Prólogo

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Londres, com sua bruma característica, pairava lá fora, em contraste ao lar acolhedor onde Cloe cresceu. O silêncio da casa a envolveu como um abraço frio. A avó Carmina ainda não havia chegado do trabalho. 
Cloe pela milésima vez em sua vida, parou em frente ao quadro onde estava emoldurada a foto da mãe e a avó. A foto fora tirada quando as duas haviam chegado recentemente à Inglaterra, muito antes de seu nascimento. 
Oito meses depois,  carregando consigo o peso de um segredo que pairava sobre suas vidas, a  mãe morreu durante o  parto,  deixando uma lacuna na história familiar que ninguém parecia disposto a preencher.

Cloe cresceu sob os cuidados amorosos da avó, uma mulher forte e resiliente, que fez todo o possível para preencher as lacunas vazias da vida da neta.
Como prova de sua atenção e dedicação aos  desejos de Cloe, presenteou-a com uma viagem a Grécia para celebrar seus 18 anos.
A Grécia, com suas paisagens míticas e história rica, representava a promessa de uma aventura épica, um presente que Cloe ansiava por desfrutar.

Cloe subiu ao quarto da avó para  procurar  entre seus pertences o colar preferido da  mãe. Pretendia usá-lo durante a viagem.
Remexendo nas caixas da avó,  algo mais chamou sua atenção;  um cartão postal antigo, guardado cuidadosamente, numa espécie de fundo falso. 
Cloe segurou o papel como se queimassem seus dedos. A caligrafia elegante da mãe, quase uma dança de letras, a hipnotizou.  Palavras bem escolhidas revelavam um segredo guardado por mais de uma década: o nome do pai.  O mistério que envolvia sua origem, finalmente, tinha nome e sobrenome-"Leone  Sarco".  
" Meu amor,  estou esperando um filho seu"-- dizia a mãe--- " Espero que receba com alegria essa notícia. Seremos felizes para sempre.Te amo tanto, principalmente agora que carrego o fruto do nosso amor" Sua Alice.
A descoberta incendiou a alma de Cloe.  A imaginação da garota procurava criar o rosto do  homem que ela nunca conheceu, mas que de alguma forma fazia parte dela.  Ela mergulhou nos arquivos, nas lembranças da avó, em cada detalhe que pudesse levar até ele.  Leone Sarco, tornou-se o novo foco de Cloe. A necessidade de conhecer o homem que poderia ser seu pai a impulsionava. A imagem de Leone, um nome que ecoava em sua mente, se misturava à lembrança da mãe jovem, apaixonada, e um passado até então  desconhecido.  A emoção era uma mistura de medo e excitação, uma jornada para o desconhecido.
A decisão de adiar a viagem à Grécia foi tomada com rapidez. A avó, alheia ao segredo, continuaria sem saber, pelo menos por enquanto.  Cloe precisava de tempo para processar a informação, para se preparar para o encontro com o homem que poderia mudar sua vida para sempre.
A Itália, terra natal de sua mãe e avó, tornou-se o seu próximo destino. A viagem não era apenas uma busca por informações, mas uma busca por suas raízes, por uma conexão a figura paterna ausente em sua vida.
A fluência em italiano, língua materna, passada com carinho pela avó, seria sua aliada nessa jornada. 

Uma semana depois, Cloe comprou uma passagem de trem para Roma.
A estação ferroviária fervilhava de uma energia frenética, um turbilhão de malas, despedidas apressadas e o assobio agudo dos trens que anunciavam partidas e chegadas. Cloe, no meio daquela multidão, sentia-se uma ilha solitária.
A decisão tomada na semana anterior, pesava sobre seus ombros como uma capa de chumbo.
A passagem para a Itália, um bilhete para um encontro incerto com o passado, estava firmemente presa em sua mão, um amuleto contra a insegurança que a corroía por dentro . A imagem da avó, sua doce avó, despedindo-se com um abraço carinhoso e um sorriso sereno, se formava em sua mente. A mentira, uma pequena fenda na teia de confiança que as unia, a incomodava profundamente.  A culpa roía-lhe a consciência, um contraponto amargo à excitação da aventura que se iniciava.  Mas a busca pelo pai, era um chamado mais forte que qualquer remorso. Era uma necessidade visceral, uma busca pela identidade que a perseguia desde a infância.
O trem começou a se mover, levando-a para longe da familiaridade do lar, rumo ao desconhecido.  A paisagem que desfilava pela janela – campos verdes, vilas adormecidas, montanhas imponentes – parecia refletir o turbilhão de emoções em seu interior.  A cada quilômetro percorrido, a distância física da avó aumentava, mas a distância emocional parecia se estreitar, fortalecendo o elo invisível que as unia, apesar da mentira. 
A jornada prometia ser difícil, repleta de incertezas e possivelmente decepções, mas Cloe estava decidida a enfrentá-la, a procurar respostas no labirinto de seu passado.   
Ao  desembarcar  em Roma experimentou o calor abafado de um verão intenso. Um táxi logo apareceu e ela entregou o endereço que conseguiu depois de muitas pesquisas. Seu suposto pai era um homem poderoso, um rico empresário ligado à política, e de família aparentemente impecável.
Enquanto o veículo avançava  para o destino,
sua expectativa crescia com o medo. O que Leone Sarco diria? Receberia a filha que nem mesmo sabia existir? Cloe tentava se concentrar em contemplar as ruas charmosas e a arquitetura impactante daquela cidade misteriosa e fascinante. A Itália era linda como havia imaginado.
O taxi parou em frente um imponente edifício  de pedra, emoldurado por jardins meticulosamente cuidados.  Cloe sentiu um nó na garganta; a grandiosidade  da construção a intimidava. Ela pagou o motorista, e antes de se aproximar da majestosa entrada retirou o cartão da mochila. Era seu passaporte para adentrar àquele casarão e desvendar o segredo do seu passado nebuloso.
Cloe apertou o cartão postal na mão, o papel fino quase rasgando sob a pressão dos seus dedos nervosos.
Um homem grande com uniforme escuro e expressão severa a observou de cima a baixo. A jovem tentou sorrir, mas o nervosismo a traiu.
-- Olá, preciso falar com o senhor Leone Sarco-- disse ela, sua voz um pouco trêmula.
O porteiro sem mudar a expressão, respondeu com frieza:
-- O senhor Sarco não recebe visitas sem um agendamento prévio. Deixe seu nome e telefone, e se for do interesse dele, a secretária entrará em contato com a senhorita.
__ Por favor, é urgente!... -- Cloe argumentou, sua voz tremia, mas a determinação brilhava em seus olhos.
O segurança olhou para ela com desdém.
-- Desculpe, moça, sem autorização, não posso fazer nada.
Com o coração acelerado,  Cloe respirou fundo.
--- Meu nome é Cloe... Cloe Bertolini. Sou filha de Alice Bertolini!
O impacto das palavras foi imediato.  Os olhos do segurança se estreitaram como se reconhecesse aquele nome.
Cloe aproveitou a oportunidade para continuar falando:
-- Eu preciso que você avise ao senhor Leone, que a filha de Alice Bertolini está aqui... e que precisamos conversar.
O segurança hesitou, mas a curiosidade estava evidente. A menção de Alice parecia ter causado um efeito inesperado.
Com um aceno de cabeça relutante, ele finalmente cedeu:
--Um momento.

Cloe ficou aguardando do lado de fora, o sol de Roma, castigava sua pele, mas o calor não a incomodava.  Um frio gélido, muito mais profundo que a temperatura ambiente, a envolvia, penetrando até os ossos.  A cada segundo que passava, a espera se tornava mais opressiva, mais densa, como uma névoa que obscurecia sua visão. 
Respirou fundo várias vezes para tentar se acalmar, porque la no fundo da alma,  o arrependimento, ainda que distante, começava a se manifestar em forma de arrepios.

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