narradora
— Seu Alexandre! Que surpresa o senhor por aqui.
Alexandre sorriu, cumprimentando a senhora.
O orfanato ficava no centro do Rio de Janeiro. Era um pouco mais afastado, mas era um dos únicos lugares que Alexandre realmente confiava.
— Achei que o senhor não viria mais. — A senhora, que vestia um uniforme de cores claras comentou enquanto eles entravam orfanato a dentro.
— Como assim? Eu ainda não adotei ninguém.. — Alexandre riu. — E essa casa está bem silenciosa, né?
A senhora riu.
— Estão chegando da escola. — Ela respondeu. — Sua esposa nos ligou, por isso que eu achei que não viria mais. — Ela disse e Alexandre ficou confuso.
— Não estou entendendo. Achei que vocês haviam ligado para ela, não o contrário. — Alexandre parou de andar, cruzando os braços.
Eles estavam próximos a sala da direção. A senhora também pareceu ficar confusa, eles entraram na sala.
— Nós ligamos e ela disse que iria retornar. Ela retornou dizendo que poderia seguir a fila. — A senhora disse e Alexandre deitou a cabeça. — Disse que vocês haviam desistido da ideia da adoção, mas assim que amadurecessem iriam voltar o contato.
Alexandre sentiu sua cabeça começar a doer. Cruzou os braços e travou a mandíbula.
— E o bebê que estávamos na fila foi adotado? — Alexandre perguntou e a senhora entendeu tudo. Ela assentiu e Alexandre suspirou fundo.
A senhora notou que não raiva, era desapontamento. Alexandre frequentava o lugar há mais de dois anos e ela sabia o quanto ele queria um filho.
— Eu sinto muito, Seu Alexandre. — Ela respondeu. — Mas, vocês podem conhecer outras crianças.. Infelizmente, as filas dos bebês rodam muito rápido, e ás vezes nem roda.
Alexandre balançou a cabeça, se levantando.
— Eu vou indo. — Ele parecia desnorteado. — A gente se fala, pode ser? — Alexandre sorriu fraco e a senhora assentiu.
— Combinado.
Alexandre dirigiu em completo silêncio. Havia saído cedo de Búzios, então chegou em casa um pouco depois do horário do almoço.
Estacionou o carro de qualquer jeito na garagem e entrou em casa irritado.
A casa estava o mesmo silêncio de todos os dias, e Alexandre sabia que Karina estava no escritório trabalhando. Ele caminhou até o cômodo com rapidez.
Abriu a porta sem bater, assustando a esposa.
— Em que momento nós deixamos de ser um casal e eu não fui comunicado? — Alexandre cruzou os braços.
— Meu Deus, por que você tá entrando assim sem nem bater na porta? — Karina apoiou a mão no peito, suspirando.
— Karina, qual é o seu problema? - Alexandre voltou a perguntar. — Quando que as nossas ideias pararam de se encontrar? Quando você resolveu que poderia dar ultimatos sem a minha opinião? — Alexandre continuou perguntando, deixando a mulher ainda mais confusa.