Cap 04 - A Queda de Bórgia (1700)

39 6 0
                                    

A vastidão do oceano se estendia diante deles, suas ondas quebrando ritmicamente contra a costa. Ela se virou para Yoko, que estava sentada ao lado dela, uma presença calma apesar da intensidade do encontro anterior.

"O que aconteceu lá fora", Faye começou, sua voz firme enquanto apontava para a água, "espero que não aconteça novamente." Havia uma finalidade em suas palavras, uma dispensa antes mesmo que Yoko pudesse responder.

Yoko apenas sorriu, uma expressão que torceu algo no fundo do estômago de Faye. "Sim, senhora. Seus desejos são minhas ordens", Yoko respondeu, enquanto levava a garrafa térmica de chá verde gelado aos lábios, o tilintar do gelo era o único som contra o silêncio fervente de Faye.

"De qualquer forma, vamos continuar com o dia", disse Faye, tentando se livrar da sensação perturbadora que o ato aparentemente inocente de Yoko sempre invocava.

"Tem mais!?" Yoko perguntou, com os olhos arregalados de surpresa fingida.

"Claro, tem mais, nós não fizemos nada, Srta. Apasra", Faye resmungou, amaldiçoando mentalmente sua própria reação confusa.

Enquanto o carro percorria os quilômetros em direção ao próximo destino, os pensamentos de Faye giravam em espiral. Esta mulher. Esta mulher irritante e inebriante seria a morte dela. Literalmente. Normalmente, Faye ia atrás do que queria, que se danem as consequências. Mas Yoko... Yoko era diferente.

Primeiro, ela realmente queria Yoko? A pergunta a deixou confusa. Faye não estava acostumada a duvidar do que queria. Mas havia algo sobre a mulher mais jovem que ia além do óbvio - a maneira como seu olhar parecia perfurar as defesas cuidadosamente elaboradas de Faye.

Ela tinha acabado de fazer trinta anos. Uma mulher independente e bem-sucedida no auge de sua carreira. E aqui estava ela, reduzida a uma bagunça atrapalhada e confusa por uma mulher que mal tinha idade para beber. Era a coisa mais maldita.

Yoko era seu oposto, reservada, mas astuta, e uma manipuladora habilidosa. Observadora, onde Faye estava comandando. E aqueles olhos, aqueles malditos olhos viam através dela, tropeçando nas camadas cuidadosamente construídas de ambição e segurança, deixando-a exposta.

E a pior parte? Yoko sabia. Faye podia praticamente sentir o gosto – a consciência sutil brincando em seus lábios, a diversão escondida naqueles olhos conhecedores. Era um jogo para ela, uma atividade deliciosa que ela praticava com a misericórdia relaxada de um predador brincando com sua presa.

E que Deus a ajude, Faye era a presa.

Então havia o fato de que Yoko era tecnicamente sua chefe, a filha da mulher que pagava a Faye uma quantia obscena de dinheiro. Tecnicamente. Era uma linha que Faye nunca havia cruzado antes. As consequências potenciais, o escândalo total, deveriam ter sido o suficiente para detê-la. Deveriam ter sido.

Então por quê? Por que arriscar tudo por alguns olhares roubados, pelo roçar de pontas de dedos que mais pareciam uma marca? Faye arriscou um olhar. Yoko estava olhando pela janela, seu perfil delineado contra a luz fraca, aparentemente perdida em pensamentos. Mas Faye sabia muito bem.

Era ridículo. Totalmente ridículo. Toda essa situação cheirava a falta de profissionalismo, um jogo perigoso que ela não podia se dar ao luxo de jogar. Faye tamborilou os dedos no volante, seu pulso acelerando.

"Qual é o próximo item da agenda?" A voz de Yoko, atravessou os pensamentos de Faye.

"Sua mãe retorna de sua viagem hoje à noite. Estamos fazendo o jantar."

O olhar de Yoko voltou-se rapidamente para Faye, um lampejo de algo ilegível em suas profundezas. "Jantar?"

"Massa, do zero. O pedido dela." Faye respondeu.
"Massa, então," Yoko finalmente disse, sua voz cuidadosamente neutra. A máscara estava de volta no lugar.

Receita para o desastreOnde histórias criam vida. Descubra agora