Andrea fixava o olhar em um ponto indefinido na parede, ignorando a presença da psiquiatra à sua frente com uma frieza deliberada, como se a mulher fosse parte do mobiliário — um objeto, sem importância ou significado. Um zumbido incômodo soava em seus ouvidos, como o ruído de uma tempestade incessante batendo contra uma janela trancada. O ombro direito ardia, uma dor constante e viva. Nenhum dos doces dispostos estrategicamente sobre a mesa seria capaz de adoçar o amargor que parecia permanente em sua boca.
— Andy? — chamou a Dra. Smith, a voz calma, embora ligeiramente hesitante, como quem teme despertar algo indesejável.
Ao ver aqueles olhos castanhos e profundos se voltarem para ela, olhos vastos e vazios como um abismo, a psiquiatra sentiu um arrepio que reverberou por todo o seu corpo.
Andrea era sua paciente há muitos anos — uma década inteira, de fato. A jovem começara o acompanhamento aos catorze anos, e desde então, cada sessão parecia um desafio. Contudo, ao longo dos anos, a Dra. Smith ousava alimentar uma pequena centelha de esperança, acreditando que Andrea pudesse estar progredindo, caminhando vagarosamente em direção a algo parecido com uma vida normal.
Mas quão normal poderia ser a vida de alguém diagnosticado com transtorno de personalidade antissocial?
Andrea Sachs sempre foi um enigma, talvez um enigma que ela não tivesse direito de decifrar. A morena exibia uma violência barulhenta e impetuosa, uma impulsividade latente que pairava como eletricidade no ar, além de uma assustadora carência de empatia. Ainda assim, a Dra. Smith nunca desistira dela.
Nem mesmo quando Andrea destruíra seu consultório inteiro durante uma das primeiras sessões, depois de um comentário que, inadvertidamente, acionara algum gatilho profundo e sombrio. Naquele dia, enquanto observava a jovem retalhar o espaço com uma fúria descontrolada, a psiquiatra compreendeu que havia algo de cativante e perigoso nela. Não era afeição, não o que se sente por outro ser humano, mas algo que se sente ao ler um romance perturbador ou assistir a um filme que deixa cicatrizes invisíveis.
Andrea era fascinante, uma força caótica que ela não conseguia ignorar. Cada sessão era uma roleta-russa, um jogo onde a Dra. Smith nunca sabia quem sairia ferido.
Hoje, porém, não havia explosão. Nenhuma ira latente. Na poltrona de couro, Andrea encolhia-se, como um animal ferido, abatido, com o olhar fixo em algo além do alcance humano. A Dra. Smith a observava com uma mistura de curiosidade e receio. Estaria Andrea, finalmente, despedaçada por alguma tempestade invisível?
— O que lhe abateu? — A doutora insistiu, com a voz quase se perdendo em um sussurro, observando a jovem estremecer levemente, como se sua pele captasse a pergunta antes de sua mente.
Por um instante, o silêncio reinou, carregado, denso. Então, Andrea ergueu os olhos, os lábios se curvando em um sorriso frio, quase ausente de vida.
— Eu nunca temi os trovões, Dra. — murmurou, com a voz baixa, distante. — Mas eu não sabia o quão assustador era quando os raios começavam a cair.
[Dia Anterior]
Naquela sexta-feira, Andrea despertou com uma sensação de euforia tão intensa que a fez se sentir invencível. Uma sensação há muito esquecida, ou talvez reprimida. Ela se levantou da cama com um sorriso torto e predatório, os olhos brilhando com uma excitação sombria. Os músculos de sua mão se contraíam, tensos de antecipação, e uma gargalhada quase escapou de seus lábios ao imaginar o que estava prestes a fazer.
Entrou na Runway como se cada passo estivesse carregado de propósito. A sensação de liberdade, de não precisar mais esconder-se por trás de uma máscara, a envolvia como uma aura. Ela atravessou o andar, os olhos passando por cima dos rostos que a fitavam — as modelos com suas expressões de desdém, os seguranças rígidos, até mesmo Nigel com seu sarcasmo usual. Nenhum deles importava. Eram figurantes sem valor em sua narrativa, sombras sem propósito em seu caminho.
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Mean to be mine
RomanceMiranda Priestly pensava estar condenada ao tédio, até que vislumbrou o caos do outro lado da rua. "Ela era bruta, sim, mas havia uma beleza naquilo, um potencial que poucos reconheceriam. Eu, porém, soube no momento que a vi. Andrea Sachs era minh...