Três.

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proeza

— Não tô gostando disso não, Proeza. Tá maluco, cara?

— São ordens do general, Gorilla, eu quem te pergunto se tu tá maluco?

O arrombado do Laércio tava possesso quando descobriu que Baco queria usar a sobrinha pra levar e trazer informações importantes pra ele.

— Tu tá doido de mandar recado por ela, porra? Se a polícia descobre a mina vai perder tudo, vai perder o emprego, vai ser presa... Ela é só uma menina!

— Baco não é idiota, mano. Ele sabe o que tá fazendo. — Me joguei no sofá, massageando minha cabeça. Toda essa história de envolver a mafe tava acabando comigo também.

— Eu vou ver ele na próxima visita, a gente vai conversar e ele vai mudar de ideia.

— Tu vai fazer viagem perdida, Gorilla. Já tentei de tudo, o homem tá irredutível. Ou tu acha que eu quero ver a Maria Fernanda nessa posição? A coitada nem sabe. — respirei fundo e tirei meu sapato com meu próprio pé, me ajeitando no sofá velho. — E se ela soubesse, tudo estaria perdido.

— Se ela soubesse, ela jamais aceitaria. — Gorilla me encarou como se pedisse socorro e eu dei de ombros. — Se alguma coisa acontecer com ela e minha mãe souber, eu morro, cara. A velha me mata de verdade.

— E quem disse que isso é problema meu?

— Tu tá tranquilo com essa merda? Vai dizer que não se importa? Eu vi o jeito que você olha pra ela, Proeza. Para de pagar de superado!

— Tu viu a roupa que a mina tava usando? Viu como a bunda dela fica marcadinha naquele short? Até cê olhou, Gorilla. — meu parceiro me encarava mortalmente e eu controlei a vontade de dar risada. — Já era, cara. Eu não posso fazer nada, você não pode fazer nada. Baco já decidiu. Tá feito! Quando mais cedo você se acostumar com a ideia, melhor.

— Pro caralho, você e ele

Eu não sabia porque de uma hora pra outra Gorilla se importava com a sobrinha dele. Lá no fundo, eu também me importava, mas não tinha nada que eu pudesse fazer.

Baco tinha decidido e não mudaria de ideia nem se eu implorasse. Óbvio que ele me garantiu que nada aconteceria com Fernanda, também tinha policiais corruptos do lado dele, mas ainda assim era um risco que eu não queria que ela corresse.

Ainda assim aquela morena da cor do pecado mexia comigo e ainda assim eu tava extremamente puto com essa merda.

Ver ela com aquele pijama curto, a barriga trincada de fora e a bunda perfeitamente marcada no short que mais parecia uma calcinha mexeu comigo demais.

Porra, que mulher!

E eu também sabia que ele não era pra mim e nunca seria, no instante que nos afastamos e nossas vidas tomaram rumos diferentes.

Mafe era uma mulher honesta, com um futuro brilhante pela frente.

Eu era só o filho de chocadeira, de uma cidade do interior que agora era sub de um morro que eu sequer gostava. Nós dois jamais teríamos nada.

E ter que envolve -la nisso me quebrava em milhões de pedaços, mas era necessário.

Baco não costumava errar, e se ela não soubesse, as chances da polícia nos pegar eram mínimas. Na verdade, ela era a vítima perfeita.

Professores não passavam pela exposição desnecessária de uma revista na hora de entrar no presídio. Eles não tinham suas bolsas vasculhadas, comida revirada, porque na cabeça dos caras, essa gente era honesta demais pra fazer qualquer coisa contra a lei.

E Fernanda realmente era, o azar dela foi cruzar caminho com o de Baco.

— Não tem nada pra tu fazer nessa porra, proeza, 'procê' tá com o cu pra cima? — Coruja apareceu na minha frente, com uma caixa pequena em mãos e um papel na outra. Gorilla apareceu logo em seguida, com uma expressão nada boa no rosto. — presente pro patrão.

Peguei o papel de sua mão e passei os olhos pela letra tremida na folha. Gotas, certamente de lágrimas e sangue, estavam por toda a carta. Gorilla pegou a caixa e deu um som de desgosto quando a abriu.

— Quem é Kátia, mané? — perguntei confuso e vi Laércio negar com a cabeça, ao mesmo tempo que mandava Coruja ralar pra fora.

— O que tá escrito no papel?

— É uma carta dessa mulher. Ela tá pedindo ajuda, o canalha do Comandante tá mantendo ela presa no Negreiro.

Gorilla suspirou tão forte que eu me assustei com o nervosismo repentino. As ameaças do comandante nunca nos assustaram pra ele tá agindo desse jeito.

— Baco vai precisar ler isso aí. — ele estendeu a caixa e vi um pedaço de dedo dentro, as unhas perfeitamente bem feitas. — E não tempo de colocar dentro da bolsa sem a Maria perceber.

Ficamos um tempo em silêncio, a resposta era bem óbvia.

— Vamos ter que pedir ajuda pra ela.

Gorilla concordou comigo e depois de mais um longo silêncio, nos dois saímos da casinha discutindo sobre quem falaria com Fernanda.

[...]

Como o bom safado manipulador que eu era, fiquei sentado no banco da praça apenas esperando o momento certo.

— Se perdeu do caminho de casa, gata?

Eu tinha estado perto o suficiente pra saber que a essa hora Fernanda estaria voltando da academia. Então coloquei minha melhor roupa esportiva e fingi caminhar pela área de lazer que Baco tinha construído por ali.

— É você quem se perdeu, tá fazendo o que aqui?

— Papo reto mesmo? — ela assentiu, se sentou em um dos bancos da praça e me convidou pra sentar do seu lado, mas eu neguei. — Não quero me estender. Se me virem aqui conversando com você... Isso pode colocar um alvo bem no meio da sua testa. Finge que tá arrumando o seu sapato, linda.

Só pela expressão que Fernanda fez, eu repensei mil e uma vezes toda essa merda que tava acontecendo.

Que se foda Baco, que se foda o comandante. Ela não tinha nada a ver com isso, caralho!

— Por que isso, Rodrigo?

— Você tá sentada embaixo de um papel dobrado em tantos pedaços que é difícil contar. — Maria Fernanda não me encarou, apenas continuou ajeitando os cadarços do seu sapato. — Quando se levantar, ponha ele no seu bolso. Vou sair agora e te ligo pra explicar que merda é essa. Preciso que olhe pra mim e sorria pra demonstrar que entendeu.

Assim, ela o fez. Sorriu tão genuinamente que até eu me enganei por alguns instantes. Então saí andando. Quando subi na minha moto e botei meu capacete, peguei o telefone para ligar pra ela, enfiando os airpods na orelha.

— Que merda é essa?

— Você não vai gostar muito da resposta.

— Eu quero saber!

— Preciso que entregue esse papel pro general. — Mafe deu uma risada nervosa e respirou profundamente, ela devia ter voltado a correr, então. — Não gosto dessa ideia tanto quanto você, boneca.

— Cê tá maluco, né? Seja lá o que for isso, eu não...

— Isso é a vida de todo mundo aqui, Mafe. Preciso que você faça isso por mim. Não vai dar nada pro teu lado, eu te juro. É só uma carta que eu preciso que Baco leia. Você é a única pessoa autorizada a entrar quando bem entender naquele presídio. — suspirei pesado só pra ela achar que eu estava mal. — É só entregar na mão dele, apenas disso. Cê tem noção que o Baco é a razão pra todos nós estarmos vivos? E que precisamos dele?

— Isso vai te custar muito caro, seu pilantra. — Fernanda desligou na minha cara e eu respirei aliviado.

Ela era facilmente manipulável e eu a porra de um pau mandado a trazendo pra vida miserável que eu levava.

AMOR EM CADEADO [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora