Uma Noite Juntas

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Miranda estava na varanda, segurando uma taça de vinho e observando o horizonte cinza e pesado. O mar parecia mais agitado sob o céu encoberto, e a brisa fria soprava contra sua pele, mas ela não se importava. O tempo parecia se curvar à sua expectativa: ela esperava ver Victoria Grayson surgir correndo pela praia como de costume.

Porém, as nuvens cada vez mais escuras tornavam isso improvável. Miranda olhou para a imponente mansão Grayson, que dominava a paisagem. Aquela casa parecia um castelo, tão fascinante quanto sua dona. Involuntariamente, os pensamentos de Miranda voltaram-se para Victoria. Era impossível ignorar o magnetismo daquela mulher.

Enquanto seus olhos permaneciam fixos na mansão, seu celular vibrou na mesa ao lado. Miranda suspirou ao ver o nome na tela. Andreia. A insistência começava a irritá-la. Sem paciência, atendeu:

— O que você quer? — perguntou com um tom seco.

A voz chorosa de Andreia soou do outro lado.

— Eu sinto sua falta, Miranda... Sei que o que fiz não tem perdão, mas estou me sentindo tão sozinha.

Miranda apertou os lábios, já antecipando o que viria. Era um roteiro que conhecia bem, como uma peça encenada em seus dois casamentos anteriores. Andreia começaria a se justificar, e como esperado, a próxima frase veio com precisão familiar:

— Você passa mais tempo no trabalho do que comigo... Eu precisava de alguém, e você não estava lá.

Miranda inclinou a cabeça, os olhos se estreitando enquanto o  cansaço a envolvia.

— Já ouvi essa história antes, Andreia. — Sua voz cortante como um bisturi. — E adivinha? Sempre termina da mesma forma. Eu me mato de trabalhar para alguém que não reconhece isso, e quando vocês me traem, ainda colocam a culpa em mim.

Andreia começou a chorar do outro lado da linha, soluços abafados e melancólicos.

— Foi um erro... Eu juro, um erro estúpido. O único amor da minha vida é você, Miranda!

Miranda soltou uma risada baixa e amarga.

— Amor? Não é amor, Andreia. Você ama a ideia de mim. A figura implacável e segura. Mas quando se trata de realmente estar ao meu lado, você falhou como os outros.

Do outro lado, Andreia se calou por um instante, os soluços diminuindo, talvez surpresa com a brutalidade da resposta. Miranda continuou, sua voz firme e fria:

— Se você quer alguém para ocupar o vazio da sua solidão, não sou eu. Já passei por isso, e não tenho mais paciência.

Antes que Andreia pudesse responder, Miranda encerrou a ligação e deixou o celular sobre a mesa. 

Ela pegou a taça de vinho e voltou a olhar para a mansão de Victoria. O céu continuava carregado, e gotas leves começaram a cair.

Miranda ainda estava na varanda, girando a taça de vinho em círculos, perdida em pensamentos. O som de passos rápidos na areia a tirou de sua introspecção. Virou-se, e lá estava Victoria Grayson, correndo em sua direção. Mesmo com o tempo nublado e ameaçando chuva, Victoria parecia impecável, o rabo de cavalo balançando a cada passada, o moletom preto moldando seu corpo esguio.

Miranda arqueou uma sobrancelha, sentindo calor no peito. Até assim, coberta de suor e vestida para correr, Victoria era deslumbrante. A visão dela ali, de repente, emoldurada pelo mar cinza, parecia uma espécie de fantasia inconveniente.

Victoria parou ao pé da varanda, sorrindo e recuperando o fôlego.

— Hey, parece que vai chover, — Miranda observou com um leve sorriso no canto dos lábios.

Miranda Priestly & Victoria GraysonOnde histórias criam vida. Descubra agora