Capítulo 1 - Mean to be mine

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O mundo sempre foi previsível para mim. Cada pessoa, cada situação, cada evento... tudo seguia o mesmo padrão. O mesmo ciclo entediante e monótono. A maioria das pessoas acha que o poder é algo emocionante, algo que transforma suas vidas. Elas estão erradas. O poder não te conecta ao mundo; ele te separa dele. Te afasta da realidade, das emoções humanas, da surpresa. Quando você tem poder, tudo e todos se tornam previsíveis. E eu me cansei de todos eles há muito tempo.

Minha vida é um desfile de repetições. Mesmas festas. Mesmas conversas. Pessoas me rondando em busca de aprovação, tentando adivinhar meus pensamentos, como se algum truque barato pudesse conquistar meu favor. Não podem. Elas tropeçam aos meus pés, modelos desesperadas por um sorriso, designers mendigando por uma palavra que validasse suas criações... patéticos. Nada nesse mundo me atrai. Nada nesse mundo me agrada.

Meus dois casamentos foram o ápice desse ciclo. Homens inteligentes, bonitos, sim, mas vazios. Completamente vazios, como quadros brancos à espera de um artista para dar propósito a eles. E eu não tinha paciência para ser essa artista. Tudo o que fizeram foi me entediar mais.

Na verdade, há apenas duas coisas que ainda trazem algum valor à minha vida: minhas filhas e a revista. Elas são tudo o que me resta de verdadeiro.

Minhas meninas, Cassidy e Caroline, me surpreendem de maneiras que o resto do mundo é incapaz de fazer. Idênticas em aparência, sim, mas em essência? Tão diferentes. Cassidy, minha pequena e silenciosa manipuladora, tem a mesma capacidade de moldar o mundo ao seu redor com um simples sorriso que eu possuo. Ela aprendeu rápido. Sabe o que quer e como conseguir sem levantar a voz. Eu vejo tanto de mim nela, e isso me agrada profundamente.

Caroline, por outro lado, é pura tempestade. Violenta no sentido mais clássico da palavra. Enquanto Cassidy controla pela sutileza, Caroline dobra o mundo ao seu redor pela força. Se ela quer algo, ela faz acontecer. E eu a amo ainda mais por isso. Sua natureza explosiva me fascina, me faz lembrar que ainda existem forças que podem surpreender.

Mas fora esses momentos, meu mundo é um vazio. Um ciclo eterno de futilidades e repetições, onde tudo é decidido por mim antes que qualquer um ao meu redor perceba. Eu conheço as palavras antes de serem ditas, conheço as atitudes antes de serem tomadas. Eu sou o centro. O poder que todos desejam é o mesmo que os torna previsíveis para mim.

Naquela manhã, tudo parecia seguir o mesmo caminho usualmente entediante. Eu estava sentada no banco de trás do meu carro, ouvindo o tagarelar incessante da minha assistente enquanto ela repassava a agenda do dia, algo que eu já havia decorado há semanas. Uma formalidade inútil. Um trânsito incomum havia nos feito parar, e então ouvi meu motorista resmungar algo sobre "jovens delinquentes". Não era do meu interesse, normalmente. Mas, por algum motivo, naquele momento, decidi olhar pela janela.

Nada no mundo me atrai. Nada no mundo me agrada.

Até que eu a vi.

Ela estava do outro lado da rua. Um turbilhão de caos e energia, completamente diferente de tudo o que eu havia visto antes. Andrea. É claro, eu não sabia seu nome na época. Ela era apenas uma garota, um vulto em meio à multidão, mas algo nela chamou minha atenção. Ela era uma força, uma selvageria que contrastava com o controle frio que me cercava.

Dois policiais a seguravam, tentando imobilizá-la. Ela lutava, se debatia com uma força bruta que parecia desproporcional ao seu tamanho. Ela discutia, insultava-os. Eu observei, fascinada. A cena parecia quase cômica no começo, mas então algo mudou. Ela chutou um dos policiais, acertando seu rosto com precisão e força inesperadas.

Ela riu.

E, surpreendentemente... eu também ri.

Foi nesse momento que algo se agitou dentro de mim. Algo que há muito estava adormecido. Interesse. Não era apenas curiosidade. Era uma faísca, um estalo que rompeu o tédio que me envolvia como uma teia sufocante há anos. Ela era diferente.

Eu a observei em silêncio, escondida pela janela do carro, enquanto ela continuava a lutar contra os policiais. Eles finalmente a derrubaram, algemando suas mãos, mas o sorriso dela não desapareceu. Mesmo com sangue escorrendo pelo canto do lábio, ela parecia indomável. Inabalável.

Feroz. Livre.

Andrea foi jogada no carro da polícia, mas ela continuou rindo. Algo em sua postura, sua resistência, seu riso... tudo nela parecia gritar contra a monotonia previsível da minha vida. Ela era um sopro de caos em um mundo que eu já havia dominado. Meu coração se acelerou por um breve momento, algo que não acontecia há muito tempo.

Quando o carro da polícia se afastou, meu motorista olhou pelo retrovisor, esperando por algum comando. Mas eu não disse nada. Eu estava mergulhada em meus próprios pensamentos, presa àquela imagem. Eu sabia que aquele encontro não seria o último. Eu sabia que o destino, ou talvez o simples fato de que eu sempre consigo o que quero, faria com que nossos caminhos se cruzassem novamente. E eu estava certa.

O tempo passou, mas a lembrança daquele momento permaneceu comigo. Eu não a esqueci. Aquela energia selvagem, aquela fúria crua, era impossível de ignorar. Usei meus contatos, minhas influências, e logo soube mais sobre ela. Andrea Sachs. Dezoito anos. Estudante de jornalismo. Um histórico de pequenos crimes violentos. Nada que chamasse muita atenção, exceto a minha.

Eu a observei à distância, de forma discreta. Eu não estava esperando por algo específico. Não. Era mais como acompanhar o desenvolvimento de um animal selvagem. Um predador que, com o tempo, poderia ser domado. Eu sabia que havia algo mais nela, algo que precisava ser moldado. Mas, naquele momento, não era a hora. Ainda não.

Até que, um dia, lá estava ela. Na minha frente.

Andrea Sachs. A mesma garota que eu havia visto sendo algemada, lutando e rindo, agora estava sentada do outro lado da mesa, em uma entrevista para a Runway. Minha revista.

Eu a estudei como um caçador observa sua presa. Ela estava nervosa, mas não de medo. Era algo mais profundo. Era como se estivesse constantemente à beira de explodir. Ela tentava seguir as regras, tentava se ajustar ao formato esperado, mas eu via além da fachada. Eu via o fogo queimando por baixo da superfície. Havia raiva ali. Uma raiva controlada, mas que ameaçava romper a qualquer momento.

Senti um sorriso se formando nos meus lábios enquanto ela falava. Suas respostas eram cuidadosamente ensaiadas, sua postura tensa. Ela estava ali porque precisava do emprego, isso era claro. Mas havia algo mais. Ela não pertencia àquele mundo. E, ao mesmo tempo, era exatamente o que eu precisava.

Ela era bruta, sim, mas havia uma beleza naquilo, um potencial que poucos reconheceriam. Eu, porém, soube no momento que a vi. Andrea Sachs era minha.

Quando Andrea saiu da sala, recostei-me na cadeira, olhando pela janela por um longo momento. Eu sabia que, uma vez que ela estivesse sob meu controle, uma vez que eu a moldasse, ela seria minha arma perfeita.

A ideia de domá-la, de transformá-la em algo ainda mais poderoso, me deu uma sensação que eu não experimentava há muito tempo. Empolgação.

O mundo está cheio de pessoas previsíveis. Pessoas que se dobram facilmente, que mendigam por aprovação e se arrastam por migalhas de poder. Andrea não era assim. Ela era imprevisível, perigosa. E isso a tornava perfeita. Porque, uma vez que eu a tivesse sob minha influência, não haveria limites para o que poderíamos fazer juntas.

E o mais fascinante? Ela nem sabia.

Mean to be mineOnde histórias criam vida. Descubra agora