Ecos de um coração

Capítulo 19: Recaídas.

Os dias que se seguiram à decisão de Jennie de mudar foram mais leves. Ela se dedicou à terapia e começou a ler mais sobre autoconfiança, amor-próprio e relacionamentos. Lisa, por outro lado, se sentia aliviada ao ver Jennie tão comprometida, mas, no fundo, ainda estava em alerta. Sabia que, embora Jennie quisesse mudar, o processo seria longo e cheio de desafios.

Uma noite, enquanto Jennie mexia no celular, viu uma foto de Lisa publicada por um de seus amigos, e algo no fundo de seu peito começou a incomodar. A foto era inocente — Lisa estava sorrindo ao lado de um grupo de amigos, mas havia uma garota ao lado dela que Jennie nunca tinha visto antes. Aquele incômodo começou a crescer rapidamente dentro de Jennie, e, antes que pudesse controlar, seus pensamentos começaram a correr em direção ao ciúme que ela tanto estava tentando evitar.

Jennie tentou ignorar, mas aquela sensação de desconforto foi se acumulando. Ela sabia que, no passado, já teria falado algo sem pensar, mas agora queria lidar com a situação de forma diferente.

— Lisa, posso te perguntar uma coisa? — Jennie disse, tentando manter a calma.

Lisa levantou os olhos do livro que estava lendo no sofá.

— Claro, Jennie, o que foi?

Jennie mostrou a foto no celular.

— Quem é essa garota ao seu lado?

Lisa franziu as sobrancelhas, surpresa pela pergunta, mas respondeu de maneira tranquila.

— Ah, essa é a Clara. Ela é amiga do Jake, você sabe, aquele cara do meu trabalho. Estávamos em um almoço de equipe. Por quê?

Jennie respirou fundo, tentando não deixar seus sentimentos transbordarem. Ela sabia que não havia motivo real para sentir ciúmes, mas não conseguia evitar a insegurança que surgia.

— Eu sei que é bobo, mas… eu só me sinto desconfortável. Sei que estou tentando mudar, mas é difícil controlar esses sentimentos.

Lisa fechou o livro e se aproximou de Jennie, sentando-se ao seu lado.

— Jennie, você sabe que eu te amo, certo? Não há ninguém mais importante para mim. Eu entendo que isso é difícil para você, mas eu preciso que confie em mim — disse Lisa, pegando a mão de Jennie.

Jennie olhou para Lisa, seus olhos refletindo a luta interna que travava. Ela queria confiar, queria deixar de lado aquela sensação, mas ainda era uma batalha.

— Eu confio em você, Lisa. Eu só não confio em mim mesma às vezes — Jennie confessou, sua voz baixa, quase um sussurro.

Lisa suspirou, puxando Jennie para um abraço.

— Vamos superar isso juntas, Jennie. Eu estou aqui com você.

Mesmo com todo o apoio de Lisa, as recaídas de Jennie eram frequentes. Houve momentos em que Jennie se pegava espiando o celular de Lisa quando ela não estava por perto, e cada vez que fazia isso, sentia-se culpada, como se estivesse traindo a confiança que Lisa depositava nela.

Uma dessas recaídas aconteceu uma semana depois, quando Lisa saiu com os amigos para comemorar um aniversário. Jennie ficou em casa, tentando se distrair com um filme, mas não conseguia afastar a ansiedade de não saber o que estava acontecendo. Sua mente viajava para todos os piores cenários possíveis. E, sem pensar, ela acabou mandando uma mensagem para Lisa:

Jennie: "Você já está voltando? Está tudo bem?"

Lisa, que ainda estava na festa, respondeu de maneira educada:

Lisa: "Sim, está tudo bem. Ainda estamos aqui, mas não vou demorar muito. Pode ficar tranquila."

Jennie suspirou ao ler a mensagem, mas ainda sentia aquele incômodo no peito. Quando Lisa chegou em casa, ela percebeu que algo não estava certo. Jennie estava mais quieta do que o normal.

— Jennie, está tudo bem? — Lisa perguntou, se sentando ao lado dela no sofá.

Jennie não conseguiu segurar mais. As emoções que estava tentando suprimir vieram à tona.

— Eu sei que você disse para confiar, e eu estou tentando, mas é tão difícil! — Jennie desabafou, com lágrimas escorrendo. — Eu tento não sentir ciúmes, mas parece que quanto mais eu tento, mais ele me consome.

Lisa olhou para Jennie com um misto de preocupação e exaustão. Ela sabia que Jennie estava se esforçando, mas também sentia o peso dessa pressão constante sobre o relacionamento.

— Jennie, eu te amo, e eu estou disposta a estar aqui enquanto você passa por isso. Mas eu preciso que você também confie no nosso amor. Eu não posso viver provando meu amor para você o tempo todo. Isso é algo que você precisa acreditar — Lisa disse, sua voz firme, mas ainda assim carinhosa.

Jennie olhou para Lisa, sabendo que ela estava certa. Mas era tão difícil. Ela precisava encontrar uma forma de controlar seus próprios medos antes que eles destruíssem tudo.

Lisa deu um beijo suave na testa de Jennie.

— Nós vamos conseguir, Jennie. Mas você precisa acreditar nisso também.