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Meu cotovelo ardia por conta do impacto ao bater no chão, não consigo ver o machucado direito mas sinto um líquido escorrendo, com certeza era sangue.  Era realmente necessário agir assim? Me puxando como se fosse um objeto, me jogando ao chão como se eu não fosse um ser humano?

— Kim Seungmin - a raposa chama a atenção do outro. — Achei que nunca mais viria aqui.

— Por que diabos ia pular do rio? - ele me encara de cima com o semblante fechado. — Você é burra?

Abro a boca chocada com o jeito que suas palavras sempre saíam como uma flechada em mim, me chateando e magoando.  Por algum motivo isso não mudava, mas ao mesmo tempo em que ficava triste, ainda assim não conseguia brigar com Seungmin.

Porque eu não sei agir desse jeito, não sei devolver aos outros as coisas negativas que fazem comigo.

— Eu só queria ajudar ele - respondo baixo.

— Ele te ofereceu algo em troca?

— N-não.

— Então porque ia se meter no que não é da sua conta, sua estúpida?!

— Preciso ganhar algo em troca pra ajudar alguém?

Finalmente o encaro de volta e percebo sua expressão de julgamento, mordo minha boca tentando não ficar mal, mas era impossível. Estava sozinha, sem ninguém comigo para me ajudar.

Sentia tanta saudade do meu pai que a única coisa que queria agora era poder chorar, mas eu nunca faria isso. Não na frente deles, não mostrando o quão vulnerável estava.

E isso era estranho, pois sempre fui honesta com meus sentimentos.

— E você, Jeongin.

— O quê? - ele abre um sorriso enorme, mas dessa vez cheio de malícia.

— Já avisei pra ficar longe do meu terreno. Se eu te pegar aqui de novo, vou arrancar suas orelhas e te fazer engoli-las.

— Não seria a primeira vez que você arranca a parte do corpo de alguém.

Meu olhos voltam ora para Seungmin, ora para Jeongin.

A raposa não tirava o grande sorriso do rosto a cada palavra proferida, já Seungmin não tinha expressão alguma. A única coisa que notei foi seu olho ganhando a coloração vermelha.

Abaixo a cabeça rapidamente quando o mesmo me fita, numa fração de segundos sinto-o segurando em meu braço fazendo-me levantar do chão.

— Anda.

Ele empurra meu braço e eu cambaleio, decido obedecer e ir para a direção da trilha que vim, mas antes escuto Kim dizer a Jeongin:

— Você nunca vai conseguir ter de volta o que tanto quer, desista logo.

O caminho da volta pareceu ter sido feito em horas, fomos em silêncio durante todo trajeto e eu tinha medo de que apenas os sons dos meus passos o irritassem. Seungmin andava em minha frente numa distância grande e eu não me atrevo a chegar mais perto do que já estávamos. A última coisa que queria era arranjar mais motivos para ele não gostar de mim, já me sentia um peixe fora d’água nesse lugar desconhecido e longe de todos que eu amo.

Subo os degraus abrindo a porta da casa, meu coração dá um pulo quando noto o mesmo parado com as mãos no bolso de frente a grande escadaria. Fico parada sem saber o que dizer ou fazer, devo apenas ignorá-lo ou falar alguma coisa?

— Eu, hm, obrigada… eu acho - digo pigarreando e ele apenas me fita sem falar nada, me deixando desconfortável como se estivesse sendo julgada. — Es-

— Não me dê mais trabalho do que já dá.

— T-trabalho? - engulo seco ao vê-lo dar alguns passos em minha direção. — Certo, desculpa. Eu realmente não queria te atrapalhar, Seungmin.

— Você é um tapete?

Franzo o cenho sem entender sua pergunta, ainda mais sendo feita de forma tão curta e grossa. Eu deveria com certeza me acostumar com isso, mas não era algo fácil de conviver.

— Eu… não, quer dizer, não sei o que isso significa.

— Por que não revida o que eu falo? Vou pisar em você tantas vezes até não aguentar mais, isso é ser tapete.

Não podia estar falando sério, ele me comparou com o objeto apenas para insinuar que sou uma pessoa que deixa os outros maltratarem?!

— Odeio gente assim, me dá nojo.

Isso foi um soco no estômago, nunca em toda a minha vida fui tratada de maneira tão fria. Ninguém nunca falou coisas tão horríveis, sempre fui uma pessoa querida entre meus amigos e vizinhos; e jamais maltratei ninguém.

A saudade da minha casa, do meu pai e dos meus amigos aumentou ainda mais.

— Às vezes - começo sentindo minha boca seca, mas pela primeira vez não recuo — a gente vê nos outros o que mais odiamos em nós mesmos.

Um silêncio se estendeu pelos segundos que mais pareciam horas e desde que o conheci, não consegui identificar o que ele estava sentindo no momento. Talvez fosse uma mistura de raiva, choque e… tristeza?

Me arrependo do que falei no mesmo momento em que noto seu olho mudar do preto para um cinza opaco, se vermelho poderia significar raiva, então o acinzentado talvez fosse mágoa. Não era o que eu queria, meu coração pesa enquanto não paro de me culpar internamente pelo o que saiu de minha boca. O que estava acontecendo comigo? Primeiro retrucando e agora atacando uma coisa que pode ser algo triste para alguém?

Antes que pudesse me desculpar e retirar o que disse, Seungmin é mais rápido:

— Não volte no lago, é perigoso lá.

Ele vira as costas e eu me apresso indo até o mesmo, parando apenas a alguns centímetros de distância.

— Eu não sei o porquê de ser perigoso lá - murmuro falando com suas costas —, mas agradeço sua preocupação.

— É muita presunção sua - Kim responde também num tom baixo — achar que eu estava preocupado com alguém como você.

Seungmin sai subindo as escadas e eu fico novamente sem reação, ele parecia colocar as pessoas para longe dele, afastando-os completamente da sua vida. Ou quem sabe isso só aconteça comigo, acho que realmente sou indesejada aqui.

Ainda que fosse difícil admitir isso para mim mesma.

Mesmo com essas palavras cruéis e com seu olhar frio e de desdém, por que sinto que ele não é tão ruim como mostra ser? Eu odeio julgar as pessoas, principalmente aquelas que não conheço a história da vida; às vezes nos apegamos ao que os outros nos mostram, mas o que fica escondido dos nossos olhos… é o que mais importa e é o que é mais significativo.

Suspiro em meio a escuridão da casa e vou até o banheiro cuidar do meu machucado, vendo pelo espelho não estava tão ruim, bastaria limpar e passar uma pomada. Após cuidar disso coloco um band-aid, já nem ardia mais.

Agora decido ir até a cozinha comer alguma coisa. Abrindo os armários e as geladeiras lotadas de comida fico feliz, pois pelo menos ele deveria ter boas refeições aqui. Me preocupava pensar que Kim não se alimentasse direito.

Decido fazer bulgogi com bastante carne, era uma comida mais simples de preparar. Tomo cuidado para não queimar e ao finalizar, coloco-o em dois pratos com kimchi e suco de laranja.

Saindo da cozinha com a bandeja, subo os degraus com cuidado e vou até o cômodo da grande porta de madeira da qual vi Kim saindo antes, coloco a bandeja no chão somente com seu prato junto do copo.

Com o pouco de coragem que tinha bato na porta e me prontifico a sair logo, dando certeza de que não correria o risco de atrapalhá-lo de novo. Espero que algum dia eu possa mostrar a ele que minhas intenções e meus sentimentos são verdadeiros, e que eu não me importaria em pedir mil desculpas a alguém.

Porque para mim, o que importa é estar bem com as pessoas.

Mas acima disso, estar bem comigo mesma.

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🩷 Até o próximo capítulo 🩷

Perfume | Kim Seungmin |Onde histórias criam vida. Descubra agora