olfato

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Oie! Voltamos!

Aproveitem!!

*tocando hits different da Taylor*

••

No começo, Diana não consegue identificar o que tanto a perturba na existência de Fátima. Ela só sabe que algo mudou. Não é visível, no entanto. É mais como uma onda que atravessa oceanos e a encontra completamente desatenta na praia. O cheiro das rosas. Não propriamente. Algo diferente, não o usual aroma de shampoo e sabonete, mas um perfume silvestre, levemente amadeirado, que a deixa completamente extasiada.

Tenta se lembrar se já o sentiu antes. Talvez em alguém querido? Algum lugar distante de que sente falta? Mas só o rosto de Fátima aparece, sorridente, e a sensação de que precisa se aproximar mais, mais perto, agora. Só um pouco.

Dizem por aí que quando gostamos de algo de cara, nos remete a uma primeira experiência de algo parecido com satisfação. Diana pensa que talvez o cheiro de Fátima seja um pouco como achar algo que estava há muito perdido. Inebriante e familiar. É de Fátima, e de repente parece tão ridiculamente ela que Diana não entende como pode ser tão dela mesma, simultaneamente. Algo no meio entre elas duas, em Fátima mas que volta e aponta para algo seu.

Diana balança a cabeça, olhando para as unhas dos pés pintadas de azul, procurando qualquer coisa que a lembre de que é casada.

Não é?

Além disso, a conversa com Hugo, aparentemente simples e quase cômica, não sai de sua cabeça. Que há de se querer da melhor amiga além da companhia? Mas ela percebe agora, a cada momento e passo e sentido que quer. O nariz enfiado no pescoço de Fátima, os cabelos dela batendo em suas coxas, a sensação fugaz de um toque que seja mais do que mera gentileza. Intenção. Desejo.

Cheiro.

"Você trocou de perfume?" Pergunta, a emoção completamente escondida, exceto pelas unhas fincadas nas palmas da mão. Ela ri, indiferente. A ideia de que a amiga descubra seu segredo a assusta completamente, mas a perspectiva de nunca tê-la parece pior.

Diana se sente uma treinadora de algum esporte estudando uma tática de ataque que consiste em jogar na defensiva, com cada passo em campo milimetricamente calculado. Ela parece não querer nada demais com cada pergunta e insinuação. Na verdade, ela quer tudo.

A dúvida é o que a apavora. Será que ela quer sozinha?

"Na verdade, comecei a usar agora" A resposta de Fátima é um pouco tímida "O Robson não gosta que eu use nenhum perfume, ele diz que meu cheiro dá alergia nele" Diana se apressa em negar com a cabeça, incrédula "É muito forte? Você também tem alergia? Porque eu posso ir ali no banheiro e..."

"Fátima" ela interrompe, segurando os dois pulsos da pianista "Você está muito cheirosa".

Se você fosse minha, eu nunca ia me cansar desse cheiro. Quer completar a fala, mas tudo é muito novo e muito arriscado.

Fátima ri encarando o chão, e de alguma maneira ainda parece acreditar que todo elogio que Diana - de bom grado - a dirige vem de um lugar de pena.

A única pena que Diana sentiria de Fátima é pelo susto que levaria caso pudesse entrar em sua mente e ter acesso pelo menos por um segundo a todas as cenas que ela tem imaginado envolvendo a outra mulher. O piano definitivamente está lá, mas sua utilização e a quantidade de espaço e roupas entre as duas com certeza fariam Fátima sair correndo de volta para o seu mundo heterossexual e normativo. Só porque seu marido não a tratava como ela merecia, não significava que automaticamente se lançaria nos braços de Diana na primeira oportunidade. A vida não seria tão boa com ela.

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