paladar

1.1K 107 146
                                    

SURPRESA!

Fazia um tempo que estávamos pensando em escrever algo juntas e tivemos uma ideia muito legal. Esperamos que vocês gostem e se divirtam com a gente - capítulos pequenos mas o que importa é o conteúdo.

A Renata mandou avisar que o que Narol uniu Diama não separa!

Aproveitem!

••

Não é planejado. Nada que pudesse prever com antecedência, nem premeditar sob o manto das coisas que são intransponíveis. Fátima tenta compreender, raciocinar, e, ainda assim, suas palavras se perdem nelas mesmas, em pratos montados e descongelados para dois.

Começa como uma desculpa. Com Diana e seu jeito doce - Fátima não entende por quê aquela mulher quer tanto ser sua amiga - e sua insistência em alimentá-la. Pena, talvez, é a primeira hipótese. É o que fica quando Robson a cutuca e afirma que Diana nunca ia querer se relacionar com ela se não fosse pela amizade dele com Hugo.

Fátima quer responder e dizer que sua amizade é forjada pelo dinheiro, enquanto a dela com Diana se baseia em algo mais profundo, cheio de carinho. Mas nunca diz nada. Não diz porque quer que isso continue. Quer manter seus olhos e dedos e abraços escondidos do mundo. Não quer saber a verdade. Não quer descobrir que Diana também apenas finge se importar.

Sua desconfiança não é de todo infundada. Afinal de contas, Robson é o primeiro a fingir que se importa com uma coisa qualquer a fim de querer imprimir uma norma sobre seus hábitos alimentares ou seu corpo. É com isso que Fátima está acostumada - represália, limite. Não tem um dizer próprio sobre sua carne desde que disse sim no altar, criando uma sucessão de aceitações silenciosas a tudo que Robson impôs a partir daquele ponto.

Claro que a fome não vê o aspecto social e patriarcal de tudo isso. Ela vê o prato de comida negado, a barriga roncando depois de um plano mirabolante de jejum. A fome que se instala entre Fátima e Diana é, antes de tudo, orgânica.

Diana sacia uma necessidade que Robson nega. Diana não parece se importar com os números que irão aparecer na balança no fim da semana, apontando seu fracasso. Fátima não sabe bem pontuar se isso é bom ou se significa que Diana simplesmente não se preocupa com ela. Porque, como Robson repete insistentemente o tempo todo, as dietas malucas existem porque ele se importa. Ele a ama. E Fátima não quer ser o motivo do fim, nem ao menos digna do amor de seu marido. Então, ela acredita e continua.

Mas a fome também persiste. As receitas saudáveis de Diana começam a ter um ar de "talvez um pouco de açúcar deixe esse bolo mais gostoso, vamos experimentar?", ou "um pouco de azeite para dar gosto não faz mal, Fátima". As refeições ao lado da amiga começam a ter gosto, para além de apenas oferecer saciedade.

"Essa sua amizade com a Diana é o que tá custando mais horas de jejum, você sabe né?" Robson pergunta, um dia, enquanto janta um prato farto na frente da esposa que só observa.

Sempre assim. Um tom manso, de quem está explicando o óbvio a uma criança de nove anos.

"Tenho que ficar consertando os estragos que ela faz te enchendo de comida"

Fátima se sente um objeto, manuseado de um lado para o outro entre os dois.

E se Diana, no fim das contas, estiver a usando para atingir Robson?

Ao mesmo tempo que quer acreditar que isso não tem fundamento, Robson faz questão de deixar tudo muito pessoal. Sente-se na linha de frente de um exército cujos únicos soldados são ela e o marido lutando por um casamento em pedaços - e ela está na frente porque a responsabilidade é sua. Se ao menos conseguisse fechar a boca, tudo estaria bem.

todos os sentidos Onde histórias criam vida. Descubra agora