Capítulo 3

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Josh estava sentado à mesa da cozinha, observando Any enquanto ela se ocupava com Kyle. O contraste entre a leveza dela e a brutalidade de sua realidade continuava a ecoar em sua mente. Ele mal conhecia Any, mas já sentia uma responsabilidade maior do que o habitual por ela. Algo nele queria entender o que realmente estava acontecendo com ele e aquela garota.

Depois do café da manhã, ele se afastou para o quarto e pegou seu celular. Pesquisar sobre "infantilismo" não era algo que ele jamais imaginaria fazer, mas ele precisava entender melhor o que se passava com Any. Ele digitou o termo no buscador e, em poucos segundos, surgiram inúmeros artigos, discussões em fóruns e até vídeos explicativos. Ele se acomodou na cama e começou a ler.

A maioria dos textos explicava que o infantilismo era um comportamento onde a pessoa, geralmente adulta, buscava conforto e segurança se comportando como uma criança, seja vestindo-se de forma infantil, falando ou agindo de maneira infantilizada. Algumas pessoas faziam isso por conta de traumas ou para lidar com ansiedade e estresse. Havia também quem adotasse esses comportamentos por pura escolha ou estilo de vida, mas, em muitos casos, como o de Any, parecia ser uma resposta a traumas emocionais profundos.

Josh passou a mão no rosto, processando a quantidade de informações. Ele se perguntava como deveria lidar com isso. Any não parecia ter total controle sobre suas ações, ontem ela havia regredido pelo que ele havia entendido dos artigos.

Ele desligou a tela do celular por um momento e olhou para o teto. O comportamento dela o fazia lembrar de alguém, alguém que ele conhecia bem. Foi então que o nome veio à sua mente, Dylan.

Dylan era um amigo de longa data. Os dois já haviam passado por diversas situações juntos, especialmente no mundo do tráfico. Mas a vida de Dylan havia mudado nos últimos anos. Ele tinha se casado com Nour, uma mulher encantadora, que também tinha infantilismo. Lembrava-se de como, no início, havia achado estranho o estilo de vida de Dylan e Nour, mas com o tempo, ele passou a respeitar aquilo, entendendo que era algo que funcionava para eles.

Sem pensar duas vezes, Josh pegou o celular novamente e procurou o número de Dylan. Ele sabia que, se alguém pudesse lhe dar conselhos sobre como lidar com isso, seria ele. Após alguns toques, a voz rouca e familiar de Dylan atendeu.

— Josh? Como tá?

— Tô bem, Dylan - Josh respondeu, tentando soar casual, embora soubesse que a conversa não seria. - Preciso de uma ajuda. Tenho uma situação um pouco complicada.

— Ah é? E que tipo de situação? - perguntou Dylan, claramente curioso.

Josh respirou fundo antes de responder.

— É sobre uma garota. Ela tem infantilismo.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por um leve riso.

— Nunca imaginei que você me ligaria para falar de algo assim, cara. Você não costuma se meter nesses assuntos. Mas, deixa eu adivinhar... ela apareceu de repente na sua vida, e você não sabe como lidar com isso?

— É mais ou menos isso - admitiu Josh. - Ela foi abandonada, e eu a encontrei ontem à noite. É uma situação complicada. Ela não tem para onde ir, e eu... sei lá. Eu nunca lidei com alguém assim antes. Aparentemente, o trauma dela é grande. E o infantilismo parece ser a forma que ela tem de lidar com isso.

Dylan suspirou do outro lado da linha, parecendo ponderar o que Josh disse.

— Cara, eu entendo. Nour, minha esposa, também tem infantilismo, como você sabe. E com ela é bem parecido, veio de traumas de infância. Não é fácil, mas é possível lidar com isso. A primeira coisa que você tem que entender é que, para pessoas como ela, o mundo delas é muito diferente do seu. O comportamento infantilizado é, em parte, uma maneira de escapar da realidade que as machucou tanto. Mas não confuda as coisas, elas são completamente conscientes e capazes de tomar suas próprias decisões, o infantilismo não as torna dependes completamente, só gostam de serem tratadas com carinho e amor

— Certo — disse Josh, prestando atenção. — E como eu lido com isso? Não posso simplesmente tratá-la como uma criança o tempo todo, né?

— Sim e não. Você precisa achar um equilíbrio. Nour, por exemplo, gosta de se sentir cuidada, mas ela também tem momentos de clareza em que sabe que é uma adulta. A questão é que a mente dela busca essa segurança de infância, e é aí que você entra. Você precisa ser paciente. Às vezes, ela vai agir como criança de dois anos, e outras vezes, vai parecer uma adulta. Cada pessoa é diferente, então você tem que observar o que funciona para Any.

Josh franziu a testa, assimilando o que Dylan dizia. Ele não era exatamente o tipo de pessoa conhecida por sua paciência. No entanto, ao observar Any naquela manhã, percebeu que algo nele já estava mudando.

— E... tem mais uma coisa - Josh disse, hesitante. - Eu percebi que ela deu o nome de 'Kyle' ao ursinho dela. E você sabe, Kyle é o meu segundo nome. Ela não sabe disso, mas acho que ouviu meu nome em algum lugar e achou bonito. É estranho, mas parece que ela se apegou a esse nome.

Dylan riu levemente.

— Isso pode ser um bom sinal, Josh. Talvez ela sinta uma conexão com você de alguma forma, mesmo sem saber quem você realmente é. E isso significa que ela confia em você. Mas cuidado, você precisa ser muito delicado. Se ela descobrir de repente que o ursinho tem o nome do homem que ela ouviu nas notícias por algo perigoso, isso pode assustá-la. Vai devagar, entende? As coisas batem diferentes para ela

— Entendido - respondeu Josh. - Obrigado, Dylan. Vou tentar. Pode me avisar se tiver mais alguma coisa que eu deva saber?

— Claro. Se precisar, estamos aqui, eu e Nour. Quem sabe até vocês possam se encontrar um dia. Nour sempre gosta de conhecer outras pessoas com infantilismo, e pode ser bom para Any ver que não está sozinha.

Josh desligou o telefone e se recostou na cadeira, pensativo. Agora ele tinha uma direção mais clara sobre como proceder, mas ainda sabia que a caminhada seria longa. Ele queria cuidar dela da melhor forma possível. Ele olhou para a porta da cozinha, onde podia ouvir a risada suave de Any brincando com Kyle. Um leve sorriso se formou em seus lábios.

— Vamos ver onde isso vai dar - murmurou para si mesmo, já se comprometendo a cuidar da garota e do ursinho, enquanto pensava no que viria a seguir. 

A Protegida do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora