tato

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Oie, gente!

Último capítulo dessa história e queiramos agradecer por terem acompanhado mesmo não tendo exatamente um plot além delas sendo boiolas - vamo combinar que a gente amaaaa.

Esperamos que vocês gostem! E tirem as crianças da sala para esse, em!

Beijos!!!

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Muitas memórias de Fátima são da negação, de não poder tocar, viver, apreciar o que está ali, tão perto, quase seu. Ela se lembra de cada um desses momentos como se fossem marcas em sua pele, cicatrizes tão grandes que ainda doem quando voltam ao seu pensamento.

"Fátima, não toca nas coisas da sua mãe" A voz do pai é firme, como sempre foi. Ela tem cinco anos e os adultos são todos muito grandes e muito sérios "Esse piano é super caro. Se você quiser, no seu aniversário compramos um mais simples para você".

O que é injusto, porque ela quer o grande. Ela quer poder ouvir as teclas quando finalmente aprender aquela música que tem ensaiado tanto.

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"Vôlei?" Sua mãe nunca foi afetuosa. O amor entre elas circula de outras maneiras. No piano, quando ensina Fátima uma nova partitura. Na escola, quando a parabeniza pelas notas boas. Em casa, quando mantém as boas maneiras "Minha filha, suas mãos são muito delicadas para isso. Você não pode arriscar."

"Mas mãe, todas as meninas da oitava série estão entrando para o time."

"Bom, você não é como elas, Fátima" O tom doce também destrói, demarca a diferença com relação às colegas. Sempre olhar, nunca participar. Tinha que poupar os dedos de pianista, as unhas sempre pintadas de tons claros e as mãos bem hidratadas.

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"O Canadá é logo ali, você vai ver. Não tem pra que essa choradeira toda"

Fátima sabe bem disso, mesmo antes da mãe frisar. Pensa na oportunidade de finalmente poder viver mais, conhecer pessoas interessantes. Sair da redoma que é colocada em casa, como se fosse feita de porcelana.

O aeroporto está relativamente vazio. Como sempre, os pais insistiram que ela devia chegar cinco horas antes do embarque, ser a primeira da fila, checar todos os documentos mil vezes.

Ela tem vinte anos e está com os braços envoltos no tronco do pai há alguns minutos. A mãe odeia contato físico. O máximo que consegue arrancar dela é um abraço rápido, uma mão na bochecha e um se cuida.

Quatro meses depois, Fátima atende o telefone e o pai está chorando e falando de um acidente de carro. Foi muito rápido, disseram que sua mãe tentou proteger o rosto com as mãos mas o impacto foi fatal.

Fátima se arrepende amargamente de não ter obrigado a mãe a abraçá-la com mais força.

Assim como todas as outras coisas, ela vê como em um caleidoscópio, a imagem inalterada de Robson parado bem na sua frente.

"Você não merece isso." E bate no próprio peito.

E como ela não se sente merecedora de nada, nunca. Nem agora, nem antes. Um toque oco. Você não aprende, não é?

As coisas bonitas são feitas para serem apreciadas. Mas não merecem ser tocadas por ela. Robson entra em sua vida e corta ainda mais: o piano agora também é proibido. Caso queira tocar, precisa se esforçar, fazer manobras dentro de casa e correr contra o tempo. É como um fantasma, escondendo-se no porão para que o morador da propriedade não lembre de sua existência.

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