam de comer na balsa.

Antes de levantarmos mostro a língua pro meu irmão e logo seguimos até a balsa que não demorou para partir com destino a outer banks.

Outer banks, o paraíso na terra, é o tipo de lugar onde você tem dois empregos ou duas casas, duas tribos e uma ilha.

Não tardou muito e chegamos em Outer Banks ainda pela tarde e agora estávamos no carro de Sarah, ela veio nos buscar.
Eu estava me sentindo feliz por estar em outer banks e reencontrar minha melhor amiga e posso dizer que foi um reencontro repleto de emoção e nostalgia.

— Quem diria, você dirigindo? — pergunto sorrindo e olho para minha amiga que estava dirigindo.

Sarah morria de medo de andar até de bicicleta, imagina dirigir um carro. 

— O Rafe me ensinou a dirigir no verão passado — ela diz e joga os cabelos e solta um beijinho no ombro.

— Ele te ensinou a andar de bicicleta também? — escuto a voz zombeteira do meu irmão.

— Cala a boca, eu aprendi a andar de bicicleta seu palhaço — Sarah semicerra os olhos e desvia a atenção da estrada apenas para dar uma olhada rápida em meu irmão.

— Uau, que surpresa — meu irmão ri da reação da mesma.

— Querida, como você cresceu, como vai a Rose e o Ward? — minha mãe pergunta depois do meu irmão parar de zombar da Sarah.

— Eles vão bem tia, e a senhora? Quando vão voltar a morar aqui? — Sarah pergunta estacionando o carro em frente a casa dos Cameron.

— Vou ótima. Não pretendo voltar a morar aqui mas quem sabe? O destino pode surpreender — minha mãe  engata em uma conversa com Sarah e logo vejo a porta principal abrir e vejo o tio Ward e a tia Rose sairem de lá.

— Tios! — meu irmão exclama e vai cumprimentar os mesmos que se aproximam.

Faço o mesmo que o meu irmão e vou cumprimentar meus tios, não são de sangue mas sim de consideração, tendo em conta de que cresci na casa deles e sarah na minha.

— Vem, vamos subir — Sarah nos chama enquanto nossos pais estão em uma conversa animada.

Pego minhas coisas com a ajuda de Sarah e subo juntamente com ela e meu irmão.

— Você pode dormir aqui comigo se quiser, Ju.

— Pode ser, se não for atrapalhar.

Sei que não atrapalho mas mesmo assim não gosto de ficar com o pensamento de que estou atrapalhando.

— E eu? — Nate pergunta se jogando na cama de Sarah.

— Ah, você pode dormir lá na casa do cachorro — alfineto o mesmo em um tom sarcástico.

— Aqui nem tem cachorro — escuto uma voz familiar e viro meu rosto em direção a voz.

Faço careta ao ver de quem se tratava, Rafe Cameron. Nossa relação sempre foi uma montanha russa de emoções de ambas partes, não amorosas, é claro, Rafe e eu já tivemos nossa fase em que compartilhávamos momentos divertidos, brincadeiras e até mesmo segredos.

Porém, quando o menino completou seus 14 anos tudo mudou e eu não sei o motivo. A partir daí, ele começou a me provocar, zombar e isso causava muitas confusões entre nós dois, apesar disso tudo, sei que no fundo ainda há uma conexão entre nós, mas agora se entrelaça com uma rivalidade silenciosa, ou nem tão silenciosa assim.

— Só se o cachorro for você — digo baixo com desdém.

— Eu sei que me ama, Julia — ouço o mesmo responder e me praguejo pelo mesmo ter escutado.

Dou graças a Deus mentalmente quando meu irmão se levanta e vai cumprimentar o melhor amigo de infância dele, que logo saem do quarto, pois é, parece que o bom gosto sobrou só pra mim.

Just A Summer, Rafe Cameron. Onde histórias criam vida. Descubra agora