O medo começou a se transformar em uma adrenalina turva, misturando-se à curiosidade que havia se instalado dentro de mim. O que ele queria? E o que isso significava para mim? Eu estava perdida, mas, ao mesmo tempo, sentia que estava prestes a descobrir algo muito mais profundo do que apenas o terror que ele representava.
Ele ficou em silêncio por um momento, apenas me observando de cima, imóvel como uma estátua sombria. A máscara de cabra parecia viva em contraste com a quietude do seu corpo, os chifres projetando sombras distorcidas ao meu redor. Então, sem aviso, ele ergueu lentamente as mãos à cabeça.
Meus olhos se arregalaram quando percebi o que ele estava prestes a fazer. Com um movimento suave, quase ritualístico, ele retirou a máscara de cabra preta, expondo apenas o contorno de sua face oculta nas sombras. Meu coração disparou, a adrenalina explodindo em minhas veias.
Com um gesto casual, ele jogou a máscara para mim. Ela girou no ar, seus chifres brilhando na luz fraca da lua, antes de cair pesadamente aos meus pés no fundo do buraco. O som oco da máscara batendo no chão ressoou na escuridão, como um martelo cravando o inevitável.
Por um momento, fiquei paralisada, olhando para a máscara. Ela parecia mais ameaçadora agora, tão perto de mim, e o peso simbólico dela era sufocante. Levantei os olhos lentamente, e ele ainda estava lá, me observando, sem dizer nada. Era como se aquele objeto, agora no meu alcance, fosse um convite, ou talvez uma maldição, esperando para ser aceita.
--Ela pertence a você agora. Sua voz soou baixa, reverberando pela escuridão. --Veja como fica... ela guarda segredos que você nem imagina.
Fiquei encarando a máscara caída aos meus pés, sem saber o que fazer. O peso da sua presença, mesmo desprendida do homem, ainda me oprimia. Eu a encarei, hesitante em tocá-la. Então, ouvi o som de algo se arrastando acima de mim, e quando ergui o olhar, vi sua mão estendida, os dedos longos e envoltos por sombras.
Minha mente gritou para não confiar, mas meu corpo, exausto e dolorido, tinha outras intenções. Sem dizer uma palavra, alcancei sua mão. O toque dele era frio, quase gélido, e ainda assim, forte. Ele me puxou com uma facilidade que parecia impossível, como se meu peso não fosse nada. A terra escorregava sob meus pés enquanto ele me levantava, e, em questão de segundos, eu estava fora do buraco, de volta à superfície.
O medo ainda martelava em meu peito, mas a curiosidade havia crescido, se misturando ao pavor. Mesmo agora, fora do buraco, ainda não conseguia ver seu rosto. A escuridão parecia envolvê-lo como uma sombra viva, ocultando qualquer traço de identidade. Ele se mantinha à distância, a face sempre coberta pelas sombras densas, como se a noite fosse sua cúmplice.
Tentei dar um passo para frente, tentando ver mais, mas algo me impediu. Ele simplesmente recuou, mantendo-se sempre fora do alcance da luz fraca da lua.
--Agora você tem três segundos para correr... -- Ele sussurrou, a voz tão baixa que parecia um sibilo saído das trevas.
--Porque se eu te pegar, vou enfiar essa faca bem fundo na sua barriga...-- Ele ergueu a lâmina, o metal reluzindo na luz fraca, como um predador à espreita.
--E vou assistir enquanto você se contorce, morrendo lentamente, até o último suspiro escapar de você.
O ar ao meu redor se tornou insuportavelmente pesado, o tempo parecia congelar. Um calafrio percorreu minha espinha, cada fibra do meu corpo gritava para correr. Mas eu não conseguia me mexer, paralisada pelo medo que apertava meu peito.
--Um...
A primeira contagem caiu como uma sentença. Ele me soltou de repente, e o instinto tomou conta de mim. Sem pensar, virei-me e disparei pela floresta, tropeçando e quase caindo com a pressa desesperada. O som dos meus passos ecoava entre as árvores, abafados pelo farfalhar das folhas secas. Minha respiração vinha em arfar agoniado.
--Dois...
Eu podia ouvi-lo atrás de mim, seus passos firmes, calmos, como se ele soubesse que o tempo estava a seu favor. Cada som que ele fazia parecia mais perto, cada estalo de galho me dizia que ele estava logo atrás.
Eu corri o mais rápido que pude, o coração martelando em meu peito, a adrenalina queimando em minhas veias, mas a certeza de que ele estava chegando era implacável. A floresta se fechava ao meu redor, as sombras dançando e distorcendo-se, me cercando como se fizessem parte do jogo macabro que ele estava conduzindo.
--Três.
O som da contagem ecoava em minha mente como um sino de alerta, cada número cortando a escuridão. A adrenalina tomou conta do meu corpo, forçando-me a correr mais rápido, a empurrar os limites do que achava possível. Eu me sentia como uma presa fugindo de um predador, e o medo se misturava com uma excitação irracional, uma adrenalina pura que pulsava em minhas veias.
As árvores se tornavam borrões ao meu lado, e eu mal conseguia distinguir o caminho. O chão sob meus pés parecia instável, cada passo era uma luta para manter o equilíbrio, enquanto meu coração batia descontroladamente, como se quisesse escapar do meu peito. O vento uivava ao meu redor, levando consigo os sussurros da floresta, cada barulho agora amplificado em um coro aterrador.
Mas então, em um momento de desatenção, meu pé encontrou uma raiz exposta, e eu tropecei. O chão se abriu sob mim novamente, e eu caí, meu corpo batendo contra a terra dura. A dor explodiu em meu lado, e lágrimas brotaram dos meus olhos enquanto eu tentava recuperar o fôlego. O pavor e a frustração se misturavam em um nó apertado no meu peito.
Caí de joelhos, a respiração entrecortada, e o desespero começou a me consumir. Eu me vi sozinha no chão, a sensação de impotência tomando conta de mim. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com a sujeira da floresta enquanto eu lutava para conter o desespero. O que eu havia feito? Onde ele estava? A escuridão parecia se fechar ao meu redor, e a solidão se tornava opressiva.
Então, com um esforço tremendo, olhei para trás, esperando ver aquela silhueta maligna me perseguindo. Mas, para minha surpresa, não havia ninguém. A floresta estava em silêncio absoluto, as sombras imutáveis e inofensivas. O som da minha própria respiração ecoava em meus ouvidos, e, por um instante, a realidade se desdobrou. Estava sozinha, a presença aterradora havia desaparecido.
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Sombras do Desejo - Eduarda Araujo
Roman d'amour"Sombras do Desejo" é um dark romance intenso que explora a conexão proibida entre Raily, uma jovem marcada por traumas, e Jasper, um assassino implacável. Em meio a uma cidade corrupta, o relacionamento dos dois desafia o limite entre amor e perigo...