Capítulo 9

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Bruno e Leone estavam trancados no escritório, as paredes refletindo a tensão que pairava no ar. A conversa girava em torno de uma questão crucial: a saúde de Letícia.
Leone parecia perdido em um turbilhão de emoções, entre seus sentimentos e as dificuldades que a família enfrentava, quando a proposta inesperada de Bruno, o tirou bruscamente do transe. O homem quase derrubou a cadeira em que estava sentado, a incredulidade refletida em seu rosto.

- Que ideia maluca é essa? Você realmente acredita que isso vai dar certo? - a frustração transparecia em sua voz, quase palpável.
Bruno, no entanto, não se deixou abater pela reação do pai. Seus olhos brilhavam com determinação.
- Eu estou convencido de que a reforma daquela escola pode ser o recomeço que você e a Cloe precisam! - sugeriu ele, prático. - Pense, pai! Isso pode tocar o coração da Cloe e convencê-la a fazer o teste de compatibilidade!
Leone hesitou, seu peito pesando com a carga de sentimentos conflituosos. Cloe, sua filha biológica, havia sofrido o peso da rejeição dele. Agora, a situação tornara-se ainda mais crítica; a caçula, fruto de seu relacionamento com Roberta, estava gravemente doente, e o teste de compatibilidade era a única esperança de salvá-la.
O que lhe restava a fazer parecia quase uma última cartada.
- Que ligação uma escola no meio do nada poderia ter com a nossa situação? - perguntou Leone, a frustração misturada com uma curiosidade crescente.
- Você sabe qual é o nome dessa escola? - insistiu Bruno, ansioso por fazê-lo entender.
- Como eu poderia saber? - Leone estava completamente perdido.
- Afonso Bertolini...
Leone franziu a testa, processando lentamente a informação.
- Esse sobrenome não te lembra alguém? - continuou Bruno, tentando guiá-lo.
Leone franziu a testa, tentando processar a informação.
- É o sobrenome da Cloe... - admitiu, a compreensão começando a se formar.
--Exatamente! Afonso Bertolini foi o primeiro professor daquele vilarejo. Ele é o avô de Carmina, que por sua vez é a avó de Cloe. A filha de Afonso, Eleonora, também foi professora, e Carmina seguiu o mesmo caminho. Agora, Cloe está trilhando essa mesma trajetória. Esta escola é parte fundamental da identidade dela, e se conseguirmos reformá-la, talvez isso a inspire a fazer o teste - disse Bruno, com determinação na voz.
Leone ficou em silêncio, processando as palavras de Bruno. Ali estava uma possibilidade. Um fio de esperança em meio a tanta pressão.
---Eu não sabia disso... - murmurou Leone, sentindo um leve arrependimento brotar em sua mente.
---Precisamos que Cloe veja isso como uma chance de honrar sua herança e, mais importante, de salvar Letícia! - Bruno estava entusiasmado, com um brilho de determinação nos olhos.
Leone refletiu, ciente dos desafios que enfrentariam. A reforma não seria simples e os custos certamente pesariam.
--E quanto aos custos? Reformar uma escola não é uma tarefa fácil, Bruno! - alertou Leone, tentando manter os pés no chão.
---Já pensei nisso! Conheço pessoas dispostas a ajudar a financiar o projeto. E podemos usar a mão de obra dos nossos operários. - explicou Bruno, sua determinação inabalável.
Leone olhou para seu filho, sentindo uma onda de orgulho misturada com um mar de emoções. Era um passo, talvez pequeno, mas um passo em direção à uma solução.
- Está certo. Se isso pode ajudar a salvar nossa caçulinha e abrir um caminho de reparação com Cloe, estou disposto a considerar. Vamos fazer isso! - decidiu Leone, a esperança começando a brotar em seu coração.
O sorriso de Bruno iluminou o ambiente.
- Isso vai dar certo, pai! - exclamou ele, radiante com a possibilidade.
Leone sentiu um renascer dentro de si. Era hora de lutar pela própria família.
A reforma da centenária escola de Campocatino provocou uma onda de agitação no vilarejo. Com suas paredes gastas pelo tempo, a escola era um símbolo de tradição e aprendizado para a comunidade. Os habitantes mal conseguiam falar de outra coisa; as conversas nas praças, nas lojas e até nas casas giravam em torno desse grande acontecimento. A necessidade de suspender as aulas antes do término do primeiro semestre deixou todos em polvorosa, e a expectativa pairava no ar como uma brisa inquieta. O prefeito, com os olhos brilhando de esperança, enxergou uma oportunidade rara, uma chance de trazer vida nova à cidade, especialmente em um momento em que o município enfrentava dificuldades financeiras.
Bruno, ficou logo conhecido por sua generosidade e pelos feitos em prol da comunidade, emergindo como um verdadeiro herói aos olhos de todos. Suas ações eram discutidas em cada esquina, e ele era reverenciado como o benfeitor maior de Campocatino.
Entre todos os habitantes do vilarejo, Carmina era a mais emocionada. Aquela escola não era apenas um prédio; carregava o legado de sua família.
Seu bisavô, um homem de saber e dedicação, havia sido o primeiro professor da região, e em reconhecimento a sua contribuição, a escola recebeu seu nome: Escola Afonso Bertolini.
Cloe também foi profundamente tocada, mas decidiu guardar seu turbilhão de sentimentos para si.
A reforma da escola, embora simbolicamente linda, trazia consigo uma sombra de nostalgia e amor não correspondido. Ela sabia que a generosidade de Bruno escondia um propósito que envolvia sua irmã, e o peso disso a fazia hesitar.
No fundo, Bruno manipulava as emoções de Cloe, na esperança de que suas ações grandiosas a fizessem repensar sua decisão de não fazer o teste de compatibilidade.
Mas Cloe não se deixaria enganar. Com determinação, planejara se manter o mais distante possível dele, pois percebia que ao cruzar seu olhar, todo seu esforço para esquecê-lo poderia ser em vão.
Enquanto isso, a pequena cidade se enchia de operários da renomada empresa de construção SARCOFORM ENGINER, conhecida por sua inovação e qualidade em projetos. A logomarca da empresa exibia-se de forma proeminente na entrada da obra, quase como um emblema de esperança para a comunidade. Engenheiros, arquitetos e toda a equipe liderada por Bruno trabalhavam arduamente, cada um desempenhando seu papel na revitalização daquele espaço tão significativo.
A movimentação dos operários, o som das ferramentas e a imagem da nova estrutura tomando forma traziam um sentimento de renovação à cidade.
Em uma manhã ensolarada, enquanto Cloe se dirigia ao mercado, avistou Bruno em frente à escola, cercado por seus colaboradores. Eles apresentavam uma maquete e um mapa da escola, discutindo possíveis mudanças.
Ver Bruno tão próximo e envolvido naquele projeto a surpreendeu. Cloe não esperava encontrá-lo ali, principalmente porque o havia evitado por duas semanas. Seu coração quase saltou para fora do peito, mergulhado em um misto de ansiedade e confusão. Um impulso a fez acelerar o passo em direção ao mercado, tentando ignorar a presença dele. Contudo, sentia o olhar de Bruno a seguir, como se toda a energia daquela reforma se concentrasse nela.
Decidido a esclarecer o que pairava entre eles, Bruno decidiu seguir Cloe até o comércio. Ao entrar, encontrou-a no caixa, concentrada em pagar suas compras. Com um golpe de determinação, ele se dirigiu ao corredor dos frios e pegou uma cerveja gelada. Em seguida, aproximou-se do balcão onde Cloe estava, o olhar intenso fixado nela.
Cloe, tentando desesperadamente ignorá-lo, focava na conversa com a atendente, mas sua mente era um turbilhão. Bruno era impossível de ignorar, e mesmo com todo o esforço, seus pensamentos frequentemente retornavam a ele. Enquanto isso, as outras clientes do mercado não podiam deixar de notar a presença imponente de Bruno, sussurrando entre risadas e olhares admirados.
Ele, por sua vez, estava absorto em suas emoções, como se um ímã invisível o atraísse para Cloe. A tensão entre eles crescia a cada segundo, criando um ambiente carregado de expectativa e nervosismo. O mundo ao redor parecia desaparecer, e naquele momento, tudo que existia era o magnetismo silencioso entre os dois.
Quando Cloe estava prestes a sair, Bruno a interceptou, determinado a não deixá-la escapar.
- Posso acompanhá-la? - perguntou, a esperança desenhada em seu rosto.
- Não precisa, - respondeu ela de forma ríspida, mas ele não recuou, seguindo-a até a saída.
- Posso levá-la para casa, - insistiu Bruno, a urgência em sua voz crescendo.
- Eu já disse que não é necessário! - ela disparou, sua paciência se esgotando.
- Vai fugir de mim por quanto tempo? - Bruno questionou, a frustração transparecendo, enquanto olhares curiosos os cercavam.
- Eu não estou fugindo de ninguém! - Cloe fez questão de deixar claro, a indignação inflamando suas palavras. - Mas eu tenho o direito de escolher as pessoas que quero ter contato.
Bruno, em um momento de desespero, estendeu a mão para segurá-la, mas ela se afastou de forma abrupta.
- Não toque em mim! - quase gritou, seu tom ressoando como um eco de desespero. - Pare de me incomodar!
- Cloe, para com isso! - Bruno exigiu, sua voz quase suplicante. - Eu não sou seu inimigo.
Cloe lançou um olhar zombeteiro, um sorriso desafiador dançando nos lábios enquanto encarava Bruno.
- Você realmente acha que sua generosidade me impressiona? - a raiva dela era uma tempestade pronta para desabar. - Quer que eu escreva uma ode às suas "qualidades"?
- Não estou aqui em busca de elogios, Cloe - respondeu Bruno, seu tom carregado de tensão. - Nunca precisei disso.
- Não parece! - retrucou ela, a ironia cortando o ar como lâminas. - Sempre que você aparece, está cercado de bajuladores. É para alimentar seu ego?
Bruno sentiu a raiva borbulhar dentro dele, e encarou-a com um olhar penetrante.
- Você é só uma pessoa rancorosa! - disparou, o controle se esvaindo de sua voz. - Não há como negar que puxou a Leone! Por isso, não conseguem se entender.
Cloe ponderou por um momento, quase cedendo ao impulso de desferir um tapa nele, mas respirou fundo, decidindo se manter firme.
- Ouça bem, Bruno - declarou, sua voz tensa, como um fio prestes a se romper. - Se você está reformando a escola com a intenção de me comover, está absolutamente desperdiçando seu tempo. Minha avó pode ter se emocionado com sua "bondade", mas eu sou diferente. Aprendi a ler nas entrelinhas e suas intenções estão muito claras!
Bruno, consumido pela frustração, não se conteve:
- Você não passa de uma garota imatura e insensível - ele exclamou, a raiva pulsando em cada sílaba, como se cada palavra fosse uma punhalada.
- Eu só retribuo o que recebo - Cloe cortou, a voz firme e desafiadora, seus olhos ardendo com indignação.
Bruno respirou fundo, tentando encontrar a calma em meio à tempestade de emoções que invadia o ambiente.
- Pense, pelo menos, no que diz. Uma criança está em jogo, sua irmã, e em qualquer circunstância, isso deveria importar - ele insistiu, a voz carregada de preocupação.
- Agora, porque isso é conveniente para você, estou de repente incluída na família? Devo sentir orgulho por finalmente fazer parte? - Cloe replicou, seu sarcasmo brotando como espinhos.
- Não podemos fechar os olhos para ajudar ninguém, principalmente alguém que é do nosso próprio sangue.
- Para mim, vocês são estranhos. Seu pai foi claro, em dizer que me queria longe. Você bem que tentou me avisar. A verdade é que Nada que fizerem mudará o que eu sinto. Se quiser jogar todo o seu dinheiro nessa cidade, fique à vontade. Mas saiba de uma coisa: não serei a cobaia que salvará sua irmãzinha!
Cloe virou as costas e se foi, deixando Bruno completamente perplexo e pálido.
As palavras dela o cortaram como uma lâmina afiada. Ele nunca imaginou a profundidade da amargura que ela guardava; seu rancor era um veneno que a feria como a ele, revelando as feridas emocionais que ambos tentavam esconder.
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Capítulo concluído
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