XI.

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O VENTO GÉLIDO LAMBE A MINHA PELE com uma ferocidade impiedosa, cortando-a como lâminas de cristal enquanto as nuvens, densas e carregadas, se fecham no horizonte, selando o céu em um manto cinzento

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O VENTO GÉLIDO LAMBE A MINHA PELE com uma ferocidade impiedosa, cortando-a como lâminas de cristal enquanto as nuvens, densas e carregadas, se fecham no horizonte, selando o céu em um manto cinzento. É como se o próprio mundo estivesse suspenso, aguardando o desenrolar de algo inevitável. Cada passo do cavalo na neve espessa ressoa no silêncio como um tambor, o som se mesclando com a ansiedade crescente em meu peito.

Eu deveria ter voltado para Valebris. A lógica dita que meu lugar é lá, no coração do poder da família Drakaris, onde alianças se forjam e exércitos aguardam comando. Valebris é onde sou mais forte, onde meus inimigos hesitam em me enfrentar. Mas Frosthaven, no outro extremo de Thalador, é onde Eleanor está, e neste momento, é isso que importa.

Minha decisão de seguir para o norte não foi motivada por impulsos ou emoções desenfreadas. Não vim para Frosthaven pelo calor de uma paixão, nem por obsessão ou desejo. Meu movimento é calculado, como todas as decisões que tomei ao longo da vida.

Eleanor não é apenas uma mulher – ela é um símbolo. Ela é o elo que conecta o presente ao passado esquecido dos Syndarion, a última herdeira de uma linhagem que outrora dominou Thalador. Frosthaven, com suas fortalezas de gelo e histórias antigas, não é apenas sua morada, é um lembrete do poder que ela carrega. Um poder que, se deixado livre, pode ser perigoso.

Eu não poderia ignorar isso.

Valebris pode esperar. Meus aliados no sul permanecem fieis, meu trono está seguro, mas Eleanor representa um enigma que preciso resolver. Estar aqui, no norte, não é um desvio do meu destino – é um passo necessário para consolidá-lo.

Os portões de Frosthaven se erguem à nossa frente, e, ao cruzá-los, sinto o ar ao meu redor mudar, carregado de presságios. As muralhas de gelo, erguidas como sentinelas de um tempo esquecido, capturam e refletem o brilho pálido do sol de inverno, que agoniza no horizonte, tingindo o céu com um laranja melancólico que parece chorar a luz que se apaga, um prenúncio da escuridão que se aproxima. O frio dessas terras não é apenas físico; ele é emocional, como se aquelas paredes escondessem segredos que se recusam a ser revelados. À medida que avançamos, o ranger da neve sob os cascos do meu cavalo soa abafado, quase engolido pelo silêncio que domina a cidade.

Cada pedra de Frosthaven parece impregnada de histórias de guerras passadas, de alianças quebradas, e de reinos que, como o meu, enfrentam a própria extinção. As sombras das torres se estendem pelo chão como os segredos que eu e Eleanor escondemos, cada um lutando contra aquilo que não pode ser dito. A distância emocional entre nós é palpável, refletida no ar frio e cortante que nos envolve.

Entro na sala de conselho, e meus olhos a encontram imediatamente. No centro, Eleanor está cercada por Lord Eirik e outros nobres. Para qualquer outro, ela seria apenas uma líder diante de seus conselheiros, mas, para mim, ela é o epicentro de algo muito maior. Tudo ao redor dela parece desaparecer, e meus sentidos ficam somente nela. Seus olhos azuis, afiados como o vento lá fora, se fixam nos meus, e é como se o ambiente ficasse ainda mais gelado. Não o frio da neve e do gelo, mas o frio daquilo que não foi dito. O tipo de frio que antecede um confronto.

Hydrazar: Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora