0 - Prólogo

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VEGAS

Se eu pudesse resumir minha vida em somente duas palavras, eu diria: caos e azar.

Não é necessário mais do que isso para definir como tenho vivido até hoje. Além do mais, os acontecimentos dos últimos anos deixam evidente o quanto a sorte simplesmente desistiu de caminhar ao meu lado e ser minha amiga. Se ela fosse uma pessoa, provavelmente estaria com o dedo médio de suas mãos estendido na minha direção enquanto zomba completamente da situação na qual me encontro neste exato momento.

Enquanto a sorte ri de mim, o loiro à minha frente tem seus olhos cheios de lágrimas e o rosto vermelho pela raiva que transborda de seu corpo. Ódio e tristeza: dois sentimentos que, nas palavras do rapaz, causei em si. E não é como se suas atitudes já não deixassem isso óbvio — o jeito como ele me empurra com força e faz com que minhas costas acertem em cheio a parede comprovam claramente isso.

Eu esperaria tal atitude de qualquer pessoa, mas nunca de Pete Pongsakorn. Não desse rapaz de cabelos loiros sedosos e jeito tímido. Ele nunca agiria desta forma com alguém de quem diz tanto gostar, certo? Bom… Não, a menos que tivesse um grande motivo — ele aparentemente tem agora.

— Você sabe muito bem o que fez com ele, e não adianta negar! Achou que em nenhum momento eu descobriria? Hein?! — As palavras saem com imensa rispidez, como se rasgassem sua garganta.

A pouca iluminação me impossibilita de ter visão total de seu rosto, mas não preciso de muito para saber que ele está vermelho de raiva. Muita raiva. O único feixe de luz ao seu lado é suficiente para que eu enxergue uma única lágrima escorrer por sua bochecha e revelar mais sua dor.

E não posso negar que vê-lo assim me parte o coração. Principalmente por ser a causa de cada lágrima derramada.

— Eu juro que não é o que parece. Tente acreditar em mim, por favor! — Levanto as mãos em sinal de rendição e suplico. Preciso fazê-lo entender que não tive nada a ver com o que chegou aos seus ouvidos hoje mais cedo, nem que eu tenha que me ajoelhar à sua frente para isso. — Você não deveria acreditar neles, mas, sim, em mim!

Agora que Pete se virou para o lado da pequena lâmpada que tenta nos iluminar com bastante dificuldade, consigo ver seus olhos lacrimejados. Ele quer chorar, e muito. Porém, ao invés disso, ele opta por rir de escárnio.

— Como você quer que eu acredite no que diz? Como tem coragem de me pedir isso?!

Meu corpo reage rapidamente à dor que cada palavra sua carrega, fazendo meu peito queimar e os olhos se encherem de lágrimas. Ainda assim, tento tomar iniciativa e toco em seu rosto com delicadeza. Seguro e acaricio a pele molhada conforme encaro-o com carinho.

— Se você não acreditar em mim, quem mais vai? — Minha voz falha miseravelmente, e apenas neste momento permito que a tristeza seja exposta e se escorra pelo meu rosto.

Em meio ao silêncio, Pete finalmente se permite chorar. Ele agarra meus braços com certa força. Seu corpo se curva levemente de dor, como se cada soluço dado fosse semelhante a um soco no estômago.

São poucos os segundos que mantemos contato físico, porque logo ele se afasta de mim, dando passos para trás e balançando sua cabeça de forma negativa.

— Eu não posso continuar com você depois de saber de tudo o que fez. Sinto muito, mas eu acredito neles — fala seriamente. De sobressalto, dou um passo à frente para tentar segurá-lo pela mão, mas sou impedido imediatamente. — Eu não quero mais te ver. Por favor, não me procure mais. Não quero mais saber de você.

Aos prantos e cada vez mais longe de mim, ele se vira sem dizer mais nada e vai embora. Embora deste cômodo frio e também da minha vida.

Não consigo processar essa informação ainda, muito menos quero fazer isso agora. Viver sem ele não estava nos meus planos até o dia de hoje, então o que fazer para entender que essa provavelmente seria a última vez que veria seu rosto tão próximo do meu e que tocaria seu corpo?

BEHIND THE SCENES || VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora