narradora
Todas as vezes em que Alexandre ficava para fechar o restaurante, repensava todas as suas decisões. O sol já havia ido embora tinha horas, a cidade estava silenciosa e dali ele podia ouvir o som do mar com clareza.
Entrou em seu carro e de imediato dirigiu até sua casa. Dirigiu devagar na tentativa de evitar Karina de todas as formas.
Ele voltaria no assunto adoção mais uma vez naquela noite e sabia que a mulher iria discutir o mesmo tópico de todas as vezes.
Alexandre estacionou o carro em sua vaga e esperou pacientemente o elevador subir. Ao abrir a porta de seu apartamento, se deparou com a mesma cena de todos os dias: A casa em silêncio e Karina na sala de jantar lhe esperando para jantar.
- Oi, Ka. - Alexandre a cumprimentou, a beijando no rosto. - Não precisava ter me esperado.
Karina sorriu e negou.
- Esse é o único momento em que podemos ficar a sós. - Ela disse enquanto Alexandre lavava as mãos.
Ele ficou confuso.
- Estamos sempre a sós.
- Não exatamente, né? - Ela riu. - Você está sempre no restaurante.
Alexandre se sentou na cadeira na frente da mulher. Ele se serviu em silêncio antes de responder a esposa, que parecia ansiosa pela resposta.
- É meu trabalho, e você pode ir sempre lá.
- Eu também trabalho. - Ela respondeu.
- Então, você compreende. - Ele disse, comendo.
Karina sempre cozinhou para Alexandre, o que era engraçado já que era ele o dono de um restaurante e formado na área, mas ele não conseguia se lembrar de um momento do casamento deles em que Karina permitiu que ele cozinhasse uma refeição completa.
- Sim, mas eu acho que devemos ter mais tempo juntos. - Karina respondeu, parecendo sentida. - Eu me sinto meio sozinha.. Você passa o dia rodeado de pessoas.
Alexandre sorriu fraco.
- O que é isso, Karina? Do nada esse assunto? Você sempre diz que gosta da paz que é trabalhar sozinha, da paz que é ser apenas nós dois. - Alexandre perguntou.
- Nada, é só o que eu venho sentindo. - Ela respondeu. - Acho importante a gente se abrir e acolher os sentimentos um do outro.
Alexandre estava completamente confuso. Eles eram casados há quase uma década e aquele assunto nunca havia sido pauta entre eles e nunca houve a necessidade de existir.
- Eu acho que está tarde e você precisa ir dormir. - Alexandre disse e Karina revirou os olhos. - É sério.
- Viu? Você não está pronto para formar uma família. - Ela se levantou.
Alexandre soltou os talheres surpreso, a encarando.
- Isso tudo é por que eu estou insistindo na adoção? - Ele perguntou. - Você está querendo usar isso como argumento? Eu sinto muito, mas não vai rolar. - Alexandre respondeu.
- Você não se importa nem comigo, como vai se importar com um bebê? - Karina perguntou e foi o suficiente para Alexandre se irritar.
- Eu te conheço, Karina. Você nunca fez esse drama todo para mim. - Ele respondeu. - E aparentemente oito anos de casados não foi o suficiente para você me conhecer. Se fosse o seu sonho ser mãe, eu seria o primeiro a apoiar a ideia e tem sido muito triste saber que você não pensa da mesma maneira que eu. - Ele também se levantou. - E a gente aprende a ser pais, não nasce sabendo.