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O dia de folga de Luan seria exatamente um dia antes do feriado de Ação de Graças. Ele e seus amigos decidiram dar um rolê, como sempre fazem em suas folgas. Estavam todos bêbados, caídos em um campo baldio. Mathew, Felipe e Anthony, entre outros amigos que trabalham com eles, estavam deitados sobre o capô do carro de Felipe, admirando as estrelas ou tentando.

- Luan? Para de suspirar! O que tem em mente que tanto te incomoda? - pergunta Felipe, olhando em direção a Luan, que estava ao seu lado esquerdo.

- Sabe o que é? - ele suspira novamente. - Minha cabeça está cheia, estou com uma pulga na mente - disse ele.

- Essa pulga está localizada no coração e na mente - explica Anthony, zombando um pouco, alterado pela bebida.

- Fica quieto, Tony - diz Luan, tentando chutar o outro, que estava ao lado direito de Felipe. Mas falhou.

- O que eu não estou sabendo? - Felipe diz, empurrando os dois. - Contem agora!

- Luan tem uma pulga feminina na cabeça e no coração - Anthony diz, rindo.

- Cala a boca, seu mendigo! - Luan diz e, desta vez, acerta o chute.

- Ei, o melhor mendigo de todo o Canadá! - diz ele, enquanto chuta o outro também.

- Parem, crianças, vocês estão me esmagando - Felipe diz.

- Você está apaixonado e não sabe o que fazer? - Mathew diz, do outro lado, atravessado em cima do carro.

- Eu sou um cagão pra isso, não sei como lidar, não sei se é o correto - diz Luan, sentando-se e tomando mais um pouco de sua bebida.

- Você deveria ir atrás, tem medo do quê? Vai lá, corre em direção à pulga - diz Felipe, rindo.

- Será? Sei lá - diz Luan.

- Vai, mano, só vai, deixa rolar - diz Mathew, já bêbado.

- É, eu tenho que tomar vergonha na cara e ir, né? - diz Luan, levantando-se e pulando para fora do carro.

- Vai lá, qualquer coisa, põe a culpa no álcool - diz Anthony, rindo da reação do outro.

- Ok - Luan diz e sai correndo, sem sequer pegar uma carona.

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As ruas do bairro conhecido por Luan estavam desertas. Na madrugada, não se ouvia nem um cachorro latir ou sequer alguém andar pelas ruas. Aquele bairro era muito quieto, sinistro, para ser mais exato, na mente de Luan.

Ele cruzava a rua correndo em direção a uma casa específica. Ao chegar, olhou por todo o local e entrou pelos fundos. A coincidência era ver uma decoração de flores e cipós ao lado da janela que sabia ser da garota. Não poderia perder a oportunidade de chutar a janela e confirmar que era dela. Ele só tinha uma chance. E escalou como uma verdadeira aranha, em total silêncio.

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Zoe havia ido se deitar após ignorar o jantar, pois já havia se alimentado mais cedo; então, decidiu apenas dormir após o banho. Estava deitada em sua cama quando, de repente, ouviu alguns barulhos. Seus pais tinham saído e ela não sabia a que horas voltariam. Portanto, não havia ninguém em casa além dela. Ouviu novamente e levantou a cabeça para verificar. Estava escuro; ela olhou em direção à janela e viu que estava aberta pela metade. Franziu a testa ao lembrar que havia fechado a janela; ela não dormia com a janela aberta. Olhou em volta do quarto, mas não viu nada. Quando sentiu que estava sendo observada, olhou pela visão periférica e congelou ao ver uma sombra. Engoliu em seco e decidiu se virar para verificar. Respirou lentamente por alguns segundos e levou um grande susto.

- Buh - diz a sombra, e Zoe deu um tapa forte no rosto de quem estivesse ali - Você tem a mão pesada!

- Porra, Luan! - Ela diz em um sussurro, enquanto põe as mãos sobre as bochechas dele, e ele sorri - Você está fedendo a álcool - Ela reclama, tapando o nariz.

- É, eu estou um pouco alterado mesmo, mas eu tomei só um pouquinho - Ele diz, mostrando em suas mãos o pouco.

- Sei, o que você está fazendo na minha casa? - Ela pergunta, levantando-se e indo fechar a porta, nervosa.

- Eu preciso te falar uma coisinha - Ele diz, puxando-a para perto de si assim que ela se aproxima da cama. - Eu posso?

- Diz, mas não aperta meu pulso - Ela responde, puxando a mão de volta e se afastando, mas ele a puxa novamente, segurando-a pela camiseta.

- Zoe? Eu quero você! - Luan diz, com seu sorriso quadrado estampado no rosto. - Eu preciso te dizer que eu sou... - Ele queria dizer e poderia, mas Zoe não deixou; ela tapou a boca dele com a mão.

- Não diga, por favor! - Ela implora. - Você está bêbado e deve ter errado a casa. Por favor, vá embora! - Ela repete em um sussurro magoado.

- Eu estou exatamente onde eu deveria estar - Ele diz, olhando-a nos olhos.

- Luan? Você está bêbado, eu não quero ouvir coisas de você nessa condição. - Ela diz, sentado ao lado dele, enquanto ele baixa a cabeça, triste.

- Eu posso só ficar aqui com você hoje? Prometo que vou embora cedo. - Ele diz, desistindo de suas tentativas.

- Não tenho lugar para você, e você está fedendo a álcool. - Ela diz, olhando em volta, ponderando se deve ceder.

- Eu posso tomar banho e dormir pelado. Você pode me deixar jogado no chão, eu não ligo. Só me deixa ficar aqui com você, ele diz, tocando o rosto quente dela.

- Pelado não, eu devo ter alguma coisa para você dormir, ela responde, levantando-se. Zoe percebeu que estava com seu pijama transparente, mas pensou que Luan estava alcoolizado e não lembraria.

Luan tomou banho e trocou de roupa, enquanto Zoe arrumava seu lugar para dormir.

- Onde vou dormir? - Ele diz, se aproximando dela, e ela aponta para sua cama. - Eu? Eu e você? Nesta cama? - Ele diz, sentindo-se tonto.

- Sim, vem, está tarde e você tem que descansar - Ela diz, deitando-se na parte direita. Luan deu passos leves até a cama e engoliu em seco, deitando-se ao lado de Zoe.

- A gente pode conversar? - Ele pede, deitado de lado, virado para ela. - Quem te machucou assim? - Ele questiona, passando a mão sobre o rosto avermelhado dela. Mas Zoe segura sua mão.

- O que você quer conversar? - Ela sussurra, e Luan respira fundo.

- Por que está falando baixo? - Ele pergunta.

- Estou cansada e, quando estou assim, não tenho nem força para falar - Ela explica. Seus olhos estavam lentos; ela estava sentindo sono.

- Eu quero te contar uma coisa - ele diz, e seus olhos estavam quase se fechando.

- Pode dizer! - Ela responde, achando fofo seu jeito sonolento.

- Eu... - Ele nem chega a completar a frase, e seus olhos se fecham. Ele dormiu, e Zoe sorriu, também sonolenta.

Zoe ficou observando Luan, seus cabelos soltos e seu rosto bronzeado. Ele ressonava devagar. Zoe foi se entregando ao sono lentamente, até finalmente adormecer.

Na madrugada, Luan acordou sentindo sua cabeça doer. Olhou em volta e estranhou que seu quarto não costumava ser tão escuro; ele tinha LEDs espalhados pelo ambiente e decorações diferentes. Olhou para o lado e sentiu seu braço dormente. Havia uma garota deitada em seu braço. Ele puxou o braço lentamente e a olhou. Ele travou, surpreso: era Zoe.

Seu corpo estava tão perto que ele podia sentir o cheiro dos longos e ondulados cabelos dela que cobriam seu rosto. Zoe estava com os braços sobre a barriga dele, deitada entre o peito e o braço. Luan respirou fundo e se perguntou o que havia acontecido para ele estar ali. Ele engoliu em seco e lentamente se retirou de debaixo dela. Pegou suas roupas e se desfez das que usava. Olhou uma última vez para a garota deitada sobre a cama, como um anjo, e saiu pela janela.

Continua...

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