Capítulo 1

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A chuva caía pesada naquela noite. As luzes distantes do morro do Alemão brilhavam, refletidas nas poças d'água que se formavam pelas vielas. Any estava encolhida debaixo de uma marquise, seus olhos perdidos em algum ponto indefinido no horizonte. Seus braços envolviam o próprio corpo em um gesto de proteção. Ela tremia, não apenas pelo frio, mas pela sensação de abandono que a consumia desde que sua tia a deixara ali. Sozinha. Sem explicações.

Any havia perdido os pais muito cedo, não foi fácil ter visto seus pais serem mortos na sua frente, logo em seguida, foi morar com sua tia, Joana, a bruxa, como Any costuma chamar, uma mulher cruel que se esforçou em fazer da vida da garota um inferno, ela odiava o fato de a sobrinha ser sua responsabilidade e ainda por cima ter infantilismo.

Ela sentia o medo no peito. Era tarde, o céu parecia pesar sobre sua cabeça, e a escuridão daquelas ruas desconhecidas apenas intensificava seu estado de vulnerabilidade. Ela se balançava levemente, murmurando para si mesma canções que a acalmavam, apertando seu ursinho, Kyle, era seu maior amor.

Do outro lado da rua, Josh observava a cena. Ele estava acostumado a ver de tudo naquele morro. Vidas que chegavam e iam embora sem deixar rastros. Mas havia algo diferente naquela garota. Ele se aproximou lentamente, seus passos firmes e decididos. Seus olhos se estreitaram ao observar o estado em que ela se encontrava.

— Ei - sua voz grave assustou um pouco a garota. - O que você está fazendo aqui sozinha?

Any olhou para ele, seus olhos grandes e assustados. Ela não sabia o que responder. As palavras pareciam escapar de sua boca. Tudo que conseguiu fazer foi balançar a cabeça e apertar ainda mais o ursinho de pelúcia. Era o único vestígio de sua infância que ainda carregava consigo, um símbolo de conforto em meio ao caos. O último presente de seus pais.

Josh se agachou ao seu lado, tentando entender o que estava acontecendo. Ele era conhecido por sua frieza e falta de paciência, mas havia algo naquela menina que o fez parar. Ela parecia tão pequena e frágil, mesmo sendo uma mulher adulta. Algo dentro dele se remexeu, uma necessidade de protegê-la, de descobrir por que ela estava ali, sozinha, naquela noite.

— Você tem onde ficar? - ele perguntou, sua voz mais suave desta vez.

Any apenas balançou a cabeça, sem dizer uma palavra. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Josh suspirou. Ele não tinha tempo para isso, mas sabia que não podia simplesmente deixá-la ali.

— Vem comigo - ele disse, estendendo a mão. - Vou te tirar desse lugar.

Josh levou Any para sua casa, um lugar seguro no topo do morro, longe do perigo das ruas. Any entrou com passos curtos, ainda segurando o ursinho com força. Ela parecia deslocada, como se o mundo ao redor fosse grande demais para ela. E de certa forma, era.

Josh observava tudo de longe, sem saber exatamente como agir. Ele lidava com criminosos, com negociações e com violência, mas aquela garota trazia um desafio diferente. Ela estava quieta, mas algo nos seus olhos falava mais alto do que palavras. Uma mistura de medo e necessidade de carinho.

Ele acendeu um cigarro, afastando-se para pensar no que fazer a seguir. "O que alguém como eu pode fazer por alguém como ela?", pensava, enquanto a observava

Any, por sua vez, olhava ao redor com curiosidade. Ela se sentia um pouco mais segura dentro daquela casa, mas ainda estava presa em seu próprio mundo. Sentou-se no sofá, abraçando o ursinho com força, e começou a balançar suavemente. Pequenos sussurros saíam de seus lábios, uma tentativa de se acalmar. Ela sabia que aquela era uma situação estranha, mas seu mecanismo de defesa era voltar à segurança de ser criança. Lá, ninguém a machucava.

Josh por outro lado não havia notado que a garota tinha regredido, para ele sua ausência de fala era apenas por vergonha, nem imaginava ele que vergonha não era uma palavra conhecida no vocabulário de Any. Josh se aproximou, apagando o cigarro no cinzeiro e sentando-se à frente dela.

— Você vai ficar bem aqui - disse ele. - Mas preciso que me diga seu nome.

Ela lhe olhou por um momento parecendo tentar compreender a fala do homem a sua frente, ela então virou olhando para os lados e pegou seu ursinho entregando a Josh que mantinha uma confusão evidente no rosto

— Any. - Josh sorriu de canto vendo o a foto da garota junto a roupa do urso com o nome dela – Any – ela sorriu concordando e puxou o ursinho de volta - Certo. Eu sou Josh. E enquanto você estiver aqui, vou cuidar de você.

Any contraiu os lábios quando sua barriga roncou, não havia comido hoje. Josh notou o barulho que a barriga da garota fazia e sorriu se levantando

— Vamos ver se conseguimos arranjar algo para você comer - disse ele, estendendo a mão para ela...

A Protegida do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora