Balanço animada o dinheiro que Seungmin me deu antes de guardá-lo no meu bolso enquanto caminho pela primeira rua da cidade. Já vou tentando encontrar alguma loja de roupas pois precisava urgentemente de novas, por mais que eu tivesse encontrado algumas vestes antigas masculinas na casa e usado-as escondido de Kim. Provavelmente ele não usava mais já que estavam num saco preto na lavanderia, pensei que o mesmo não se incomodaria — pelo menos era o que eu desejava —.
Aproveitava para lavar minhas únicas peças de roupas e colocar para secar enquanto arrumava qualquer cômodo de lá — por mais que a casa já fosse bem arrumada —. Hoje estou com minhas próprias roupas, mas não aguento mais praticamente roubar o que não é meu. Sem contar que tenho medo de que Seungmin descubra e brigue comigo novamente.
Aos poucos as pessoas vão aparecendo e aqui todos usavam hanbok, eu me sentia dentro de Joseon junto das casas e os vendedores ambulantes no meio da rua. É claro que uma garota com vestes modernas chamaria atenção no meio de toda tradicionalidade coreana, porém decido fingir não estar sendo observada já que isso provavelmente me faria travar.
Agora já com algumas sacolas de compras nos braços, decidi pegar o mais essencial para mim.
— Você não teria roupas como essas? - paro numa lojinha perguntando à mulher, ela fica me fitando por algum tempo e eu pigarreio com a demora. — Por favor.
— Sinto muito, mas não temos.
— Eu… vi algumas pessoas usando, onde posso comprar?
Me refiro à Seungmin, Hyunjin e Minho que não usavam hanbok.
— Só quem tem acesso ao Mundo dos Mortais compram essas vestes.
Eu já sabia que Minho pode ir para Jeju, mas nunca imaginava que Hyunjin e Seungmin pudessem. Mas pensando bem, Hwang disse ser os mares, os rios e blá blá blá; isso significa que ele também pode estar no mar da nossa ilha, certo?
Minho é o Gato da Sorte e Hyunjin é uma divindade… poderia Kim ser também uma criatura importante do nosso folclore?
— Vai querer experimentar um hanbok?
Volto minha atenção à dona da loja que me observava curiosamente, confirmo balançando a cabeça e escolho um vestido de saia azul claro. Adentro no pequeno provador enquanto me encaro no espelho olhando como a roupa me caiu bem, mas ainda não conseguia focar no que estava em minha frente. Estou curiosa sobre o homem a ponto de explodir.
— A senhora conhece Seungmin? - pergunto alto ainda de dentro do provador enquanto começava a colocar minhas roupas novamente quando ela exclama alto do lado de fora. — Madame? Tudo bem?
— Ah, sim. Tudo bem.
Abro a porta entregando o vestido e a acompanho para fazer o pagamento.
— Então… a senhora sabe algo sobre Seungmin? - insisto abrindo a carteira e tirando uma nota totalmente diferente das que usamos fora daqui.
— Sinto muito, senhorita. A única coisa que posso te informar é que a senhorita tem muita coragem de se referir a ele assim.
— Por quê? Ele nunca se importou com isso.
— O senhor Kim não gosta que as pessoas sejam informais com ele, fica uma fera. E é o que ele realmente é, uma fera incontrolável.
Franzo o cenho pegando a sacola com a compra que fiz e nós duas caminhamos até a saída da loja.
— Ele não é tão ruim - defendo-o sem muita certeza. — Por que o chamou de fera?
— É um assunto que não costumamos falar - ela sussurra. — Mas houve uma época em que o senhor Kim ousou recusar uma ordem de um superior.
— E quem seria esse superior? - me calo quando a mulher coloca o dedo em meus lábios para fazer silêncio.
— Uma coisa eu te digo: - me abaixo ficando em sua altura para ela cochichar em meu ouvido. — Nunca houve uma criatura que recusasse um pedido dele naquela época, nem mesmo o mais rebelde das criaturas. E podemos ver o que aconteceu ao dizer não.
— O que quer dizer com isso? - questiono baixo sem entender.
— Ora, garota! Não é óbvio? Uma das provas de sua penitência é aquela cicatriz.
[...]
Caminho pelas ruas ainda pensando na conversa que tive há pouco com a senhora, o que ela me disse sobre Seungmin, o que ela me falou sobre a cicatriz ser a prova de que ele se recusou a alguém mais importante do que o mesmo… o que esse lugar esconde? Tenho inúmeras perguntas e não posso fazer nenhuma delas.
Paro frustrada numa estrada deserta ponderando e criando inúmeras teorias em minha cabeça. Não era bom ficar num lugar em que eu deveria suspeitar de todos, eu odiava essa sensação de ter que ficar um passo atrás sempre que uma pessoa aparece em meu caminho.
E é nesse exato momento que me escondo atrás de uma parede ao escutar duas pessoas conversando perto de mim.
— Alguém será responsabilizado quando eu souber da verdade, e nunca irei perdoar - o tom de voz feminina cheio de ódio me deu medo, fazendo-me engolir seco.
— Sim, minha senhorita - outra mulher responde dessa vez num tom mais baixo e calmo.
— Eu lembrarei a todos que ousaram esquecer, mês que vem no evento desse desgraçado.
— Sim, minha senhorita.
— Vamos, não quero passar nem mais um segundo nesse lugar.
Solto o ar preso quando noto estarem longe de mim, aquela mulher tinha tanta raiva em sua fala que eu ficaria totalmente paralisada se ela tivesse me visto.
Curiosamente saio da onde estava e sigo para o local que as duas conversavam. Era um templo igual ao que eu estava antes de adentrar o Mundo Divino, o Corvo de Três Pernas tinha muitas oferendas, mas nenhuma estátua o representando. Pego uma maçã que havia comprado mais cedo e a coloco no prato mais vazio, deixando as sacolas no chão e unindo as mãos para uma oração.
Peço pelo meu pai, pela minha melhor amiga e pelos meus vizinhos. Pelas crianças da escola, pelo Minho e Jeongin.
E por último peço pelo Seungmin, para que ele pudesse cumprir sua penitência seja lá qual fosse.
Abro os olhos assustada com o barulho de um corvo e me viro tentando encontrar de onde o som veio. Desisto quando nada aparece pegando novamente minhas compras, mas quando dou o primeiro passo para ir embora me assusto de novo com outra presença.
— O que faz aqui? - Seungmin pergunta seriamente agora com o olho avermelhado, ele estava com raiva. — Falei pra não ir em lugares estranhos.
— Mas não é estranho - me atrevo a dizer mesmo que minhas mãos tenham tremido. — É um altar.
— Seu pedido aqui nunca será ouvido - ele fala cerrando os dentes e aperta meu braço com força. — Não seja mais burra do que já é.
Meu braço doía e eu sentia meus olhos ardendo por causa das lágrimas, estava assustada. Não com Kim, quer dizer, ele também era um dos motivos. Mas já estava querendo colocar tudo pra fora desde que cheguei aqui, parece que ele apenas apertou o gatilho que já estava pronto para ser disparado.
E pela primeira vez eu choro em sua frente ao mesmo tempo em que ele solta meu braço, largo as sacolas no chão de qualquer jeito e não me importo com mais nada além de mim mesma. Era horrível, eu nunca havia me sentido dessa maneira antes.
Não estava brava com ele, no fundo sei que não quer dizer essas palavras duras e cruéis. Pelo contrário, tenho empatia pelo homem que parece estar em completa agonia todos os dias de sua vida.
E eu me surpreendo no momento em que sua mão que antes me machucava vai até minha cabeça e acaricia meus cabelos, fazendo um carinho desengonçado, mas bom. E fico ainda mais perplexa quando escuto-o dizendo:
— Me desculpe, Eunji.
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🩷 Até o próximo capítulo 🩷
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Perfume | Kim Seungmin |
Fiksi PenggemarQuando Eunji colheu aquele único cravo roxo sem vida no meio de tantas outras flores vívidas e coloridas, ela não poderia imaginar quantas coisas mudariam daquele momento em diante. Aquela flor murcha exalava um perfume nunca sentido antes, um aroma...