O silêncio na casa era quase opressor. Uma calma tensa, como a quietude que antecede uma tempestade. Eu estava caminhando lentamente pelos corredores, subindo as escadas com passos firmes, mas suaves. Cada movimento meu era calculado, preciso. O tipo de controle que John jamais conseguiria compreender. Ah, John...
A mente de John era previsível, frágil. Ele sempre foi. Desde o começo, quando nos casamos, eu sabia que ele não seria um igual. Não era alguém que poderia me desafiar, me forçar a pensar de maneiras diferentes. John era... fácil. Eu nunca tive que lutar pelo controle com ele. Eu o dominei com a mesma facilidade com que coloco um casaco. E essa facilidade me entediava profundamente.
Ele sempre foi um homem muito bonito, com posses e uma mente metida a intelectual. Era como exibir um troféu por onde eu passava, as pessoas me parabenizavam, me diziam o quão sortuda eu era.
Embora eu jamais tenha entendido onde a sorte estava nisso tudo.
A fúria de John, no entanto... essa era a parte mais patética. Eu o observava quando ele gritava, quando perdia o controle com Caroline, e não conseguia deixar de pensar o quão ineficaz ele era. A violência de suas palavras, a maneira como ele tentava impor autoridade com rugidos e ameaças vazias... Tão previsível. Tão inútil.
O que tornava essa tempestade tão sem graça, era porque não importava o quanto os trovões rugissem, os raios jamais desceriam. John não tinha a coragem necessária para tanto.
Mas Caroline... ah, Caroline é muito mais complicada.
Entrei no quarto dela, e como sempre, a fúria estava lá. Caroline estava jogada na cama, os punhos cerrados, o corpo tenso. Seus olhos, ardentes de raiva, me encararam quando entrei. Havia algo de fascinante na raiva de Caroline. Algo bruto, indomado. Assim como Andrea.
Eu me aproximei lentamente, o olhar dela queimando em mim, como se esperasse alguma forma de reprimenda, algum tipo de confronto direto. Ah, minha doce filha, como você não me conhece? O confronto direto nunca foi o meu estilo.
— Seu pai — comecei, minha voz baixa e tranquila, como se estivesse falando de algo sem importância — está preocupado. Ele acha que seu comportamento está sem controle, mas... — deixei a frase morrer, como se o assunto fosse tão óbvio que nem precisasse ser concluído.
Caroline me olhou de soslaio, ainda furiosa, mas não tanto quanto antes. Ela estava começando a acalmar. Ou, pelo menos, a raiva estava perdendo sua direção, como uma tempestade que se dissipava no horizonte.
Eu me aproximei da cama, sentando-me na borda, mantendo o olhar suave e compassivo. Caroline precisava disso. Raiva sem direção é inútil. E Caroline, como Andrea, tinha muita raiva, mas ainda não sabia como usá-la corretamente.
— Ele não me entende — Caroline murmurou, cruzando os braços, sua voz carregada de desprezo.
Eu sorri suavemente. Não, ele não entende.
— Não. Seu pai nunca soube lidar com a raiva — respondi calmamente. — Ele acha que pode controlá-la com gritos e ordens. Mas você, Caroline... você não se dobra pelos trovões, não é?
Eu sabia o que Caroline queria ouvir. Ela não queria ser comparada a John. Ele era fraco aos olhos dela. E com razão. Eu podia ver o alívio em seus olhos, embora ela ainda estivesse lutando para não mostrar isso abertamente. Eu sabia o que ela precisava. Ela queria ser compreendida, queria ser vista. E eu podia dar isso a ela, com sutileza.
— Você tem uma força que ele nunca terá — continuei, minha voz quase um sussurro agora, íntima, como se fosse um segredo só nosso.
Ela me olhou, seus olhos confusos por um momento. Caroline era feroz, mas ainda jovem. Ainda não sabia como direcionar esse fogo. E eu, como uma maestra, estava aqui para guiá-la.
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Mean to be mine
RomanceMiranda Priestly pensava estar condenada ao tédio, até que vislumbrou o caos do outro lado da rua. "Ela era bruta, sim, mas havia uma beleza naquilo, um potencial que poucos reconheceriam. Eu, porém, soube no momento que a vi. Andrea Sachs era minh...