Capítulo 3

34 8 4
                                    

Cloe entrou no quarto com as pernas trêmulas, a memória dos toques de Bruno ainda queimando em sua pele. Um leve tremor percorreu seu corpo ao recordar a noite intensa.
Após um banho rápido, jogou-se sobre a cama, determinada a deixar aquele lugar. Bem cedo, pediria a Jacopo para chamar um táxi e partiria sem olhar para trás, sem se despedir de Bruno.
Mas a realidade frequentemente desafia nossos planos.
Ao acordar, Cloe percebeu que o sol já escaldava o vidro da janela.
Com o coração acelerado, correu para o banheiro, escovou os dentes e vestiu uma blusa e um jeans, em um turbilhão de adrenalina.
Que loucura! Dormira além do que imaginara, o cansaço ainda a dominava.
Desceu as escadas à procura de Jacopo, mas o que encontrou foi um frenesi na sala. O som de vozes em choque a paralisou. Tentou se esconder, mas antes que pudesse agir, uma mulher de meia-idade, impressionantemente bonita, a viu. Seus olhos se estreitaram em desconfiança.
- Quem é você? - a mulher indagou, a voz tensa e aborrecida. O homem atrás dela, segurando uma menina no colo, fixou o olhar em Cloe e seu semblante pálido levou ao reconhecimento instantâneo.
-- Cloe, é você? - ele perguntou, a incredulidade marcada em suas feições.
--Cloe! - a mulher exclamou, o tom agudo- você está falando da Cloe... sua filha com aquela mulher ordinária?
Cloe sentiu a raiva ferver em seu interior.
--Sou eu - confirmou, a voz firme-. Mas não se preocupem, eu já estava de saída - avisou, mirando a saída, enquanto desferiu um olhar desafiador à mulher-. E não fale da minha mãe!
-- Que menina atrevida! - a mulher resmungou, indignada.
--Roberta, tenha calma! - Leone interveio, mas o clima estava tenso.
--Calma? Eu exijo que essa garota saia da minha casa! - Roberta gritou, sua voz estrondando.
A cena estava prestes a explodir quando Bruno desceu as escadas, seu semblante sombrio trazendo uma aura de autoridade.
--Bruno, o que está acontecendo? - Leone questionou, a preocupação se estampando em seu rosto.
Bruno desceu, mantendo-se em silêncio.
A mãe não cessava sua fúria.
-- Por que essa garota está aqui na "minha" casa? - a voz cortante da mae ecoou pelo ambiente.
-- Todos precisam se acalmar. Eu já explico - Bruno advertiu, tentando restabelecer a ordem.
--Você a deixou entrar? - Roberta disparou, o veneno em suas palavras.
--Cloe veio procurar por Leone - Bruno respondeu de forma gelada. - Afinal, ela é filha dele.
Cloe não teve coragem de olhar nem para Bruno, nem para Leone. O único desejo que a dominava era fugir daquela situação caótica. Enquanto organizava sua mochila, seu coração pulsava, e a expectativa de um confronto pairava no ar.
--Precisamos conversar -- Leone declarou,e
Cloe olhou para ele com incredulidade, a tensão no ar era palpável. Ele, que tanto evitou a filha, finalmente cedeu -- Já que você desejava tanto me conhecer, vamos ao escritório - disse, sua voz carregada de um misto de relutância e frieza.

-- O quê?! - a esposa explodiu, sua voz repleta de indignação - O que vai conversar com a?

Bruno interveio, percebendo a gravidade da situação.

--Mãe, é melhor que o papai converse com Cloe e resolva isso de uma vez por todas.

Cloe hesitou, mas, numa mistura de ansiedade e determinação, seguiu o pai, que parecia mais um estranho do que alguém cuja vida a envolvia.
Ao entrarem no escritório, a porta se fechou com um estrondo, simbolizando a barreira que sempre existiu entre eles. Leone se acomodou na poltrona atrás da escrivaninha, parecia exausto.

--Foi sua avó que contou sobre mim? - indagou Leone, seus olhos ardendo com desconfiança. A ira mal contida ressoava em sua voz, cada palavra carregada de um peso insuportável.
Cloe, com as mãos tremendo, retirou um cartão postal do bolso da calça. Ao estendê-lo, seu coração disparava, ansiosa e aterrorizada. Leone pegou o cartão, seus dedos frios roçando a superfície, e olhou para ele como se estivesse examinando uma bomba relógio prestes a explodir.
Ele devolveu o papel com um gesto brusco, como se aquele objeto pudesse contagiá-lo. O ar na sala parecia eletrificado.

ANTES QUE SEJA TARDE Onde histórias criam vida. Descubra agora