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Mantenho meus olhos bem atentos em todas as crianças dentro do templo, apenas um segundo era o suficiente para perder alguém de vista. Desde que chegamos aqui, elas perguntavam com curiosidade aos monges tudo o que viam pela frente, estavam totalmente extasiadas com tanto espaço e natureza ao redor.

Depois de ensinarmos como rezar no altar, levamos elas até o refeitório para o almoço. Uma fila se formava e junto dos outros professores, colocamos a comida nos pratos deles.

Quando as horas se passam e os monges levam os alunos novamente para dentro do templo, vou para a parte de fora me sentando ao lado da professora Kim num banco.

— Como vão os estudos, Eunji? - ela me pergunta.

— Vão bem, um passo de cada vez e eu chego lá - respondo confiante.

— Você vai passar, tenho certeza.

Agradeço seu comentário com um sorriso e ergo minha cabeça fitando o céu claro. Meu sonho sempre foi ser professora, minha conexão com as crianças existia desde que me entendo por gente e é algo que me faz feliz. Acho que é porque eles têm uma energia boa e inocente, são felizes com pouca coisa.

Eu deveria ter feito a prova do governo ano passado, mas acabei não indo quando meu pai ficou doente. Felizmente após uma semana no hospital ele recebeu alta, tão saudável que nem parecia ter ficado mal por algum tempo.

— Não vá ser professora em Seul, hein.

Ergo as sobrancelhas com seu comentário e ela me encara com um sorriso de lado.

— Precisamos de você aqui, quem conseguiria controlar Minkyu?

Rio baixo balançando a cabeça, realmente Minkyu não era um aluno fácil de controlar, mas ele mudou em um curto período de tempo.

— Ele só precisava ser compreendido - digo esticando as pernas.

— E só você conseguiu fazer isso. Merece mais do que ninguém ser professora, espero que esteja na nossa escola.

Eu sempre gostei de ser ajudante na escola, mas ensinar e aprender com os alunos é maior do que apenas ficar de prontidão para caso algum professor precise de ajuda. Quero poder ajudar as crianças a saberem o que é certo e errado, como lidar com as emoções novas e confusas e é claro, fazê-los se transformar em um ser humano de caráter.

— Professora, tudo bem se eu ficar por aqui quando vocês forem embora ao invés de voltar pra escola?

— Claro, mas não vai muito longe, né?

— Tem um altar caminhando um pouco mais por essa montanha, eu costumo ir muito lá.

— Não quer ir com alguém? É mais seguro.

— Tudo bem, eu conheço esse lugar como a palma da minha mão - explico me levantando e ela concorda.

— E como você vai voltar?

— Com o chefe da vila que cuida do altar, ele sempre me dá carona desde criança.

— Eu preferia que você fosse com alguém - a mulher cruza os braços —, tem certeza?

— Absoluta.

Sorrio depois dela ainda insistir mais algumas vezes, assegurei de que era um caminho seguro e até que bem movimentado por conta da pequena vila que tinha aqui por perto. Após mais algumas horas de excursão ajudo os alunos a entrarem no ônibus e me certifico que todos estivessem lá, me despeço do lado de fora recebendo inúmeros balanços de mãos por dentro da janela.

Saio do grande templo pegando a estrada de terra no meio de tantas árvores e folhas, tendo a certeza de captar cada detalhe dessa visão incrível.

Meu pai costumava contar as histórias que minha avó apresentou à ele. No ocidente temos o conto da Chapeuzinho Vermelho que é parada pelo Lobo Mau no meio da floresta e tenta enganá-la, mas para nós a história que mais se encaixa num cenário cheio de matos é o Goblin.

Ao contrário do dorama que foi lançado, os Goblins reais em nosso folclore são criaturas pequenas e traiçoeiras. Eles gostam de pegar pessoas desavisadas pela floresta e atormentá-las, não são nada confiáveis. Não consigo deixar de pensar em tantas histórias ao passar por esse lugar incrível, e mais à frente eu já vejo meu destino chegando.

Acelero o passo sorrindo sozinha, estar aqui me dava uma sensação tão boa que era difícil descrever. Deve ser porque minha mãe costumava vir aqui quando estava grávida de mim, é como se eu pudesse sentir sua presença fortemente. Gosto de me apegar a esse pensamento, mesmo que não fizesse sentido para outras pessoas.

Aqui o pequeno altar era a única coisa diferente, estava longe de ser grandioso como o templo em que eu estava há pouco; mas ainda assim recebia muitos visitantes que acreditam fielmente no poder daqui. O altar do Corvo de Três Pernas estava cheio de flores e comidas de seus devotos, em cima da pedra polida tinha uma estátua do Gato da Sorte, o animal pintado de dourado com a pata direita esticada para cima era um símbolo do vilarejo, já que atrai prosperidade para os moradores.

A frase em caracteres japonês esculpida na pedra ainda era uma incógnita para mim, que sempre quis saber sobre o que se tratava.

Conforme o ritual pede, fecho meus olhos e bato palma três vezes começando minha oração às divindades. Era um momento especial, um momento em que eu podia me conectar comigo mesma e pedir pelo bem das pessoas ao meu redor. Apenas com o som dos pássaros me fazendo companhia e a brisa batendo em meus cabelos, era tão aconchegante que parecia que a terra me abraçava.

Abro os olhos quando sinto um cheiro muito bom, mais para o lado tinha um canteiro de flores novo que eu nunca havia visto antes. Me aproximo delas notando serem as rosas mais bonitas que já vi na vida, mas ao chegar perto não tinham o cheiro que senti antes. Caminho mais para o fundo seguindo o perfume chegando até a única flor diferente que tinha ali, reconheci de cara ser um cravo roxo; embora estivesse emanando um aroma delicioso, a flor estava murcha e sem vida.

Arranco-a com cuidado e a seguro com delicadeza para que suas pétalas não caíssem.

Um barulho alto me assusta e eu me viro para todos os lados tentando saber de onde veio aquele som, ando ao redor perguntando se tinha alguém por aqui, mas não recebo resposta alguma. Quando volto para o altar, me surpreendo com a visão que tenho.

No lugar que antes tinha a estátua do Gato da Sorte, agora tinha um gato de verdade. Me aproximo dele franzindo o cenho, a estátua não estava em nenhum lugar do chão, ela apenas desapareceu.

O gato laranja me encara com seus grandes olhos amarelos sem desviar de mim por nenhum segundo, era como se estivesse calculando e seguindo todos os meus passos. Sorrio quando ele inclina um pouco sua cabeça deixando-o extremamente fofo e ergo minha mão livre fazendo um carinho atrás de sua orelha, ele parece ter gostado já que começou a ronronar.

— Gosta de carinho, Douradinho?

Pergunto já dando um nome ao felino e num único e perfeito pulo, ele aterrissa no chão caminhando até uma outra estrada da floresta que também nunca tinha notado. Acompanho-o com o olhar e ele para na entrada, sentando-se e lançando um longo miado.

Douradinho levanta em duas patas me surpreendendo e balança as patas dianteiras rapidamente, miando novamente em seguida.

É impressão minha ou…

— Você quer que eu te siga?

Pergunto mais comigo mesma me sentindo totalmente estúpida por falar com um gato, mas para a minha surpresa e choque, tenho quase certeza de ter visto-o balançar a cabeça.

Talvez ele quisesse me guiar até sua família, pode ser que tenha filhotes e tenha vindo pedir ajuda de alguma forma.

Prontamente sigo-o adentrando a mata.

Ha Eunji, você realmente merece ter esse nome.

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🩷 Até o próximo capítulo 🩷

Perfume | Kim Seungmin |Onde histórias criam vida. Descubra agora