2 - Ofensas

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VEGAS

Me sinto perdido. Completamente confuso e deslocado.

Porque não sei exatamente o que falar e fazer diante de todos que estão ao meu redor. Certa parte das pessoas da mesa já se encontra bêbada e rindo exageradamente alto, até Tam colocar sua mão pesada sobre meu ombro para falar:

— Me diga, Vegas: como faz para manter seu corpo bonito desse jeito?

— Bom, eu malho algumas vezes na semana. Acho que é por isso que sou assim — respondo e olho para meu próprio corpo por alguns segundos.

— Acho que alguém está precisando das suas dicas — Arm solta com um riso ao que encara Tam e tem sua confirmação.

— Não fale isso — uma das pessoas da equipe repreende-o com um sorriso nos lábios, como quem concorda, mas que tem ciência de que é errado dizer em voz alta.

— Ele nem está mais aqui. O que é que tem falar? É apenas a verdade.

Espera… Eles estão se referindo a Pete? Estão se aproveitando da ausência dele para ofendê-lo na cara dura?

Eu não gosto disso. Nunca gostei.

E por que acham que ele deveria emagrecer? Seu corpo já é extremamente magro por baixo de suas roupas de marca e que surpreendentemente combinam bastante consigo. Ainda que fosse gordo, quem são eles para dizer o que ele deve fazer com seu corpo? Ele só deveria emagrecer se estivesse provocando problemas à sua saúde. Fora isso, não seria obrigado e muito menos deveria.

Pete deveria se amar do jeito que é, sem nenhuma obrigação de mudar seu próprio corpo. Mas as pessoas daqui não estão preparadas para esse tipo de debate. E a pergunta que não quer calar: quando estarão?

Em meio à minha revolta interna, sinto a aproximação repentina do sr. Estranho-Porém-Muito-Amigável em meu lado direito, apoiado sobre a mesa para me olhar com mais facilidade.

— Não nos apresentamos direito. Prazer, sou Macau, diretor de fotografia e melhor amigo do Pete. — Estende sua mão livre para mim, e obviamente retribuo num leve apertar de mãos. — Você parece assustado em meio a tanta gente que ainda não conhece direito.

— É… Meio que isso, sim.

— Isso vai passar com o tempo, conforme for pegando intimidade com cada um de nós. É seu primeiro mês como ator, então vamos com calma. Tudo no seu tempo.

Sorrio em agradecimento, mas logo sinto falta de algo. Na verdade, de alguém. Que deveria estar aqui há tempos e que não cruzei em momento algum até agora. Olho para o pequeno palco que há na área VIP e encontro-o vazio. Aproveitando que um dos garçons está passando por nossa mesa, seguro-o pelo antebraço e puxo-o gentilmente para perto.

— George, onde está o Kinn? Ele deveria estar tocando agora, não?

— Ele não veio hoje.

— Você sabe o motivo? Ele nunca faltou uma vez sequer.

— Eu não faço a mínima ideia. Agora, se me der licença, preciso continuar meu serviço.

— Ah, sim. Desculpa. — Solto-o na mesma hora, dando liberdade para ele se afastar e rumar para o outro lado da mesa e entregar mais bebidas para uma das equipes.

Agarro a mesa entre meus dedos com certa força conforme os assuntos referem-se ofensivamente e tomados de preconceito a outros atores da empresa. Julgam seus corpos e gargalham logo após. Macau mantém-se quieto ao meu lado, apenas acompanhando as risadas quando algum dos diretores o encara.

Mas eu não. Não rirei dessas frases estúpidas nem que me paguem.

Permaneço mais 20 minutos aqui para não perguntarem o motivo da minha saída repentina. Como já está ficando tarde, isso será uma ótima desculpa, caso necessite dar alguma antes de me retirar.

— Obrigado pelo convite de hoje. Foi muito divertido passar esse tempo aqui com vocês, mas preciso ir agora — falo consideravelmente alto para chamar a atenção da maioria.

— Já vai embora? Você nem bebeu. Toma uma com a gente, vai! — exclama Macau, que se agarra em meu braço.

— Desculpa, mas eu não bebo.

— Está explicado por que você só tomou refrigerante até agora — Arm comenta à minha frente, os olhos avaliando-me de forma como quem consegue enxergar todos os meus segredos. — Algum motivo específico para não beber?

Sim. Mas é da sua conta? Não. Logo você, quem mais ofendeu Pete esta noite?

Obviamente não direi isso em voz alta e criar uma possível discussão — minha tolerância está zero depois de tudo o que ouvi, e só criaria mais intriga sobre essa mesa. Não tomei nenhuma gota de álcool para justificar que estaria alterado pela bebida, então deixaremos para uma próxima ocasião, caso seja necessário.

— Não. Simplesmente não gosto — digo de forma levemente séria, e ele parece notar que não estou nada contente. Também não faço questão de esconder.

— Foi ótimo ter você aqui com a gente. Faremos isso mais vezes, e contamos com sua presença — ele torna a falar.

Seu jeito exala falsidade pura, ainda que eu não seja alguém que julgue as pessoas. Mesmo sorrindo, há algo em seu jeito e intenção ao falar que demonstra mentira. E não só isso martela em minha cabeça, como também a forma como ele tratou Pete na varanda. Não pude ouvir o que falaram em poucos segundos, mas notei a agressividade de Arm ao tirar o cigarro das mãos dele e jogar ao chão.

Rapidamente me lembro do momento em que ele nos agarrou animadamente mais cedo e Pete reagiu mal. Não era timidez ou seu jeito inocente de reagir a toques dos outros. Há alguma coisa entre os dois. Uma coisa nada boa.

E eu vou descobrir o que é.

🎬

O caminho para casa é tomado por um silêncio profundo. Acabei aceitando uma carona de Macau, e, até então, ele não falou nada. Parece visivelmente desconfortável ao meu lado, encarando-me a cada segundo. Ele quer me dizer algo, mas parece ter medo do que direi em resposta.

Afim de cortar o clima esquisito, viro meu rosto para ele e pergunto:

— O que foi? Quer me falar alguma coisa?

— Bom… Não leve a sério o que eles falaram, ok? Eles estavam apenas brincando. Nada que disseram é verdade.

— Eu não acho uma brincadeira saudável, muito menos correta. Mas tudo bem. Vou fazer o que pediu. Não vou levar a sério. — Abro um sorriso fraco e Macau faz o mesmo, voltando a encarar a vista pela janela.

Obviamente não vou fazer o que ele pediu. Apenas quis ser educado. Todas as falas das pessoas da equipe permanecem guardadas em minha mente, mas sei que contar para Pete não o faria bem, o que não é meu objetivo. Mas, no fundo, eu sei que ele deveria saber. Só não acho que somos próximos o suficiente para isso.

Quem sabe, numa próxima.

Assim que chego ao meu apartamento, vejo que não estou sozinho. Lá está Kinn, sentado no sofá com o celular nas mãos. Ele me olha preocupado e isso me faz parar onde estou, sem saber o que fazer.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto baixinho.

— Você não viu a live? — Kinn se levanta e caminha na minha direção. — É sobre Tawan.

Tal menção faz meu coração acelerar. Sinto medo de ouvir este nome, principalmente vindo do meu melhor amigo, que odeia ditá-lo. Se dessa vez ele chegou até a dizer seu nome, o que será que aconteceu? Tenho medo, muito medo de descobrir. Mas não posso ficar sem saber. Certamente diz respeito a mim, então tomo coragem para tirar o celular de suas mãos e clicar na live salva.

Ouvir todo o seu discurso faz meus olhos se arregalarem em surpresa com todo o absurdo que ele fala para milhares de pessoas. Cerro meu punho com toda a minha força até o final do vídeo, sentindo vontade de socar a tela. E a única coisa que consigo pensar agora é:

Eu estou fodido. Muito fodido.

BEHIND THE SCENES || VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora