Sombras do Desejo - Eduarda Araujo

CAPÍTULO 1

A Chegada em Thornewood

Raily Nightshade

Por mais que a cidade tenha cara de assombrada, algo me fazia querer conhecê-la, entrar em cada rua, cada beco, cada cantinho. Muitas pessoas reclamaram sobre Thornewood; dizem que é a cidade do horror, onde só aqui acontecem os piores assassinatos. Em apenas um ano, morreram mais de duas mil pessoas. Em somente um ano! Mas o que mais me intriga em querer morar nessa cidade é a possível paz que terei. Talvez eu esteja apenas enlouquecendo e provocando a morte, mas foda-se, só quero paz.
Dirijo o meu pequeno Chevrolet Impala preto. Ele foi passado de geração a geração, até finalmente chegar a mim. Papai me deu o carro antes de falecer. Logo após a morte de papai, mamãe também faleceu, levando com ela toda a luz que iluminava a velha cidade onde morávamos. Velaris era uma cidade grande, com cerca de cinquenta mil habitantes. Não posso dizer que era uma cidade tranquila; afinal, nenhum lugar é seguro.
Nenhum lugar é seguro...
Voltando à história de Thornewood, a cidade ficou conhecida por sempre estar chovendo. Era raro ver um raio de sol dentre as nuvens que cobriam o céu azul, deixando-o escuro como a noite.
Escuro até demais.
Não sou o tipo de mulher que tem medo de tudo ou o tipo de mulher que queria um homem forte, bonito e que transasse bem. Não que eu não queira ter um amor recíproco, mas, depois de tantas decepções nesta vida tão entediante, é difícil se apaixonar por alguém novamente. Passei por tanta dificuldade no meu passado que não estou disponível para tentar novamente.
Sigo o caminho de pedras da rua escura e desolada de Thornewood. Não havia ninguém, nem um simples rato para dar um sinal de vida. Todo esse silêncio faz meu estômago revirar, pensando em inúmeras coisas que poderiam acontecer comigo.
Acalme-se Raily, não é hora de ficar imaginando. Digo para mim mesma após ter um terrível pensamento.
Thornewood era uma cidade corrupta; o governo escondia das pessoas os crimes que aconteciam na cidade, até mesmo os crimes das piores espécies. O motivo pelo qual o governo age assim não se sabe, mas não há provas para incriminar o governo, então a população finge não enxergar o que acontece diante de seus olhos.
Chego ao pequeno condomínio. Suas paredes estão rachadas e algumas janelas quebradas. Bem no topo, está escrito em um letreiro com luzes vermelhas em volta: "Pousada Dangerfils". A pousada parecia velha e descuidada, localizada no sul da pequena cidade, onde os piores crimes eram cometidos.
Devem estar se perguntando o que eu vi fazer nesse inferno. Estou desfiando a morte.
Paro o meu Chevrolet na entrada da pousada, onde posso ter uma vista mais sombria do lugar. Houve apenas um caso de assassinato na pousada. O caso nunca foi resolvido; ou seja, o assassino pode ser o meu vizinho ou até mesmo o dono da pousada, Senhor Flanger.
Pego as minhas malas e tranco o meu carro. À frente da pousada, há uma grande porta de madeira já destruída pelos cupins.
Giro a maçaneta, mas acabo saindo frustrada pela tentativa. A porta estava trancada. Olho para o relógio e vejo que é uma e quarenta e cinco da madrugada. Obviamente, não iria ter ninguém acordado no momento.
-- Não seja tão burra, Ray! -- digo para mim mesma, lutando contra os pensamentos sombrios que circulavam na minha mente.
Pelo jeito, terei que dormir aqui fora.
Pego a minha bagagem e a coloco dentro do carro novamente, entro e ligo o ar-condicionado, deixando-o um pouco mais quente do que já estava ontem. O frio que estava fazendo não era normal.
Talvez fosse só o frio que exalava dos cadáveres espalhados pela cidade.
Encosto a minha cabeça no vidro do carro, evitando pensar nessas coisas que só deixariam a minha mente mais poluída e tenebrosa. Observo cada espaço do lugar, cada cantinho, cada pichação nas paredes da pousada. Por um momento, acho ter visto uma pessoa olhando para mim, em meio à neblina de um beco que ficava de frente para a pousada. Fecho os meus olhos com força para olhar novamente e a vejo de novo. Ele me observava, mas não movia um dedo em minha direção.
Consigo escutar os meus batimentos acelerando, a minha respiração começando a ficar ofegante e um medo se espalhando por cada veia do meu corpo, cada músculo. O rosto em meio às neblinas desaparece, deixando apenas um ar tenebroso no ambiente.
-- Que porra foi essa!? Caralho! -- digo, apertando o cinto e ligando o carro. Que se foda! Eu vou é para o centro da cidade, vou ficar lá até o amanhecer. Lá, pelo menos, deve ser movimentado.
Dirijo até o centro. Estaciono o carro em um lugar aleatório. Olhando em volta, vejo que parei de frente para uma livraria. Na porta estava escrito "Closed" e, do lado, um cartaz escrito "Estamos contratando". Já vejo uma ótima oportunidade para começar a minha vida em Thornewood.
Crio coragem e saio do carro. A brisa forte e fria bate em meu rosto, fazendo com que meus cabelos escuros como o céu voem. Caminho até o papel e puxo o meu celular para fora. Vou tirar uma foto do cartaz para que, assim que eu chegar na pousada, possa ligar para a livraria.
Click, click, click.
O flash fazia uma imagem brilhar contra o vidro da loja, podendo ver novamente um rosto nas neblinas. Viro-me assustada, dando um grito.
O rosto dá um passo à frente, revelando seu porte e sua altura. Ele era alto como um gigante, poderia ter 1,89 de altura. Não era possível ver seu rosto, apenas uma sombra do seu corpo. A neblina o ajudava a se esconder de mim.
-- Olá -- Junto todas as minhas forças e tento chamar quem está no meio das neblinas, mas, infelizmente, não tenho nenhuma resposta.
-- Tudo bem? Precisa de ajuda? Está perdido? -- Tento novamente, mas tenho como resposta a brisa fria batendo.
O homem desaparece novamente, mas deixa um presente assustador no chão. Aproximo-me mais só para ter certeza do que estou vendo. Uma trilha de sentimentos se espalha pelo meu corpo; era medo misturado com nojo. O homem havia deixado um gato morto no chão.